segunda-feira, 24 de junho de 2013

Almôndegas de soja


Sou ribatejano
Sou contra as touradas
Repudio com veemência o tratamento dado aos animais considerados amigos do homem e até daqueles que não o são, dada a sua natureza.
Fico deprimido e com maus fígados quando enfiam os filhotes dos gatos num saco e os lançam ao rio e também quando no apuramento de uma raça se escolhem os que vivem e os que morrem.
Na minha juventude vi cães morrerem com a febre da carraça ou gatos afogados no poço do quintal e fiquei traumatizado. Meu querido amigo Kiss!
Nunca cacei… nem sequer um pardal com fisga.
Uma vez, quando era criança acertei uma pedrada num pombo que estava no telhado. Rebolou e caiu de cinco metros de altura. Ficou de papo para o ar. Corri, aflitíssimo, para o local da queda mas suspirei aliviado, ao vê-lo pôr-se e pé e esvoaçar para longe.
Poderia ficar aqui muito tempo a contar histórias que pelo menos indiciassem o meu respeito pelos animais e pelo repúdio às touradas, ao tiro aos pombos, aos safaris e até mesmo ao sofrimento dos galináceos que amontoados uns sobre os outros nos aviários, engordam para engordar os proprietários.
Possivelmente já me terei alimentado de plâncton, a seguir fui granívoro, depois herbívoro e a lei da sobrevivência determinou que me tornasse carnívoro, até que, por fim, acabei por ficar omnívoro. Não sou culpado desta evolução. Os caninos cada vez menos desenvolvidos podem significar que estamos numa fase de regresso ao passado? Todavia, como o comprimento do intestino delgado não tende a aumentar para se equiparar aos herbívoros, para onde caminhamos nós nesta incontida evolução. Será que voltamos a voar? A respirar por guelras?
Que nova ordem é esta dos vegetarianos? Porque não herbívoros? Será porque têm pés e burros têm patas? Uns têm pescoço e os outros cachaços? Uns têm costas e os outros lombos?

 Resumindo: se algum dia resolver comer só ervas e sabendo que não me safo de ser carnívoro se comer ovos estrelados, eu não quero ser vegetariano, quero ser herbívoro como os outros animais meus irmãos.
Estamos numa de racismo ou quê?

 Já tenho preparado para o jantar um bife do pojadouro que não posso chegar à suave textura do lombo. Acompanho com batata frita e salada  de tomate.
Será que não respeito os seres vivos?
Então o que são os tomates, as batatas e as beldroegas?
Não são seres vivos?

segunda-feira, 17 de junho de 2013

O Conto


                                                                                 O CONTO    



"Ingénuo, tem conta de ti!
 No mundo há muitos enganos
(Eu o sei, porque os sofri);
Os bons padecem mil danos
Julgando os outros por si."
                                   Bocage

Com o tempo o vocábulo patrão será um termo pejorativo. Virá o dia em que chamar patrão ao empregador constituirá justa causa para despedir o trabalhador.

O empregador fica todo ofendido quando alguém fala de trabalhadores e o trata como se ele também não o fosse. Será, mas o primeiro dos seus trabalhos é comprar trabalho o mais barato possível para o transformar em algo que lhe faça crescer a conta bancária. Claro que também se preocupa com o mercado e também tem um trabalhão para se ver livre dos trabalhadores excedentários mas de um modo geral tem ao seu serviço trabalhadores para essa especial missão.

Creio que as relações de trabalho não mudaram na sua génese devido à alteração e sofisticação dos processos que foram sendo introduzidos no mundo laboral.

Como as batatas e a sardinha o preço do trabalho sobe e desce com base na teoria de que o Mercado se autorregula. Autorregular-se até nem seria muito grave se o preço do trabalho não estivesse sujeito à mesma a lei.

Aí temos agora, um tsunami na Europa, que austera e friamente vai reduzindo os direitos conquistados pelos trabalhadores a que ardilosamente chamam privilégios e regalias.

Com a taxa de desemprego que existe, o preço do trabalho está pela hora da morte para uns mas é uma mina de ouro para outros.

Quando leio o anúncio de uma mulher que troca o trabalho apenas por comida para alimentar os filhos, ou de emigrantes clandestinos que no fim de um mês de trabalho ainda devem três euros ao patrão, ou ainda da existência de sites em que os desempregados se oferecem para ser comprados pelo melhor preço, fico plenamente consciente de que não existe grande diferença entre as casas de conto e as praças de jorna dos tempos idos.
A sofisticação mascara a realidade!

quinta-feira, 13 de junho de 2013

A Biga



 Para mal dos nossos pecados já todos sabemos que a troika é um conjunto de três abutres que a soldo do FMI, BCE e Comissão Europeia vêm meter o nariz onde nunca deviam ter sido chamados. O etíope, o careca e o alemão, como já alguém os apelidou, desembarcam a miúde no nosso país para investigar onde gastamos o dinheiro e aconselhar o governo a cortar aqui e ali, mesmo que isso represente a fome, a miséria e até a morte de muita gente.
Mas nem todos saberão que embora troika tenha hoje o significado de “grupo de três pessoas ou entidades reunidas para um mesmo fim”, na verdade troika, no “princípio do princípio”, como diria um anónimo filósofo chinês, deriva do nome dado na Rússia a um carro puxado por três cavalos.
Quando um dias destes o nosso presidente, que podia muito bem ter travado o processo levantado a um cidadão malcriado que não conseguiu conter a indignação por tanta desgraça na sua vida, resolveu por si ou aconselhado por algum elemento da sua bateria de conselheiros, mandar o FMI prá urtigas, dei comigo a pensar, como se iria chamar o grupo de dois que ficaria de olho em nós.
Um carro puxado por quatro cavalos, sei eu que é uma quadriga, pelo menos desde que vi o Ben Hur na minha longínqua e despreocupada adolescência. Seria o cúmulo se tivéssemos 4 cavalos em vez de 3, perdão…, quatro inquisidores, a congeminar e determinar o nosso orçamento. Por essa razão achei que a sugestão/ameaça do nosso presidente tinha toda a razão de ser. Ficariam então só dois cavalicoques a enfiar o nariz nos papéis o que facilitaria o acordo mútuo, abreviando deste modo a sua estadia em hotéis de 5 estrelas, e aliviando a rúbrica destinada às favas dos respetivos orçamentos.
Chegado a este ponto pensei em pedir a um amigo deste grupo (que não seja macambúzio) para me informar sobre o nome dado a um carro puxado só por dois cavalos ou o que pelos vistos tem o mesmo nome, a dois beleguins do capital financeiro.
Mas a Net não falha. Talvez existam outros nomes para semelhante veículo, de turismo. O de combate serve perfeitamente e só não me esbofeteio por não ter pensado que se quadriga são quatro uma biga são dois. O veículo podia ser bípede ou quadrúpede mas era biga com certeza.
E, deste modo, os jornais avisariam em título de primeira página:
Desembarcou hoje no aeroporto a biga que vem fazer a oitava avaliação.