quinta-feira, 12 de junho de 2014

As teias do import/export

Desta vez dei-me ao trabalho de tomar algumas notas nas costas da lista de compras que levei para o supermercado. Como de costume começo na secção da fruta e das hortícolas, tendo sempre o cuidado de escolher produtos nacionais. Como de costume as batatas eram francesas e as cebolas espanholas pelo que decidi ir comprá-las mais tarde ao mercado. Olha as ameixas! Eram chilenas. E se eu comprasse um abacate, que já não como há tanto tempo? Eram do Peru. O maracujá veio da Colômbia e as bananas também. E pasme-se o melão e a melancia são de Marrocos.
Será que terei de ir a Almeirim para comprar um melão?
Foi quando me lembrei duma conversa, tida não sei onde, sobre a quota-parte de responsabilidade que cabe a cada cidadão dos 190 mil milhões da nossa dívida externa. Feitas as contas em cima do joelho cabe a cada português contribuir com 19 mil euros para ficarmos com o défice a zero.

Quando se fala de estatísticas vem sempre à baila a história do consumo de galinhas “per capita”, em que se conclui que uns comem uma e outros engolem duas ou três.   
Também no caso da distribuição da responsabilidade pela dívida externa é uma falácia atribuir a todos o mesmo grau de responsabilidade.
Existe gente numa ilha de Portugal Insular que nunca viu o mar e no continente haverá muitas pessoas no interior que também não o viram. Todavia, muitos outros já viajaram pelos sete mares, hospedaram-se em bons hotéis, talvez até tenham comprado um apartamento em Paris ou em Benidorm. Não vou falar da ladroagem que anda por aí e de forma encapotada desvia o produto do seu “trabalho” para paraísos fiscais, sobrecarregando cada cidadão honesto e trabalhador e fazendo disparar a dívida pública para valores insuportáveis.


 Na tal “converseta”, alguém atribuía aos portugueses, de uma forma generalizada, a culpa pelo endividamento do país, inclusivamente, por não terem o discernimento suficiente para resistir à publicidade do “compre hoje e pague amanhã” que lhe enfiam pela porta dentro.
Quem pode culpar os que, contando os tostões para pagar a renda de casa quando vão ao supermercado, olhem só para o preço e ignorem a origem?
Não fui eu que importei os melões de Marrocos e não me passaria pela cabeça atravessar o Estreito para lá ir. Então porque se importam tantos produtos que podíamos produzir?
Procurei informar-me melhor como funciona a importação de frutas e legumes cá no “burgo” e fui dar aqui: http://dre.tretas.org/dre/1230/.
Fiquei esclarecido e quando não encontrar batatas nacionais, não me sentirei tão culpado por comprar espanholas ou francesas.
E não se esqueçam de ler os considerandos. Entenderão melhor esta complicada engrenagem do import/export business.


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