domingo, 30 de dezembro de 2012

A filha da mula do pai do Moreira


“Com o mal dos outros posso eu bem”

Existem ditados populares para todas as situações do nosso quotidiano, inclusivamente alguns deles contrariam-se quanto ao fundo moral que encerram.
No caso em apreço temos um aforismo popular que parece ter contribuído para o egocentrismo reinante, o que indicia a propensão portuguesa para o “lá diz o ditado”.
Passos Coelho por exemplo, a acreditar nas Boas Festas que nos enviou, não pode com o mal dos seus concidadãos, sente-se muito infeliz e vai fazer uma passagem de ano muito recatada. Não vai, contudo, deixar de comer as 12 passas da meia-noite enquanto em muitos lares portugueses se vai passar larica.  

Se é verdade que o peso do mal alheio é mais leve do que se fosse meu, não devia deixar de, algebricamente somados um e o outro, tenderem para o equilíbrio, dado que o mal era menor e o bem não seria tão bom.

Lembrei-me disto por causa da Mula que tive que escorraçar para não me infernizar o juízo. Fiquei muito mais aliviado quando constatei alguns percursos da mula na sua insana tarefa de sujar todos os lugares por onde passa.
A propósito de uma entrevista em que Urbano Tavares Rodrigues confessa que foi preterido diversas vezes por ser comunista, comenta a mula:
"Alguém lhe explica que com 86 anos e um filho de 4, há algo que não bate certo… tem pai que é cego”.

Sobre uma notícia com o título “Dubai acusa Mossad de matar membro do Hamas”:
“Excelente trabalho, façam favor de continuar”
Do artigo “Duas explosões no metro de Moscovo provocam mais de 30mortos”:
“Deve ser obra do lenin, desculpem, do putin”

 Uma outra em que se informa que o chefe das Farc morre num bombardeamento, relincha a mula:
“ O PCP vai já fazer uma homenagem a título póstumo”.

 Sobre “EUA: Reforma de saúde terá de ser votada de novo” vocifera a mula:
“… e não andam os médicos americanos a fazer como os seus congéneres cubanos que roubam a comida, etc., aos seus doentes e depois deixam-nos morrer de fome e frio às dezenas.”

 São apenas alguns aspetos da orientação política do chip que lhe enfiaram na cabeça e que o emissor colocado no cabresto divulga por tudo que é sítio.

Omito as obscenidades usadas para com outros comentadores das mesmas notícias.

Depois disto não posso deixar de sentir algum conforto. Afinal não é só comigo que a mula implica. Tenho companheiros de infortúnio.

 Ver:
http://www.jn.pt/search/SearchResults.aspx?u=6369&o=DateDescending&PageIndex=5

sábado, 29 de dezembro de 2012

A Mula do Pai do Moreira


      O pai do Moreira tinha uma mula. Quando o Moreira adormecia e via que não tinha tempo de chegar antes do toque da cabra para o início das aulas, ia de mula. Amarrava-a a um poste de eletricidade junto ao muro do colégio. No intervalo das aulas enfiava-lhe um saco com favas no focinho para lhe encher o depósito.
       Quando havia um furo entre as aulas o Moreira, à vez, deixava-nos cavalgar o equídeo. Era uma festança!
       Quando ia a trote não havia problema, portava-se muito bem, mas quando a galope tinha uma querença que nunca conseguimos contrariar.
       Assim que via uma rua á direita não hesitava, guinava imediatamente para a tomar e o cavaleiro não conseguindo dominá-la com as rédeas, era projetado do selim.
        Só obedecia ao Moreira, o que me leva a crer que a mula, matreira, só queria ser montada por ele.
        Há sempre uma razão para evocar episódios do passado como me aconteceu hoje.
        Tenho um armazém com a tabuleta por cima da porta “Durindana”. Era para ser um espaço concorrido mas pouco tempo depois decidi usá-lo apenas para recriar os desabafos que coloco noutros espaços, pelo que não procuro mantê-lo limpo e arrumado.
        Todavia tinha a porta aberta, como na Ilha das Flores, onde nem de noite se fechava a porta e quem passava abria-a para ver as horas no relógio da sala… nos anos 40, como é de calcular.   
        Por essa razão uma mula mal parida passou a entrar-me pela porta do armazém onde aparece para defecar quando a diarreia mental fica incontrolável deixando-me o chão do armazém numa autêntica vergonha. Já pensei se não seria uma mula-sem-cabeça, duende em forma de besta e com três pés que anda por aí a vaguear, qual alma penada sem eira nem beira.
        Tem todavia um nome! Não um nome próprio. Nem sequer o sobrenome. Identifica-se por “averdadedoi” pelo que não é difícil calcular onde lhe doi já que vive com um mu muito bem dotado.
      Acabei!

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

... e o passado vem à tona...

Quando andava na escola primária não havia televisão. O cinema era ambulante e o sonoro era feito pelo homem que dava à manivela da máquina e ora fazia voar o cavalo de Roy Roger, ora o fazia andar em marcha lenta. Quando aparecia à entrada dum desfiladeiro o “maquinista” gritava: lá vem ele! Por vezes passavam simultaneamente o mesmo filme em duas terras próximas, donde resultava que numa delas se via a segunda parte antes da primeira. No intervalo havia alguém que ia de bicicleta trocar as bobines.
A leitura era o que nos restava para passar o tempo e a carripana da Gulbenquian só passava uma vez por mês. Havia a coleção Manecas onde tomámos conhecimento com “A Gata Borralheira”, “A Branca de Neve”, “O Pinóquio”, “O Príncipe com orelhas de burro” e “O aprendiz de feiticeiro”.
Um dia, pelo Natal, quando o burro e a vaca ainda bafejavam o interior da manjedoura, o menino Jesus ofereceu-me um livro que continha duas histórias: “O doente de cisma” e “O médico à força” numa versão para crianças.
Recordo esse tempo com alguma saudade quando por esta ou aquela razão sou solicitado para rememorações. Desta vez, foi a notícia, de que menos 500 mil portugueses foram às urgências no hospitais e cerca 1 milhão às consultas em relação ao mesmo período do ano passado.
Imediatamente “vi, claramente visto” que algumas centenas de milhares de portugueses deixaram de cismar que estão doentes. Um príncipe com orelhas de burro, armado em aprendiz de feiticeiro, que não fala de Gepeto (seu criador) se armou em “médico”, não à força, mas a martelo, curou-os… definitivamente!

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

O fim do mundo... em quecas


A minha avó paterna, Maria de seu nome, contava que em 1910 perante a passagem do cometa Halley se profetizou o fim do mundo.  Muita gente consumiu tudo o que tinha na dispensa, talvez para não se estragar, e à noite veio para a rua esperar o fim do mundo.

O cometa passou, seguiu impávido a sua rota e nem sequer a sua cauda assassina foi avistada a olho nu. Quando o mafarrico do cometa voltou em 1986, embora ainda tivesse preocupado algumas pessoas, passou despercebido.

O fim do mundo volta á ordem do dia, segundo determinação de uma profecia maia. Será no próximo dia 21. Mas se não acontecer nessa altura já está previsto por um geofísico que será no dia 16 de janeiro. A Terra deixará de girar e zás vai tudo pró brejo!

 Só o infinito não tem fim. Tudo o que nele existe tem fim. O “fim do mundo” acontece a milhares de pessoas todos os dias, umas vezes de forma imprevista outras anunciada. Todos os dias desaparecem milhares de estrelas que arrastam milhares de planetas para o seu fim enquanto tais. Em galáxias a anos de luz de distância ainda se podem observar estrelas que já morreram há muito tempo.

A perceção da nossa ínfima importância no meio deste espaço devia contribuir para melhorarmos o nosso comportamento como pessoas. Menos corrupção, menos egoísmo, mais solidariedade… principalmente do nosso governo para o qual não se prevê o “fim do mundo”.

E já não era sem tempo!
 

Recado


Apresentam-se ao público ladeados por colunas com a efígie de Cristo, vão á missa todos os domingos, incluindo a do Natal, e por vezes também vão às vésperas. Usam com muita convicção o “valha-me Deus”, “Deus nos acuda”, “Deus é grande”’ e invocam o Espírito Santo em momentos de aflição. Quando o peso da consciência os incomoda, confessam-se e comungam. Atualmente até podem roer a hóstia, que no meu tempo nem se podia tocar com os dentes.
Todavia o seu comportamento no que respeita a civismo é de uma baixeza ilimitada. Entram em qualquer lado onde a “porta” lhe seja franqueada para vazarem todo o fel que lhes queima as entranhas, provocando e insultando o anfitrião.

Anonimamente, claro, que a cobardia é a sua principal caraterística.
Autênticos escaravelhos enrolados na sua própria caca!

PS – Anonimamente mas com o rabo de fora

domingo, 9 de dezembro de 2012

Há bocas que nunca deviam pronunciar "transparência


Miguel Relvas regressou à ribalta. Andou recolhido durante algum tempo por acreditar que o tempo, que tudo apaga, limparia da memória dos portugueses o caso da sua meteórica licenciatura.
As coisas não se passam assim. Se ele desaparecer, como Sócrates e deixar de aparecer em público, as pessoas deixarão de pensar e de falar do caso, mas regressando às pantalhas, imediatamente as pessoas recordarão o episódio.

Principalmente se vier dar lições de moral, como foi o caso, quando enaltece a transparência das privatizações que este governo está a fazer. Uma transparência muito embaciada como a da sua licenciatura.

Quem deve ter ficado muito aborrecido (eu ficaria) foi Fernando Seara, quando ouviu Miguel Relvas, a fazer propaganda à sua candidatura a Lisboa, enaltecendo a gestão feita na Câmara de Sintra (o que sabe ele que eu não sei?). Facilmente se apercebeu que aquela propaganda, emitida de uma fonte de água muito pouco transparente, iria tirar-lhe muitos votos.    
Agora, só o mediatismo dos seus comentários na TV em defesa do Benfica o pode salvar, mas o impedirá de concorrer à Câmara do Porto para todo o sempre.

sábado, 8 de dezembro de 2012

Nós não somos esquecidos... Sr. Presidente.



Quando alguém erra, inocente ou conscientemente, só pode reconstituir a sua imagem reconhecendo o erro e tentando justificá-lo. Há quem pense, de forma lamentável, que varrendo o lixo para baixo do tapete, a casa fica limpa. Esperar que ninguém tenha reparado, ou reparando, o subvalorize, é um erro crasso que só pode desacreditar o seu autor.
As frases célebres para o mal ou para o bem ficam na história.
“O primeiro dever da inteligência é desconfiar dela mesmo” - Albert Einstein; ou,
“Não há sentido em ser exato quando você nem sabe sobre o que está falando." – John Von Neumann, são pensamentos próprios, universais, repletos de bom senso humanista, e ainda porque não se encontram na primeira pessoa do singular, como por exemplo:
“Eu nunca me engano e raramente tenho dúvidas”, que Cavaco Silva proferiu quando era primeiro-ministro e ficará para a história como uma tirada infeliz a que ficará
amarrado para todo o sempre.
Talvez por isso não reconhece os erros da sua atuação como dirigente governamental quando contemporizou com a destruição da frota pesqueira e de vários sectores da agricultura, por exigência da União Europeia.
Para que os apelos, repetidamente feitos agora, de que temos que nos virar para o campo e para o mar sejam levados a sério, era necessário que Sua Excelência o Presidente da República, reconhecesse que se enganou. Possivelmente não tinha dúvidas e por essa razão errou!
A população, sempre sensível às confissões de arrependimento não deixaria de voltar a acreditar em Sua Excelência.
Assim não!

 

domingo, 2 de dezembro de 2012

"REFUNDIDOS"




Hoje, 1 de Dezembro de 2012, celebrou-se miseravelmente, pela última vez, a restauração do país que em 1640 se libertou do jugo espanhol. Esta coisa do “jugo espanhol”, que nos ensinavam na escola, implantava na criançada uma aversão imediata e inconsciente contra os nossos vizinhos, de que Aljubarrota era o rastilho. A defenestração do traidor Miguel de Vasconcelos, lambido pelos cães na praça do Palácio Real era um analgésico que amenizava o sentimento patriótico da maralha da escola.
Hoje não estremecemos com a invasão das batatas e cebolas espanholas, porque as francesas estão na tulha mesmo ao lado e nas prateleiras em frente estão as bananas “Chiquita”, as laranjas da África do Sul, as nectarinas italianas e até kiwis dos antípodas australianos.
Com a produção nacional espartilhada pelas quotas estabelecidas pela UE e alegremente aceites e assinadas pelos neomiguelvasconcelistas tornámo-nos auto insuficientes e não conseguimos exportar de modo a equilibrar a balança de pagamentos.
Hoje, encaramos de modo indiferente a invasão de funcionários encartados do capital não tão internacional quanto isso, com a misericordiosa missão de nos orientarem na gestão da economia e das finanças.
Apáticos, assistimos ao beija-mão dos nossos governantes perante os governantes estrangeiros que de forma determinada nos emprestam dinheiro para comprarmos os seus próprios produtos e nos cobram juros altíssimos pelo empréstimo.
Daqui a alguns anos o monumento à Restauração será substituído, no mesmo local, pelo monumento à Refundação… felizmente espero não estar cá para assistir a mais esse crime!