sábado, 17 de novembro de 2012

Sumário da situação

 
Ser obrigado, em nome da austeridade a:

Entregar a casa ao banco credor
Tirar o filho da faculdade...
Deixar de comprar o jornal
Controlar obsessivamente o consumo da água e da eletricidade
Arrumar na arrecadação os aquecedores a gás
Pedir ajuda à família para pagar a amortização de um empréstimo
Explicar ao filho porque lhe cortamos o consumo dos refrigerantes
Ver o dinheiro da poupança a esvair-se para acudir a despesas inesperadas
Racionar o pão, o leite e a fruta
Diminuir a mesada do filho,

Só é suportável para quem conhece e valoriza problemas muito mais graves, como:

Perder o emprego
Dormir dentro do carro com os filhos porque foi despejado
Mendigar ajuda aos vizinhos para alimentar os filhos
Não ter dinheiro para pagar os medicamentos na farmácia
Mandar os filhos para a escola sem pequeno-almoço
Mendigar apoio social para o funeral do velho pai
Almoçar na “sopa dos pobres”
Não jantar

Uns e outros, contudo, interrogam-se e revoltam-se por saber que há gente (gente?) que:

Não paga impostos sobre uma parte dos seus proventos
Recebem um avultado subsídio anual de habitação isento de tributação
Deslocam-se em carros de alta gama pagos pelo erário público
Recebem ajudas de custo para se deslocarem para o local em que trabalham (trabalham?)
Têm senhas de refeição
Telemóvel
Cartões de crédito,
Etc…
Desabafo da minha Avó Maria:
- Vão roubar para o pinhal da Azambuja!

sábado, 3 de novembro de 2012

Férias mal repartidas

Ninguém terá dúvidas sobre a enorme capacidade económica e financeira da Alemanha, mas já todos, certamente ouviram dizer que também neste país existem alguns problemas motivados pela crise europeia, principalmente com os países da União.
De economia só percebo (e mal) do deve e haver caseiro, mas estou crente que as dificuldades alemãs derivam especialmente da contração das exportações, o que não é difícil compreender dada a austeridade reinante nos países mais pobres, que durante muitos anos compraram o que não tinham capacidade de pagar, endividando-se. A Alemanha viveu do que vendeu, possivelmente sabendo, que mais cedo ou mais tarde, alguns países não poderiam saldar as suas dívidas. Agora, é com parte do dinheiro ganho durante esse período que emprestam a juros altíssimos o dinheiro para lhes pagarmos a nossa dívida.
Resumindo, a Alemanha tinha um mercado florescente na Europa para colocar os seus produtos, de que viveu durante anos e agora, perdendo mercado é compensada com os juros da dívida do dinheiro que nos empresta.
Dizem que uma imagem vale por mil palavras.
Eu acredito nisso. E vocês?
 
                           Férias para alemães                              Férias para portugueses

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Nem as pensam...


Estava meio distraído pensando que a costeleta do cachaço tinha ficado muito passada, quando a metade atenta sintonizou a voz do Godinho a dizer autênticas barbaridades reveladoras de que devia ler um texto elaborado por alguém que lhe emendasse as calinadas e as incongruências.
Registei esta: “Os árbitros estão a tratar o Sporting como um clube de terceira” (sic).

Isto é uma demonstração muito clara do que pensam os presidentes dos maiores clubes portugueses, com a pequena diferença de que, mais espertos que Godinho, não o dizem em público. Como qualquer pessoa deduzirá, Godinho queixa-se que o Sporting devia ser mais bem tratado pelos árbitros do que, por exemplo, o Olhanense.
Todos os fins-de-semana as análises dos representantes dos clubes mais importantes visam os jogos dos seus adversários mais diretos com clubes da segunda ou terceira categoria, para registarem se foram ou não beneficiados. Sendo-o como acusam não têm uma palava de conforto para os clubes que foram prejudicados. E ninguém faz uma referência ao facto de na maioria das vezes os clubes mais fracos serem realmente prejudicados.

Por isso Godinho acha que o Sporting está a ser tratado como um clube de terceira, o que bem vistas as coisas e segundo os critérios vigentes na apreciação das arbitragens, não estará incorreto. Por acaso não estará o Sporting na metade inferior da tabela classificativa?

50 anos depois!

Fico estarrecido quando me dizem que se os nossos credores exigissem o pagamento de todas as dívidas cada português tinha de adiantar mais de 18 mil euros, ou seja, a dívida total de 190 mil milhões de euros ficaria saldada.
Acusado de tal dívida, fico a pensar onde foi que eu próprio me empenhei para adquirir alguma coisa que não tivesse hipóteses de pagar.
Será porque comprei um PC feito na China a pronto pagamento? Então foi porque a parte do carcanhol que devia ir para os chineses ficou retido em algum recôndito lugar e talvez tenha servido para as férias de algum sortudo no Haiti ou mesmo em Cabo Verde.
Será porque comprei um popó alemão que paguei integralmente? Então foi porque alguém por mim comprou um topo da gama que não conseguiu pagar, ou pagando, o dinheiro foi perdido por algum banco em investimentos de alto risco.
Havia aqui perto um supermercado que fechou as portas, que é o mesmo que dizer que abriu falência, e como sempre acontece nestes casos, o dinheiro escoa-se para todo o lado menos para pagar aos credores, que entretanto também estão endividados e resolvem também abrir falência, já que é fácil e sai mais barato montar outra empresa com outro nome mas que nem por isso deixa de ser irmã gémea da outra.
Em 1953 eu e o meu irmão abandonámos os estudos porque o meu pai deixou de poder suportar os custos da nossa educação. Tinha uma pequena loja na província que deixou de suportar os gastos da manutenção da família. Não querendo abrir falência porque naquele tempo “perdia-se o nome na praça” e nunca mais poderia montar outro negócio, resolveu fazer um acordo com os credores para lhes pagar mensalmente uma determinada quantia.
Para tal, eu com 17 anos, e o meu irmão com 15, fomos trabalhar e dos nossos salários retirávamos uma parte para ajudar a pagar a dívida. Recordo, que quando tinha 26 anos e nasceu a minha filha, ainda contribuía mensalmente com uma parte do meu vencimento para cumprir aquele acordo.
Acordo esse que agora classifico de maldito, porque a falência passou a ser uma metodologia para se iniciar outro negócio, ficando perdidas no tempo as dívidas aos credores e, o que é ainda pior, os salários devidos aos trabalhadores. A noção de honra, nos dias de hoje, não existe e quando evocada dá vontade de rir.