sábado, 11 de outubro de 2014

Fotografias de família/o futebol

Eu não sou do Porto, do Sporting ou do Benfica. Sou adepto do Belenenses desde o tempo do Capela, Vasco, Feliciano e Serafim. Não entro em polémicas futebolisticas por uma questão de formação adquirida no seio do desporto amador e nem sequer me passa pela ideia entrar em discussões sobre o comportamento dos diretores, treinadores e claques, que de um modo geral pecam por muito facciosismo, contribuindo deste modo para o clima de violência nos estádios, que não poucas vezes acontece.
Por isso não deixo de criticar determinada postura e linguagem dos principais agentes do futebol, tenham eles a cor que tiverem e não aceito desculpas do género "ele é que me bateu primeiro", porque até nestes casos existem maneiras dignas de responder.
As declarações "brutocarvalhianas" que há dias inundou os telejornais (agentes alimentadores por excelência deste tipo de notícias) são absolutamente reveladoras do espírito desportivo que anima os sócios que o elegeram.
O Carvalho é um pacificador.
O Carvalho é o Gandi português do futebol.
O Carvalho é aquela máquina!

Força Carvalho dá cabo deles!
PS - Francamente, com estes exemplos de cidadania e urbanidade quem me manda a mim andar a meter as garrafas nos vidrões e os papeis nos papelões? Porque carga de água não inventam uns palermões?
 
 

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Oi, como vai você?


Hoje o Mercado ficou em casa. Envergonhado por não conseguir cumprir a sua missão reguladora de forma a deixar todos os súbditos satisfeitos, não foi dar o seu passeio matinal.
O Mercado é muito zeloso e como nos últimos tempos têm acontecido coisas que prejudicam a sua imagem de soberano todo-poderoso, que devia regular com determinação o equilíbrio económico do reino, anda com a autoestima pelas ruas da amargura.
Confiaram nele para manter a Economia saudável e, desesperado, receia não conseguir cumprir o seu eterno mandato.

Ele, o Mercado, fica completamente desnorteado quando acontecem distúrbios como este último da PT e da OI.
É desanimador ter que tomar certas decisões para manter o seu próprio equilíbrio, mas não havia outra solução e teve que dar ordens muito duras aos seus agentes no Terreno.
Mandou a OI dar 150.000 euros por mês, durante 3 anos ao agente Bava, porque ele durante a sua carreira de gestor das telecomunicações, apesar de já ter ganho 50 milhões de euros, provocou um terramoto económico.
Custou-lhe muito tomar esta decisão, mas não podia deixar sem castigo uma falta tão desmedida.

Ficou com pena do Bava por lhe ter agravado a pena com a proibição de gerir empresas de telecomunicações durante 3 anos.

Coitado do Bava! Como vai ele sobreviver?

quinta-feira, 2 de outubro de 2014

A LIBERDADE


Há muitos anos tive um canário preso numa gaiola. Trinava tão bem e tantas vezes durante o dia que me convenci que ele não tinha a noção de que estava preso, a não ser que tivesse a intenção de me agradecer a alpista que nunca lhe faltava no comedouro. Havia, pois, uma relação de mercado entre nós. Troca de géneros, é certo, que até o sal já foi moeda - eu alimentava-o e ele fornecia-me o seu alegre esvoaçar e o seu estridente trinar. Tinha-o recebido como prenda num dia de anos, devidamente engaiolado por um familiar que o comprara numa dessas lojas onde livremente se vendem trabalhadores de trinados, de chilreios e arrulhos. Também se vendem os que palram, mas são muito mais caros.
Um dia, em que o sol brilhava, céu sem nuvens e uma ligeira brisa ondulando a copa das árvores, resolvi fazer uma limpeza à gaiola, como aliás fazia com alguma regularidade para evitar que ele adoecesse com tricomonas. Saí com a gaiola pendurada no dedo para o quintal, onde, junto ao tanque da roupa, costumava proceder à limpeza da gaiola. Por qualquer razão, que ainda hoje não sei explicar, a gaiola escapou-se-me das mãos e caiu ao chão. A portinhola abriu-se e o meu rico canário saiu esvoaçando rente ao chão. A alguns metros encontrava-se o gato do vizinho que - tenho a certeza – já estava de boca aberta e zás… chamou-lhe um figo.
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Ontem, o cão do meu vizinho saltou o muro e fugiu da sua prisão, onde tinha boa comida e era acarinhado. Claro que não estava preso com correntes, andava solto pelo quintal correndo atrás da passarada e abanando o rabo de contente. Quando, pressentindo que havia um mundo a explorar para além daqueles muros, optou pela liberdade e fugiu.
Dois dias depois foi encontrado pelo dono no canil onde se preparavam para o abater. Tinha sido atropelado por um carro, tinha a coluna partida e estava paralisado dos quartos traseiros. O dono ainda o carregou e levou ao veterinário onde foi radiografado e se confirmou a gravidade do seu estado. A eutanásia foi inevitável e depois… só ficaram as cinzas.
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Quando o Malaquias foi despedido, porque a fábrica multinacional onde trabalhava perdeu uma fatia importante do mercado de panelas de pressão, o mundo desmoronou-se à sua volta. Poucos meses antes tinha sido aprovada uma lei que acabava com os subsídios de desemprego e não lhe dando o magro salário para ter feito algumas poupanças, encontrava-se numa situação de verdadeiro desespero.
Imediatamente começou à procura de trabalho, pois com mulher e filhos para sustentar, mais a amortização da casa, da água, da luz e do gás, tinha que conseguir um emprego em qualquer lado, o mai9s depressa possível, nem que fosse abaixo do salário mínimo. Entretanto começou a vender alguns pertences: primeiro foi a coleção de selos que tinha herdado pai, depois uma escrivaninha antiga que a mulher tinha trazido no dote, mais tarde vendeu a televisão, o baú da roupa, a mesa da cozinha… vendeu tudo aquilo que lhe quiseram comprar e quando deixou de poder assumir os compromissos, cortaram-lhe a água, depois a luz e o gás e por fim teve que entregar a casa ao banco.

A sua sorte foi ter encontrado, dois dias depois, um empresário agrícola que deu alojamento e alimentação aos quatro em troca de 12 horas de trabalho na quinta onde possuía enormes estufas de vários produtos hortícolas. Aceitou de imediato, pelo menos não iriam morrer de fome. É certo que ficou dececionado com o alojamento. Era um enorme barracão que tinha de compartilhar com mais duas famílias que já ali dormiam. O almoço não era mau: uma sopa de couves cozidas com feijão encarnado, um guisado de fressura de porco umas vezes com massa, outras com arroz e meia carcaça de pão de centeio. Meia gaiola era o vinho de que dispunha para as duas refeições. A mulher e os miúdos dessedentavam-se com água do poço, ali mesmo ao lado do alpendre/refeitório.
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O canário estava preso numa gaiola e quando adquiriu (embora acidentalmente) a liberdade enfiou-se na boca do gato.
O cão vivia entre muros de que um dia conseguiu libertar-se e foi atropelado mortalmente.
O Malaquias tem muito mais sorte. Alguém por ele, como o dono do canário e o dono do papagaio zelam pelo seu bem-estar. Por enquanto o Malaquias pode ir-se embora, pode fugir… mas para onde? Talvez não falte muito tempo para que o Malaquias seja perseguido pelos beleguins do patrão se resolver fugir com a família.
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O Zé do Canto é viúvo. Vive sozinho. Subsiste com a venda de tomates que planta no seu pequeno quintal.
Todos os dia aquela alminha passa a manhã e parte da tarde no mercado da vila… preso pelos tomates!