O CONTO
"Ingénuo,
tem conta de ti!
No mundo há muitos enganos (Eu o sei, porque os sofri);
Os bons padecem mil danos
Julgando os outros por si."
Bocage
Com o tempo o vocábulo patrão será um termo pejorativo. Virá o dia em que chamar patrão ao empregador constituirá justa causa para despedir o trabalhador.
O empregador
fica todo ofendido quando alguém fala de trabalhadores e o trata como se ele também
não o fosse. Será, mas o primeiro dos seus trabalhos é comprar trabalho o mais
barato possível para o transformar em algo que lhe faça crescer a conta
bancária. Claro que também se preocupa com o mercado e também tem um trabalhão
para se ver livre dos trabalhadores excedentários mas de um modo geral tem ao seu
serviço trabalhadores para essa especial missão.
Creio que as
relações de trabalho não mudaram na sua génese devido à alteração e
sofisticação dos processos que foram sendo introduzidos no mundo laboral.
Como as
batatas e a sardinha o preço do trabalho sobe e desce com base na teoria de que
o Mercado se autorregula. Autorregular-se até nem seria muito grave se o preço
do trabalho não estivesse sujeito à mesma a lei.
Aí temos
agora, um tsunami na Europa, que austera e friamente vai reduzindo os direitos conquistados
pelos trabalhadores a que ardilosamente chamam privilégios e regalias.
Com a taxa
de desemprego que existe, o preço do trabalho está pela hora da morte para uns mas
é uma mina de ouro para outros.
Quando leio
o anúncio de uma mulher que troca o trabalho apenas por comida para alimentar
os filhos, ou de emigrantes clandestinos que no fim de um mês de trabalho ainda
devem três euros ao patrão, ou ainda da existência de sites em que os
desempregados se oferecem para ser comprados pelo melhor preço, fico plenamente
consciente de que não existe grande diferença entre as casas de conto e as
praças de jorna dos tempos idos.
A sofisticação mascara a realidade!
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