sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Miserável Balanço do 40º Aniversário do 25 de Abril


Antes de Abril votei apenas em Humberto Delgado, e não foi por nada não, foi só porque ele afirmou que demitiria Salazar se ganhasse as eleições. Depois, votada que foi a nova constituição, nunca enfiei na urna nenhum boletim com cruzinhas em qualquer dos partidos, que, ardilosamente, alguém diz pertencerem ao arco do governo.
Os meus votos foram sempre para os partidos cujos programas se tornaram absolutamente inviáveis após a adesão à União Europeia, donde os países mais desenvolvidos nos acenavam com a bandeira da convergência. Vemos hoje, que essa convergência tinha como objetivo principal a uniformização duma política económica que nos obrigasse a ficar a bordo de um barco conduzido por timoneiros pagos por esses países. Não há botes salva-vidas e não se vê terra no horizonte.

O único dia de paz e concórdia que aconteceu desde então foi o 1º de maio de 1974. Poder-se-ia pensar que após o 25 de Novembro, encontrado que foi um novo rumo, os mesmos partidos que hoje pertencem ao tal arco do governo, alternando-se, com maiorias ou sem maiorias, coligados ou não coligados com um partido charneira, nos tivessem conduzido para águas calmas, ou mesmo para um porto seguro.

Ao invés, passaram a desancar-se uns aos outros para tomar o poder, apesar de se lamentarem aos súbditos, que o serviço público a que se candidatam, exige um enorme sacrifício da sua parte. Até seria se, logo a seguir à respetivas tomadas de posse, não mostrassem das mais diversa e vergonhosas maneiras que privilegiam o interesse pessoal em detrimento do interesse púbico.

Durante os primeiros anos da 3ª República justificaram as dificuldades com o PREC e o Vasco Gonçalves. Quando começou a ser tão ridículo acusar estes como acusar o Afonso Henriques dos males que nos afligem, começaram a desculpar-se uns com os outros, mas iniciado o mandato logo se queixam de encontrar o país pior do que julgavam, como se os seus deputados, enquanto oposição, não tivessem o poder e a capacidade para saber o estado do país em qualquer momento.
Reza o Livro Fundamental: “Para além da função primordial de representação, compete à Assembleia da República assegurar a aprovação das leis fundamentais da República e a vigilância pelo cumprimento da Constituição, das leis e dos atos do Governo e da Administração.”


Tudo serve para se morderem e esgatanharem. Quando um partidário alheio comete uma falcatrua, logo o filam seguramente e durante dias ou meses, conforme a importância do crime, não largam a presa. E, alternando-se ciclo após ciclo há tantos anos, ainda não tiveram o cuidado de fazer um registo oficial que esclarecesse os súbditos de quem vai à frente do campeonato da pouca-vergonha.

Mas já existem tentativas para arranjar outros cordeiros que mesmo bebendo água a jusante possam ser culpados desta infindável crise em que vivemos. Se aquilo que uma famosa historiadora escreveu fizesse escola, então é que seria fácil cumprir o conselho de entendimento que Cavaco vem dando aos do tal arco do governo. Diz ela que os partidos à esquerda é que impedem que PSD e PS se entendam, o que me leva a pensar que talvez exterminando-os, estes pudessem fazer um acordo tão profundo que se transformassem num partido único. Nesse dia Cavaco ficaria tão sossegado como os velhos PR’s de antanho, limitando-se à nobre missão de cortar fitas.
E como prova de que a questão colocada pela historiadora faz sentido aí vem hoje o líder da charneira avisar que dado o facto de o PS estar a guinar à esquerda, a Coligação deve ter uma estratégia eleitoral mais centrada e moderada.
Ou seja, afinal existe uma esquerda que não governa mas incomoda. É uma esquerda moderadora que incomoda e assarapanta os partidos do atual governo e ainda serve de encosto ao PS para tentar arrebanhar mais alguns votos.

Puff! Reparai que é uma estratégia eleitoral, e não uma estratégia de governação!
Enganados que sejam os súbditos do reino, logo serão esquecidas as moderações, o centralismo prometido virará direitismo e entraremos novamente na persistente austeridade que, como de costume custará mais a uns do que a outros.

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