sexta-feira, 29 de novembro de 2013

La bandera*


La Bandera

História que ouvi contar a um marinheiro da armada brasileira que atracou no porto de Luanda em 1965, se a memória não me atraiçoa.

Café Filho, presidente brasileiro, visitou Portugal em 1955 e foi recebido apoteoticamente, desfilando pela Rua Augusta em carro aberto perante uma chuva de serpentinas e papelinhos coloridos. Já não me recordo, mas creio que também foi agraciado com a “honoris causa”.
Café Filho governou despercebido durante cerca de ano e meio e segundo alguns historiadores, foi convidado por Salazar apenas para procurar apoio para a sua política colonial.

A história:

Quando regressou ao Brasil uma multidão imensa no cais onde estava atracado o navio que o transportaria, ouviu palavras de gratidão pela visita e ficou muito impressionado com uma frase do presidente português em que se referia à bandeira portuguesa: (…) e a nossa bandeira com a sua cor verde, que significa a esperança e o vermelho que significa o sangue derramado pelos heróis (…). Ficou-lhe no goto.

Daí que chegado ao Brasil, barco atracado, e a habitual multidão que se junta para receber os presidentes, entendeu que devia discursar.
Depois das trivialidades costumeiras lembrou-se da referência à bandeira portuguesa e não hesitou: (… e a nossa bandeira com a sua cor verde que significa a esperança e a sua cor amarela que significa… que significa...  e não lhe ocorrendo nada, resmungou:
- Mas que merda de cor foram pôr na bandeira!

Como é evidente não me ocorre contar esta história/anedota assim sem mais nem menos, quando tenho algumas preocupações que até me tiram o sono. Foi o facto de um outro presidente ter sugerido que se tirassem o vermelho da bandeira portuguesa o problema económico e financeiro do país automaticamente se resolveria. Então este gajo queria deitar o sangue derramado pelos heróis para a sargeta? Guilhotina com ele, já! Ou mesmo empalado na Praça da Figueira com bancadas à volta, repletas de público a aplaudir de pé pelo merecido castigo.

Eu acho que a cor que devia ser retirada da nossa bandeira era o verde. Creio que para muita gente, onde me incluo, o verde já não representa esperança nenhuma, quando muito justificar-se-ia uma cor de um indefinido pardacento.

Triste sina a nossa!

* Em homenagem a Pierre Mac Orlan autor do livro com este nome, que na minha juventude contribuiu para a minha formação como homem.

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Mais-valiaX3

Sei perfeitamente que o exemplo que vou dar e nos condena a ser um país subalterno, sem hipótese alguma de convergir com os países da UE industrialmente mais fortes, provocará argumentação, que por caminhos ínvios, diligenciará desvalorizar ou mesmo desmenti-lo.

Se eu comprar um ferro elétrico sei que não me vai durar toda a vida e estimo, por exemplo, que me pode durar 10 anos. Será aconselhável dividir o seu preço por dez e cativar todos os anos essa quantia (possivelmente com ajustamento da inflação) para ter dinheiro para comprar outro ferro elétrico e enviar o velho para o lixo.

Mas isto é o que deve fazer uma pessoa organizada e, principalmente, com capacidade para fazer algumas poupanças, pois caso contrário ficará surpreendido com a avaria súbita do ferro elétrico e, desprevenido, passará a vestir as camisas enrugadas ou, se tiver crédito, pedir dinheiro emprestado ao banco ou a algum usurário prestamista (não existe grande diferença) para substituir o traste avariado.

Suponhamos agora que sou o Helmut Gauff e resolvo entrar no negócio de penicos, depois de, como é óbvio, fazer uma prospeção de mercado que justifique o investimento. Vou, ou mando alguém ao Registo de Patentes para saber qual a máquina mais moderna que existe para fabricar os ditos penicos. Faço as contas: operador + eletricidade + água + instalacões  +impostos, etc., e também (era aqui que eu queria chegar), a amortização da máquina escalonada por sete ou oito anos para poder substitui-la, não só por estar avariada, mas porque perante uma nova geração de máquinas de penicos se impõe comprar uma, para manter ao mais alto nível a aquilo a que se chama competitividade.
Assim, ao fim de sete ou oito anos o Helmut fica a pensar que melhor do que fazer o que eu fazia com o ferro elétrico, antes de ser o Helmut, era usá-la num sítio qualquer onde as taxas e impostos fossem mais baixos, a eletricidade mais barata, as instalações cedidas gratuitamente por uma autarquia, que perante o desemprego procura minorá-lo e, principalmente, porque a mão-de-obra é mais barata

Descoberto o local, lá vai a velha máquina cumprir a missão te trabalhar mais sete anos, voltando o seu preço inicial a ser introduzido no custo dos penicos e garantindo a mais-valia gerada, igual ou superior à dos seus primeiros sete anos de existência.
Sete anos de pastor Jacob serviu
Labão pai de Raquel, serrana bela…


Informado de que em Taiwan os salários ainda eram mais baixos do que na Grécia ou em Portugal, fez as contas e verificou que a velha máquina mesmo debitando apenas seis penicos por minuto, quando as máquinas da nova geração já “chocavam” 14 no mesmo tempo, ainda lhe permitia ter o mesmo lucro, embalou-a carinhosamente, meteu-a num contentor e lá seguiu, mar fora, para dar trabalho aos desempregados taiwaneses, que agradecidos fazem vénias até baterem com a cabeça no chão.

Helmut ( ou seja eu) sou chamado ao palácio presidencial onde sou homenageado e condecorado por Lee Teng-hui, como grande amigo da Grande Ilha e do seu povo.
Agradecido e entendendo que era preciso demonstrar alguma comoção, espremo-me um pouco e consigo soltar duas lágrimas.

* Mais-valia é o termo famosamente empregado por Karl Marx à diferença entre o valor final da mercadoria produzida e a soma do valor dos meios de produção e do valor do trabalho, que seria a base do lucro no sistema capitalista

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Doris Lessing

    Morreu Doris Lessing. Escritora inglesa, 94 anos de idade.
    Talvez pelo facto de frequentar as reuniões do Left Book Club, que o governo da Rodésia vigiava atentamente, mas também por ao longo dos anos se revelar intelectualmente de esquerda, só veio a receber o Prémio Nobel em 2007, aos 88 anos de idade.
     Li apenas dois romances seus, há muitos anos, quando havia uma sintonia entre o estilo da sua escrita e os meus próprios sentimentos. Infelizmente tenho em meu poder o livro “A revoltada” com uma dedicatória à minha mãe no dia 5 de Maio de 1953 – Dia da Mãe.
     Neste romance, que creio ser autobiográfico, dado que a personagem Martha Quest, tal como ela vivia em África, é uma jovem romântica e idealista como Doris Lessing era na sua adolescência.
     Antecedendo o primeiro capítulo, Doris colocou uma citação de Olive Schreiner, escritora sul-africana que faleceu em 1920, foi uma feminista, pacifista e ativista política lutando pelos direitos humanos:...
 
        Estou tão cansada disto e igualmente
        do futuro antes mesmo dele chegar.

Que descanse em paz.

domingo, 3 de novembro de 2013

John Kerry varre o lixo para debaixo do tapete.

     Temos que admitir que é uma operação muito difícil para este almeida.
    Só alguns papalvos, amigos de Kerry, que gostam de ser bafejados pelos ocidentais ventos, podem tentar engolir desculpas tão esfarrapadas.
    O Nuno Melo, por exemplo, vai mais longe, pois acha que todos os países beneficiam com o miserável ato de invadir a vida privada de toda a gente, pelo que em vez de criticarmos, devíamos agradecer. Caramba! O Nuno entende que ainda não recebeu uma carta cheia de esporos do antraz, porque os americanos velam por ele e por nós todos.  
    Afinal a culpa é do piloto automático. O piloto pilota alguma coisa: um barco, um avião, um automóvel, a que, pela mesma ordem, corresponde um marinheiro, um aviador e um automobilista. 
    Seguindo o raciocínio, a este piloto corresponde um espião que, por ser automático, iliba os seus criadores de qualquer tipo de responsabilidade. Deste modo o espião automático, programado apenas com genes de paparazzi, resolveu por sua alta recriação espiar pessoas que não estavam na lista. Por este andar, este autêntico cyborg, qualquer dia dá em voyeurista e desata a espiar a Merkel na intimidade da sua casa de banho.
    E eu que sempre julguei que o chico espertismo era produto genuinamente português!?