sábado, 6 de dezembro de 2014

Fontes

 
Antigamente cada povoação tinha uma fonte onde todos iam beber. Havia uns bebedouros ao lado das fontes para onde permanentemente corria a água das bicas. Era ali que à tardinha se dessedentavam as alimárias, terminado o trabalho do arado e da nora. Recordo que as mulas não precisavam de ser guiadas até aos tanques, sabiam o caminho de cor, mas ali chegadas ficavam aguardando que o seu dono assobiasse. Por isso, ainda hoje, quando alguém nos quer tomar por parvos retorquimos:... Não preciso que me assobiem para beber água.
Um dia chegou a água canalizada e as fontes foram fenecendo à medida que a rede de distribuição ia crescendo. Hoje, ela, a água, custa dinheiro quando vem pelos canos e serve para ser taxada com um valor indexado ao consumo de cerca de 100%. Quando engarrafada, por uma qualquer companhia do aquoso ramo, custa quase tanto, quando não mais, do que uma cervejola. Ainda hoje não compreendo razão porque o investidor Cintra trocou as águas pelas cervejas, embora tenha uma desconfiança. Ficou-me arreigada por causa do Vale da Telha… mas isso são águas passadas.
Ouvi umas bocas, aqui e ali, que os cérebros “bruxelianos” ( não confundir com bruxuleantes) já estudam as táticas para determinar a privatização de todas as águas, incluindo a água da chuva. Como já tenho 78 bem contados até nem me importo que me taxem o ar que respiro. Se isso acontecer sempre quero ver se, para uma insuficiência respiratória de 40% me fazem um desconto na respetiva taxa.
Perdi-me… as fontes vinham a propósito de…? Ah, já sei, a propósito das fontes de informação.
Hoje, ninguém tem dúvidas que existem mais fontes de informação do que fontes de água.
Ele é as televisões, as rádios, os jornais, (da internet nem se fala), todavia há quem use e abuse de se abastecer sempre na mesma, como é o caso de o “Observador” em que para citar um exemplo o altamente credenciado colunista Rui Ramos faz uma acérrima crítica a António Costa por tentar demarcar-se do caso Sócrates, e, não fazendo referência a quem o quer amarrar, marra também!
Está no seu direito. Sirva-se à vontade. Não faça cerimónia. Mas não faça dos outros parvos!

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Miserável Balanço do 40º Aniversário do 25 de Abril


Antes de Abril votei apenas em Humberto Delgado, e não foi por nada não, foi só porque ele afirmou que demitiria Salazar se ganhasse as eleições. Depois, votada que foi a nova constituição, nunca enfiei na urna nenhum boletim com cruzinhas em qualquer dos partidos, que, ardilosamente, alguém diz pertencerem ao arco do governo.
Os meus votos foram sempre para os partidos cujos programas se tornaram absolutamente inviáveis após a adesão à União Europeia, donde os países mais desenvolvidos nos acenavam com a bandeira da convergência. Vemos hoje, que essa convergência tinha como objetivo principal a uniformização duma política económica que nos obrigasse a ficar a bordo de um barco conduzido por timoneiros pagos por esses países. Não há botes salva-vidas e não se vê terra no horizonte.

O único dia de paz e concórdia que aconteceu desde então foi o 1º de maio de 1974. Poder-se-ia pensar que após o 25 de Novembro, encontrado que foi um novo rumo, os mesmos partidos que hoje pertencem ao tal arco do governo, alternando-se, com maiorias ou sem maiorias, coligados ou não coligados com um partido charneira, nos tivessem conduzido para águas calmas, ou mesmo para um porto seguro.

Ao invés, passaram a desancar-se uns aos outros para tomar o poder, apesar de se lamentarem aos súbditos, que o serviço público a que se candidatam, exige um enorme sacrifício da sua parte. Até seria se, logo a seguir à respetivas tomadas de posse, não mostrassem das mais diversa e vergonhosas maneiras que privilegiam o interesse pessoal em detrimento do interesse púbico.

Durante os primeiros anos da 3ª República justificaram as dificuldades com o PREC e o Vasco Gonçalves. Quando começou a ser tão ridículo acusar estes como acusar o Afonso Henriques dos males que nos afligem, começaram a desculpar-se uns com os outros, mas iniciado o mandato logo se queixam de encontrar o país pior do que julgavam, como se os seus deputados, enquanto oposição, não tivessem o poder e a capacidade para saber o estado do país em qualquer momento.
Reza o Livro Fundamental: “Para além da função primordial de representação, compete à Assembleia da República assegurar a aprovação das leis fundamentais da República e a vigilância pelo cumprimento da Constituição, das leis e dos atos do Governo e da Administração.”


Tudo serve para se morderem e esgatanharem. Quando um partidário alheio comete uma falcatrua, logo o filam seguramente e durante dias ou meses, conforme a importância do crime, não largam a presa. E, alternando-se ciclo após ciclo há tantos anos, ainda não tiveram o cuidado de fazer um registo oficial que esclarecesse os súbditos de quem vai à frente do campeonato da pouca-vergonha.

Mas já existem tentativas para arranjar outros cordeiros que mesmo bebendo água a jusante possam ser culpados desta infindável crise em que vivemos. Se aquilo que uma famosa historiadora escreveu fizesse escola, então é que seria fácil cumprir o conselho de entendimento que Cavaco vem dando aos do tal arco do governo. Diz ela que os partidos à esquerda é que impedem que PSD e PS se entendam, o que me leva a pensar que talvez exterminando-os, estes pudessem fazer um acordo tão profundo que se transformassem num partido único. Nesse dia Cavaco ficaria tão sossegado como os velhos PR’s de antanho, limitando-se à nobre missão de cortar fitas.
E como prova de que a questão colocada pela historiadora faz sentido aí vem hoje o líder da charneira avisar que dado o facto de o PS estar a guinar à esquerda, a Coligação deve ter uma estratégia eleitoral mais centrada e moderada.
Ou seja, afinal existe uma esquerda que não governa mas incomoda. É uma esquerda moderadora que incomoda e assarapanta os partidos do atual governo e ainda serve de encosto ao PS para tentar arrebanhar mais alguns votos.

Puff! Reparai que é uma estratégia eleitoral, e não uma estratégia de governação!
Enganados que sejam os súbditos do reino, logo serão esquecidas as moderações, o centralismo prometido virará direitismo e entraremos novamente na persistente austeridade que, como de costume custará mais a uns do que a outros.