sábado, 6 de dezembro de 2014

Fontes

 
Antigamente cada povoação tinha uma fonte onde todos iam beber. Havia uns bebedouros ao lado das fontes para onde permanentemente corria a água das bicas. Era ali que à tardinha se dessedentavam as alimárias, terminado o trabalho do arado e da nora. Recordo que as mulas não precisavam de ser guiadas até aos tanques, sabiam o caminho de cor, mas ali chegadas ficavam aguardando que o seu dono assobiasse. Por isso, ainda hoje, quando alguém nos quer tomar por parvos retorquimos:... Não preciso que me assobiem para beber água.
Um dia chegou a água canalizada e as fontes foram fenecendo à medida que a rede de distribuição ia crescendo. Hoje, ela, a água, custa dinheiro quando vem pelos canos e serve para ser taxada com um valor indexado ao consumo de cerca de 100%. Quando engarrafada, por uma qualquer companhia do aquoso ramo, custa quase tanto, quando não mais, do que uma cervejola. Ainda hoje não compreendo razão porque o investidor Cintra trocou as águas pelas cervejas, embora tenha uma desconfiança. Ficou-me arreigada por causa do Vale da Telha… mas isso são águas passadas.
Ouvi umas bocas, aqui e ali, que os cérebros “bruxelianos” ( não confundir com bruxuleantes) já estudam as táticas para determinar a privatização de todas as águas, incluindo a água da chuva. Como já tenho 78 bem contados até nem me importo que me taxem o ar que respiro. Se isso acontecer sempre quero ver se, para uma insuficiência respiratória de 40% me fazem um desconto na respetiva taxa.
Perdi-me… as fontes vinham a propósito de…? Ah, já sei, a propósito das fontes de informação.
Hoje, ninguém tem dúvidas que existem mais fontes de informação do que fontes de água.
Ele é as televisões, as rádios, os jornais, (da internet nem se fala), todavia há quem use e abuse de se abastecer sempre na mesma, como é o caso de o “Observador” em que para citar um exemplo o altamente credenciado colunista Rui Ramos faz uma acérrima crítica a António Costa por tentar demarcar-se do caso Sócrates, e, não fazendo referência a quem o quer amarrar, marra também!
Está no seu direito. Sirva-se à vontade. Não faça cerimónia. Mas não faça dos outros parvos!

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Miserável Balanço do 40º Aniversário do 25 de Abril


Antes de Abril votei apenas em Humberto Delgado, e não foi por nada não, foi só porque ele afirmou que demitiria Salazar se ganhasse as eleições. Depois, votada que foi a nova constituição, nunca enfiei na urna nenhum boletim com cruzinhas em qualquer dos partidos, que, ardilosamente, alguém diz pertencerem ao arco do governo.
Os meus votos foram sempre para os partidos cujos programas se tornaram absolutamente inviáveis após a adesão à União Europeia, donde os países mais desenvolvidos nos acenavam com a bandeira da convergência. Vemos hoje, que essa convergência tinha como objetivo principal a uniformização duma política económica que nos obrigasse a ficar a bordo de um barco conduzido por timoneiros pagos por esses países. Não há botes salva-vidas e não se vê terra no horizonte.

O único dia de paz e concórdia que aconteceu desde então foi o 1º de maio de 1974. Poder-se-ia pensar que após o 25 de Novembro, encontrado que foi um novo rumo, os mesmos partidos que hoje pertencem ao tal arco do governo, alternando-se, com maiorias ou sem maiorias, coligados ou não coligados com um partido charneira, nos tivessem conduzido para águas calmas, ou mesmo para um porto seguro.

Ao invés, passaram a desancar-se uns aos outros para tomar o poder, apesar de se lamentarem aos súbditos, que o serviço público a que se candidatam, exige um enorme sacrifício da sua parte. Até seria se, logo a seguir à respetivas tomadas de posse, não mostrassem das mais diversa e vergonhosas maneiras que privilegiam o interesse pessoal em detrimento do interesse púbico.

Durante os primeiros anos da 3ª República justificaram as dificuldades com o PREC e o Vasco Gonçalves. Quando começou a ser tão ridículo acusar estes como acusar o Afonso Henriques dos males que nos afligem, começaram a desculpar-se uns com os outros, mas iniciado o mandato logo se queixam de encontrar o país pior do que julgavam, como se os seus deputados, enquanto oposição, não tivessem o poder e a capacidade para saber o estado do país em qualquer momento.
Reza o Livro Fundamental: “Para além da função primordial de representação, compete à Assembleia da República assegurar a aprovação das leis fundamentais da República e a vigilância pelo cumprimento da Constituição, das leis e dos atos do Governo e da Administração.”


Tudo serve para se morderem e esgatanharem. Quando um partidário alheio comete uma falcatrua, logo o filam seguramente e durante dias ou meses, conforme a importância do crime, não largam a presa. E, alternando-se ciclo após ciclo há tantos anos, ainda não tiveram o cuidado de fazer um registo oficial que esclarecesse os súbditos de quem vai à frente do campeonato da pouca-vergonha.

Mas já existem tentativas para arranjar outros cordeiros que mesmo bebendo água a jusante possam ser culpados desta infindável crise em que vivemos. Se aquilo que uma famosa historiadora escreveu fizesse escola, então é que seria fácil cumprir o conselho de entendimento que Cavaco vem dando aos do tal arco do governo. Diz ela que os partidos à esquerda é que impedem que PSD e PS se entendam, o que me leva a pensar que talvez exterminando-os, estes pudessem fazer um acordo tão profundo que se transformassem num partido único. Nesse dia Cavaco ficaria tão sossegado como os velhos PR’s de antanho, limitando-se à nobre missão de cortar fitas.
E como prova de que a questão colocada pela historiadora faz sentido aí vem hoje o líder da charneira avisar que dado o facto de o PS estar a guinar à esquerda, a Coligação deve ter uma estratégia eleitoral mais centrada e moderada.
Ou seja, afinal existe uma esquerda que não governa mas incomoda. É uma esquerda moderadora que incomoda e assarapanta os partidos do atual governo e ainda serve de encosto ao PS para tentar arrebanhar mais alguns votos.

Puff! Reparai que é uma estratégia eleitoral, e não uma estratégia de governação!
Enganados que sejam os súbditos do reino, logo serão esquecidas as moderações, o centralismo prometido virará direitismo e entraremos novamente na persistente austeridade que, como de costume custará mais a uns do que a outros.

domingo, 30 de novembro de 2014

Antípodas


Estou a pensar promover um encontro entre Larry Page  e Muhammad Yunus.
Creio que das suas teorias sobre o trabalho poderia resultar uma filosofia económica que resolvesse os graves problemas no mundo. O primeiro é natural dos EUA e o segundo é de Bangladesh. Um é diretor executivo do Google o outro é o pai do microcrédito.
Larry acha que a maioria das pessoas quer trabalhar mas gostaria de trabalhar menos, advogando a ideia da mão-de-obra em “part time”. Muhammad diz que a ideia de procurar emprego está errada e conduz a outro tipo de escravatura.
O americano incentiva os seus empregados a levar trabalho para casa, o bangladeshiano entende que as pessoas devem criar o seu próprio emprego.  
Sabendo que vivem quase em locais diametralmente opostos, pois quando Larry olha para o relógio são 9 horas, para Muhammad são 20, será que conseguirão entender-se?

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Similitudes

Tomo a liberdade de plantar aqui o texto e o elucidativo boneco que o ilustra, recolhido do blog brasileiro “Pragmatismo”.
Se ele não contribuir para elucidar quem, a oriente e separado pelo Atlântico, usa os mesmos princípios e a mesma linguagem, talvez, pelo menos, os faça corar de vergonha.
Existe, todavia uma diferença. No Brasil usam estes princípios e esta linguagem para desacreditar e derru...bar um governo que defende e promove um estado social, por cá, usam-nos para defender as políticas antissociais do governo.
------------------------------------------------------------------------------
 
- Petralha! Petralha!
– Desculpe, é comigo?
- Petralha imundo! Desgraçado! Corrupto! Boçal! Seu idiota intolerante!
– Acho que você está me confundindo. Votei no Eduardo Jorge no primeiro turno e no Aécio, no segundo.
- Vermelho é a cor dos comunistas do PT!
– Mas eu votei no Aécio!
- Comunista assassino! Defensor de ideologia genocida!
– Meu amigo, nem eu sou do PT, nem vermelho é monopólio de comunista, nem sou comunista, nem o PT é comunista. Aliás, nem o PT é de esquerda mais.
- Vermelho é comunista!
– Claro, Papai Noel veste vermelho por conta de uma marca de refrigerantes que está tramando a revolução.
- Você tá num país livre! Cala a boca e volta pra Cuba, seu cretino!
– Voltar como se eu não vim de lá?
- Vai morar na Venezuela, na Coreia do Norte.
– Não consigo nem tirar um final de semana para descer para Mongaguá, que dirá Venezuela…
- Tenho ódio de vocês! Se você gosta de pobre, por que não viver com eles? Mas o circo está fechando! Seus amigos vão todos parar na Papuda!
– Não, meus amigos vão todos lá para a Vila Madalena, hoje à noite, porque tem roda de samba no Ó do Borogodó.
- Então, você aprova o mensalão!
– Não, aprovo o samba.
- Tô cansado de tudo isso! Tô cansado de vocês afundarem o Brasil com o dinheiro dos meus impostos!
– Meu amigo, acho que você não está bem. Você tá ficando vermelho…
- Cala a boca! Vermelho é cor de comunista.
– Meu Deus…

sábado, 11 de outubro de 2014

Fotografias de família/o futebol

Eu não sou do Porto, do Sporting ou do Benfica. Sou adepto do Belenenses desde o tempo do Capela, Vasco, Feliciano e Serafim. Não entro em polémicas futebolisticas por uma questão de formação adquirida no seio do desporto amador e nem sequer me passa pela ideia entrar em discussões sobre o comportamento dos diretores, treinadores e claques, que de um modo geral pecam por muito facciosismo, contribuindo deste modo para o clima de violência nos estádios, que não poucas vezes acontece.
Por isso não deixo de criticar determinada postura e linguagem dos principais agentes do futebol, tenham eles a cor que tiverem e não aceito desculpas do género "ele é que me bateu primeiro", porque até nestes casos existem maneiras dignas de responder.
As declarações "brutocarvalhianas" que há dias inundou os telejornais (agentes alimentadores por excelência deste tipo de notícias) são absolutamente reveladoras do espírito desportivo que anima os sócios que o elegeram.
O Carvalho é um pacificador.
O Carvalho é o Gandi português do futebol.
O Carvalho é aquela máquina!

Força Carvalho dá cabo deles!
PS - Francamente, com estes exemplos de cidadania e urbanidade quem me manda a mim andar a meter as garrafas nos vidrões e os papeis nos papelões? Porque carga de água não inventam uns palermões?
 
 

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Oi, como vai você?


Hoje o Mercado ficou em casa. Envergonhado por não conseguir cumprir a sua missão reguladora de forma a deixar todos os súbditos satisfeitos, não foi dar o seu passeio matinal.
O Mercado é muito zeloso e como nos últimos tempos têm acontecido coisas que prejudicam a sua imagem de soberano todo-poderoso, que devia regular com determinação o equilíbrio económico do reino, anda com a autoestima pelas ruas da amargura.
Confiaram nele para manter a Economia saudável e, desesperado, receia não conseguir cumprir o seu eterno mandato.

Ele, o Mercado, fica completamente desnorteado quando acontecem distúrbios como este último da PT e da OI.
É desanimador ter que tomar certas decisões para manter o seu próprio equilíbrio, mas não havia outra solução e teve que dar ordens muito duras aos seus agentes no Terreno.
Mandou a OI dar 150.000 euros por mês, durante 3 anos ao agente Bava, porque ele durante a sua carreira de gestor das telecomunicações, apesar de já ter ganho 50 milhões de euros, provocou um terramoto económico.
Custou-lhe muito tomar esta decisão, mas não podia deixar sem castigo uma falta tão desmedida.

Ficou com pena do Bava por lhe ter agravado a pena com a proibição de gerir empresas de telecomunicações durante 3 anos.

Coitado do Bava! Como vai ele sobreviver?

quinta-feira, 2 de outubro de 2014

A LIBERDADE


Há muitos anos tive um canário preso numa gaiola. Trinava tão bem e tantas vezes durante o dia que me convenci que ele não tinha a noção de que estava preso, a não ser que tivesse a intenção de me agradecer a alpista que nunca lhe faltava no comedouro. Havia, pois, uma relação de mercado entre nós. Troca de géneros, é certo, que até o sal já foi moeda - eu alimentava-o e ele fornecia-me o seu alegre esvoaçar e o seu estridente trinar. Tinha-o recebido como prenda num dia de anos, devidamente engaiolado por um familiar que o comprara numa dessas lojas onde livremente se vendem trabalhadores de trinados, de chilreios e arrulhos. Também se vendem os que palram, mas são muito mais caros.
Um dia, em que o sol brilhava, céu sem nuvens e uma ligeira brisa ondulando a copa das árvores, resolvi fazer uma limpeza à gaiola, como aliás fazia com alguma regularidade para evitar que ele adoecesse com tricomonas. Saí com a gaiola pendurada no dedo para o quintal, onde, junto ao tanque da roupa, costumava proceder à limpeza da gaiola. Por qualquer razão, que ainda hoje não sei explicar, a gaiola escapou-se-me das mãos e caiu ao chão. A portinhola abriu-se e o meu rico canário saiu esvoaçando rente ao chão. A alguns metros encontrava-se o gato do vizinho que - tenho a certeza – já estava de boca aberta e zás… chamou-lhe um figo.
-------------------------------------------------------------------------
Ontem, o cão do meu vizinho saltou o muro e fugiu da sua prisão, onde tinha boa comida e era acarinhado. Claro que não estava preso com correntes, andava solto pelo quintal correndo atrás da passarada e abanando o rabo de contente. Quando, pressentindo que havia um mundo a explorar para além daqueles muros, optou pela liberdade e fugiu.
Dois dias depois foi encontrado pelo dono no canil onde se preparavam para o abater. Tinha sido atropelado por um carro, tinha a coluna partida e estava paralisado dos quartos traseiros. O dono ainda o carregou e levou ao veterinário onde foi radiografado e se confirmou a gravidade do seu estado. A eutanásia foi inevitável e depois… só ficaram as cinzas.
---------------------------------------------------------------------------
Quando o Malaquias foi despedido, porque a fábrica multinacional onde trabalhava perdeu uma fatia importante do mercado de panelas de pressão, o mundo desmoronou-se à sua volta. Poucos meses antes tinha sido aprovada uma lei que acabava com os subsídios de desemprego e não lhe dando o magro salário para ter feito algumas poupanças, encontrava-se numa situação de verdadeiro desespero.
Imediatamente começou à procura de trabalho, pois com mulher e filhos para sustentar, mais a amortização da casa, da água, da luz e do gás, tinha que conseguir um emprego em qualquer lado, o mai9s depressa possível, nem que fosse abaixo do salário mínimo. Entretanto começou a vender alguns pertences: primeiro foi a coleção de selos que tinha herdado pai, depois uma escrivaninha antiga que a mulher tinha trazido no dote, mais tarde vendeu a televisão, o baú da roupa, a mesa da cozinha… vendeu tudo aquilo que lhe quiseram comprar e quando deixou de poder assumir os compromissos, cortaram-lhe a água, depois a luz e o gás e por fim teve que entregar a casa ao banco.

A sua sorte foi ter encontrado, dois dias depois, um empresário agrícola que deu alojamento e alimentação aos quatro em troca de 12 horas de trabalho na quinta onde possuía enormes estufas de vários produtos hortícolas. Aceitou de imediato, pelo menos não iriam morrer de fome. É certo que ficou dececionado com o alojamento. Era um enorme barracão que tinha de compartilhar com mais duas famílias que já ali dormiam. O almoço não era mau: uma sopa de couves cozidas com feijão encarnado, um guisado de fressura de porco umas vezes com massa, outras com arroz e meia carcaça de pão de centeio. Meia gaiola era o vinho de que dispunha para as duas refeições. A mulher e os miúdos dessedentavam-se com água do poço, ali mesmo ao lado do alpendre/refeitório.
-----------------------------------------------------------------------------
O canário estava preso numa gaiola e quando adquiriu (embora acidentalmente) a liberdade enfiou-se na boca do gato.
O cão vivia entre muros de que um dia conseguiu libertar-se e foi atropelado mortalmente.
O Malaquias tem muito mais sorte. Alguém por ele, como o dono do canário e o dono do papagaio zelam pelo seu bem-estar. Por enquanto o Malaquias pode ir-se embora, pode fugir… mas para onde? Talvez não falte muito tempo para que o Malaquias seja perseguido pelos beleguins do patrão se resolver fugir com a família.
-----------------------------------------------------------------------------
O Zé do Canto é viúvo. Vive sozinho. Subsiste com a venda de tomates que planta no seu pequeno quintal.
Todos os dia aquela alminha passa a manhã e parte da tarde no mercado da vila… preso pelos tomates!

domingo, 24 de agosto de 2014

Reavivando a memória


Voltemos a 2013 quando o DN publicou um artigo sobre o estatuto remuneratório dos juízes do TC e diplomatas, quando o governo estava em plena campanha da convergência de salários e pensões dos trabalhadores privados e da função pública.
Volto a ler que os juízes auferem um subsídio de renda de casa de 750 euros, mesmo que tenham casa própria, e até, que no caso de um casal de juízes vivendo na mesma casa, cada um recebe o seu subsidiozinho, além de outras regalias como seja a de estarem isentos de descontos para a contribuição extraordinária de solidariedade (CES) que eles próprios aprovaram para os outros reformados. Leio, que até se aposentados por doença do foro psiquiátrico recebem a reforma por inteiro.

Ó Passos, pela alminha da tua avozinha, desconta, corta os salários e as pensões, aumenta os impostos e lança outros que a tua cabecinha sonhe enquanto estás de férias, ou que o teu vice te sussurre ao ouvido, mas não nos venhas adormecer com a justeza da convergência entre o setor público e privado e evita falar sobre uniformização de regalias.
Não te armes em Psêudolo!

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Não produza, não!

Quem costuma ir às grandes superfícies fazer compras para os gastos da casa e tiver o cuidado de ver a origem do que mete no carrinho, por certo já reparou que as bananas são equatorianas, as cebolas espanholas, as batatas francesas, os melões são marroquinos, as maçãs italianas, as laranja africânderes. Os cogumelos chegam da Holanda, as romãs da Turquia, os Pimentos do Uganda, os mirtilos do Chile, as nêsperas da Guatemala, os espargos do Peru e até os alhos chegam da China.
Também importamos médicos de Cuba.
Agora, já não falta muito, vamos ter Hospitais mexicanos.
E depois venham para cá dizer à gente que o défice é porque gastamos mais do que produzimos.

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Tática do "olha o passarinho"


Leio: “Universidades privadas com propinas em saldos. Privadas oferecem bolsas de mérito e procuram atrair alunos estrangeiros”

Oiço: Os reformados estrangeiros não precisam de pagar IRS em Portugal durante os seus primeiros 10 anos

“Desde o início de 2013, o Governo de Portugal permite a qualquer pessoa que queira estabelecer a sua residência fiscal habitual em Portugal, e que não tenha tido residência fiscal em Portugal nos últimos 5 anos, uma isenção fiscal pelo prazo de 10 anos, prazo esse que poderá ser prorrogado”. Mas onde é que eu já li isto?

Embotado pelos anos, os neurónios a finarem-se, como os cabelos da carola, onde já existe um “flyport” com bastante movimento, dei comigo a pensar (possivelmente com falhas graves) que não é preciso invadir os países a tiro e à bomba, basta criar dificuldades aos residentes naturais e facilitar a vida aos estrangeiros.

Sou reformado com 40 anos de descontos, nem a Badajoz fui comprar chocolates, todos os proventos do meu labor neste país foram canalizados para ter casa própria, e, todos os dias sou surpreendido com mudanças de escalão do IRS que me penalizam, com aumento do IMI que ultrapassa a renda de casa em que já morei e ainda com as malfadadas taxas moderadoras.  Dado que não previ esta situação quando estabeleci as minhas prioridades na vida e já não estando em idade de emendar a mão, sinto-me refém no meu próprio país.
Is to é apenas um desabafo.

Aviso: Se em vez de falarem, justificarem, desculparem ou explicarem os sucessivos desaires deste sistema, que montado num cavalo sem freio arrasa os mais elementares princípios da integridade, me vierem com a conversa de que ainda há muito socialismo no sistema ou que no tempo dos sovietes era muito pior, ou que o Chavez isto, o Putin e o Castro aquilo e até também a Dilma aqueloutro, prometo que não chamo nomes a ninguém porque sei que é a forma habitual que usam para esconder as doenças do sistema neoliberal.
Apenas vos vou mandar dar uma volta ao bilhar grande!

quinta-feira, 12 de junho de 2014

As teias do import/export

Desta vez dei-me ao trabalho de tomar algumas notas nas costas da lista de compras que levei para o supermercado. Como de costume começo na secção da fruta e das hortícolas, tendo sempre o cuidado de escolher produtos nacionais. Como de costume as batatas eram francesas e as cebolas espanholas pelo que decidi ir comprá-las mais tarde ao mercado. Olha as ameixas! Eram chilenas. E se eu comprasse um abacate, que já não como há tanto tempo? Eram do Peru. O maracujá veio da Colômbia e as bananas também. E pasme-se o melão e a melancia são de Marrocos.
Será que terei de ir a Almeirim para comprar um melão?
Foi quando me lembrei duma conversa, tida não sei onde, sobre a quota-parte de responsabilidade que cabe a cada cidadão dos 190 mil milhões da nossa dívida externa. Feitas as contas em cima do joelho cabe a cada português contribuir com 19 mil euros para ficarmos com o défice a zero.

Quando se fala de estatísticas vem sempre à baila a história do consumo de galinhas “per capita”, em que se conclui que uns comem uma e outros engolem duas ou três.   
Também no caso da distribuição da responsabilidade pela dívida externa é uma falácia atribuir a todos o mesmo grau de responsabilidade.
Existe gente numa ilha de Portugal Insular que nunca viu o mar e no continente haverá muitas pessoas no interior que também não o viram. Todavia, muitos outros já viajaram pelos sete mares, hospedaram-se em bons hotéis, talvez até tenham comprado um apartamento em Paris ou em Benidorm. Não vou falar da ladroagem que anda por aí e de forma encapotada desvia o produto do seu “trabalho” para paraísos fiscais, sobrecarregando cada cidadão honesto e trabalhador e fazendo disparar a dívida pública para valores insuportáveis.


 Na tal “converseta”, alguém atribuía aos portugueses, de uma forma generalizada, a culpa pelo endividamento do país, inclusivamente, por não terem o discernimento suficiente para resistir à publicidade do “compre hoje e pague amanhã” que lhe enfiam pela porta dentro.
Quem pode culpar os que, contando os tostões para pagar a renda de casa quando vão ao supermercado, olhem só para o preço e ignorem a origem?
Não fui eu que importei os melões de Marrocos e não me passaria pela cabeça atravessar o Estreito para lá ir. Então porque se importam tantos produtos que podíamos produzir?
Procurei informar-me melhor como funciona a importação de frutas e legumes cá no “burgo” e fui dar aqui: http://dre.tretas.org/dre/1230/.
Fiquei esclarecido e quando não encontrar batatas nacionais, não me sentirei tão culpado por comprar espanholas ou francesas.
E não se esqueçam de ler os considerandos. Entenderão melhor esta complicada engrenagem do import/export business.


terça-feira, 6 de maio de 2014

60% mais IVA

Fechou o boletim meteorológico da RTP. A despedida foi anunciada no boletim matinal desta estação no último dia do mês de abril, e foi anunciada por Teresa Abrantes que se distinguiu em 2007 para que a meteorologia fosse apresentado pelos p...róprios técnicos do IM. Deste modo, segundo a própria referiu na altura, voltamos a ser talvez o único país da Europa, onde não existe um espaço para informar as pessoas se devem sair em mangas de camisa ou levar o chapéu-de-chuva.
Calculo que o motivo de tal medida seja de cariz economicista. Não sei o custo real do boletim mas não é fácil admitir que qualquer dos técnicos que apresentava o programa na RTP (enquanto nacional) não ganharia a décima parte das garbosas, desenvoltas e relinchantes apresentadoras que põem os nervos em franja aos telespetadores que de forma desprevenida passem pela “Praça da Alegria” ou “Portugal no Coração”, para já não falar de “Queridas Manhãs”, “Boa Tarde”, “Você na TVI” e a “Tarde é sua” das outra duas estações privadas.
Cada qual com duas emissões diárias, uma matinal e a outra à tarde, ocupando, por contas feitas em cima do joelho, um total de 15 horas e 45 minutos por dia para pressionar os telespetadores de maneira persistente (tipo do antigo vendedor de banha de cobra) a gastarem 60 cêntimos mais IVA para ganharem a porcaria de um prémio, a maior parte da vezes não atribuído, que em letras garrafais teimam em afixar nas “pantalhas”, mesmo quando se discute o caso do neto que bateu na avó, ou da mãe que estrangulou o filho, o que como todos sabemos exige ser devidamente explicado: Bateu com quê? Com um martelo ou com a tranca da porta? Deitou muito sangue? Saiu encéfalo pelos ouvidos? Ainda mexia quando chegou a GNR? E a ambulância foi célere? Ainda bem! Não resistiu apesar dos esforços da equipa de emergência do hospital.
Isto só pode ser um vírus lançado por um “drone” no meio da populaça (gosto tanto deste termo) para provocar uma pandemia.
Isto é a negação absoluta da função principal de qualquer meio de comunicação para além de informar: Formar.
Isto revela o índice cultural de um povo
Isto é uma vergonha nacional.

Se o problema é diminuir as despesas da RTP para que se apresente aos concorrentes na sua anunciada e adiada privatização, eu sugeriria que seguissem o exemplo das emissões que referi, isto é, coloquem Teresa Abrantes a recomendar chamadas de 60 cêntimos mais IVA para um prémio mais ou menos “ chorudo” e vão ver como ainda vão ter lucro com o programa. Se conseguirem chamem o Anthímio de Azevedo, se por acaso ele não ficar agoniado com a proposta.
 
 


 

sexta-feira, 28 de março de 2014

Hipocrisia

Quem criticou a intervenção do ocidente (europeu e americano) no problema da Ucrânia, apoiando as manifestações em Kiev, que de forma mais que previsível levou à intervenção da Rússia na Crimeia, não teve que esperar muito para ter a prova do verdadeiro motivo dessa intervenção  
Notícia: “Empréstimos do FMI à Ucrânia dependem de austeridade dura”. E segue-se: “FMI aceitou transferir 18 milhões de dólares para Kiev, mas governo interino terá de aplicar medidas impopulares e duras”.
Se pensarmos que as razões apresentadas a ocidente quanto à intervenção russa na Crimeia se centravam na violação do direito internacional, da constituição ucraniana, da própria democracia e até da declaração universal dos direitos do homem, estranharemos que o ocidente não intervenha e até nem se pronuncie sobre a situação noutros países, como por exemplo na Guiné Equatorial, onde o sistema é ditatorial, ao contrário da Ucrânia onde havia um governo eleito democraticamente.
Infelizmente a razão de uma e outra atitude dizem respeito ao interesse económico. Na Guiné Equatorial, os americanos exploram o petróleo de um dos maiores jazigos do continente africano, mas omitem as violações diárias dos princípios que dizem defender; por outro lado, juntamente com a EU, procuram alargar o seu espaço económico subtraindo-o à Rússia.
Parece que a Ucrânia se dividiu e os manifestantes perderam o gás depois de lhes faltar o apoio internacional. A “nova Ucrânia” irá certamente aderir à UE e quiçá ao euro, como dizia pretender. O limite aos apoios começa cedo, exigindo-se muita austeridade, muitos sacrifícios e depois logo se vê…
Vai certamente levar algum tempo e já não estarei presente para o testemunhar mas virá o dia em que portugueses e ucranianos ficarão unidos para saírem do Euro, se entretanto a própria Alemanha não se tiver antecipado.
E o velho ditado popular “Julgavam que se benziam e partiram o nariz” será evocado mais uma vez.

Os Vistos Gold


sexta-feira, 21 de março de 2014

Crispação

Falando das eleições europeias, Sua Excelência pediu a participação ativa dos portugueses. Por certo receia que a populaça (termo muito querido de um nosso historiador) se esteja marimbando para estas ou outras quaisquer eleições, por já se ter convencido que já tudo está previamente determinado por um deus sem rosto que não admite alternativas para o seu infortúnio.
Cavaco pede também uma campanha esclarecedora. Os cidadãos que não pertencem ao arco da governação ou são seus amigos fiéis (vá-se lá saber porquê), habituados como estão às aldrabices eleitorais, deixaram de lhes prestar atenção para não ficarem baralhados das ideias.

Sua Excelência também se mostra preocupado com o agravamento das crispações partidárias que, segundo pensa, poderão prejudicar indispensáveis entendimentos no futuro.
Creio que, em função da política económica engendrada por esse incógnito deus, qualquer partido do arco do governo tem ávidos elementos à sua disposição para integrar a equipa de comissários que a defendam e deem continuidade a essa política. A crispação que pode existir entre os partidos alternantes só se deve à substituição de uns pelos outros, de cima abaixo, que é como quem diz, do diretor de serviços para cima… e alguns também para baixo.

De qualquer modo não quero deixar de colaborar e, nesse sentido, desde ontem que procuro não me encrespar com ninguém. Até para os gatos que vêm defecar no meu quintal já não me encrespo. Fiquei muito mais liso. Como se tivesse acabado de ser passado a ferro.

quarta-feira, 19 de março de 2014

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

A VERDADEIRA LIBERDADE

A LIBERDADE sempre gerou dúvidas, porque condicionada pelas regras morais e éticas de uma determinada sociedade. Algumas pessoas falam da verdadeira LIBERDADE como se ela tivesse um único significado, claro e indiscutível, tal como têm arroz, feijão ou mandioca.

A limitação da LIBERDADE é correspondente ao número de proibições impostas por leis que tentam regular o comportamento humano em função de uma linha de conduta que se coadune com as tais regras morais e éticas.
Exemplificando:

A Bélgica vai votar a eutanásia em crianças. Aprovada que seja, deixa de ser crime abreviar a morte de uma criança e os seus defensores passam a ter a LIBERDADE de o fazer.
A Espanha continua a manter uma posição mais conservadora sobre o aborto do que a maioria dos países europeus, isto é, uns terão LIBERDADE de o praticar e a outros será proibido.

Por cá, alguns têm a LIBERDADE de comer um bom bife de vaca, mas parece que na Índia não a têm por motivos religiosos. Em Portugal também há quem não como um bife… tem efetivamente a LIBERDADE de o comprar, mas, quando muito fica-se pela carne de coser ou alguns ossos com tutano, o que vem a dar no mesmo.

Um patrão deve ter LIBERDADE de despedir um empregado sem invocar qualquer razão (segundo algumas opiniões), e o empregado? Tem ele a LIBERDADE de despedir o patrão?

Existe a LIBERDADE de associação, daí as associações patronais, que confabulam nas estratégias comuns a usar para aumentar os seus proventos, mas há quem entenda que as associações sindicais não deviam ter essa LIBERDADE para estabelecer uma estratégia defensiva.

Para algumas pessoas o Estado devia entregar tudo aos privados, cobrar-lhes poucos impostos, beneficiá-los com incentivos e perdões fiscais e a máxima LIBERDADE para colocarem os lucros em paraísos fiscais.

 e peço desculpa por não conseguir conter um desabafo que já ouvia ao meu avô:

- A LIBERDADE é uma folha de couve e veio um burro e comeu-a.
A.M.