quarta-feira, 24 de junho de 2009

Considerações prévias

Desejava ardentemente que não me exigissem dar opiniões sobre assuntos de carácter político, dado que, logo vêm à baila as posições partidárias e depois é só um pequeno salto: 1917, bolcheviques, lenines, stalines e gulags.
Para fazer críticas ao capitalismo não posso falar, por exemplo, das 5 mil greves pela redução da jornada de trabalho para 8 horas nos EUA em 1886 de que resultaram os assassinatos dos “Mártires de Chicago”.
Todavia tenho que ouvir e validar todos os argumentos baseados em episódios de há cerca de cem anos na Rússia pós czarista.
Inclusivamente tenho que ler considerações a respeito do socialismo científico, em que, embora reconhecendo-lhe o carácter dialéctico, se ignora o factor tempo e todas as modificações que lhe estão associadas, para o julgar á luz dos condicionalismos dos primeiros anos do século XX.
Se por acaso faço uma crítica ao capitalismo em que os EUA estejam envolvidos, há sempre alguém que me vem lembrar que apesar dos meus argumentos uso PC’s e Nikes, como se ao usá-los tivesse perdido toda a razão.
Há ainda quem advogue que o verdadeiro comunista deve viver debaixo da ponte com os filhos. Admirados?
Que significado têm as críticas feitas aos comunistas confessos só pelo facto de terem casa própria ou automóvel. “Há comunistas que são autênticos nababos”, foi uma frase já aqui exposta.

Entendendo que o verdadeiro comunista deve, por uma questão de coerência, ser pobre, exigisse-lhe que se desfaça dos seus bens para lhe reconhecer a razão?
Claro que não. Apenas pretendem dar a entender que os comunistas têm como objectivo formar sociedades de famintos, com o intuito de defenderem alguns privilégios que possuem e temem perder.

Acontece que Jesus Cristo, que por vezes alguém alvitra ter sido o primeiro comunista, efectivamente, não foi.
Pensou, certamente, que o seu exemplo, poderia modificar a sociedade, tornando-a mais solidária, com uma repartição mais equilibrada da riqueza, mas, havia uma promessa: a conquista do Reino dos Céus para quem aderisse á sua proposta.
A “tirada” “É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no reino de Deus”, incitava e convidava a comportamentos de solidariedade e contenção na exploração dos mais fracos.

Entretanto passaram 2000 anos.
Qual foi o resultado desse sacrifício? Dessa crucificação?
Melhorou a sociedade alguma coisa com exemplos como o de Francisco de Assis e outros mártires que acreditando na salvação eterna se despojaram dos seus bens?

Acontece que o ideal comunista não é ter um bilhete para entrar no Céu.
Os comunistas anseiam por uma sociedade mais justa, mais equilibrada, onde todos tenham direito ás condições básicas para uma vida digna.
Se, para que isso aconteça, é preciso reformar mentalidades e criar um homem novo, não é certamente com a promessa de vida eterna e da prática da “caridadezinha”.

Estas considerações destinam-se a justificar a minha relutância em entrar pelo caminho da provocação fácil, do argumento ligeiro e descabido, do “toma lá que já quinaste”.

Senti necessidade de expor este rol de razões para que ao falar de um assunto específico, como é o caso da Autoeuropa, não fique sujeito ás atoardas e bocas do costume.



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