sábado, 27 de agosto de 2011

Simbologia

Há muitos símbolos.
Eles podem ser representados por imagens, palavras, desenhos, esculturas, gestos, etc.
Existem símbolos para quase tudo: Os símbolos da justiça, da força, da inteligência, da beleza e da fealdade, da pobreza e da riqueza, da gula e da fome, da amizade, da traição, da coragem e da cobardia, da prudência, da guerra e da paz.
A Justiça, por exemplo, pode ser uma estátua em que a figura feminina é cega, usa uma balança e uma espada, visto que deve ser isenta, possuir boa capacidade de avaliação e poder de decisão. Há gente que usa balança, tem pelo menos um "espada" mas até vê sem óculos. Em Portugal dizem que é cega. Tá bem abelha!
A Força tem uma caterva de símbolos. Um deles é a águia, mas como bem sabemos as águias têm dias (às vezes anos) de fraqueza. O mesmo acontece com o Leão, o rei da selva, que se dá muito mal nos centros urbanos e fica tão escanzelado que em vez urros solta balidos. Do dragão nem devia falar já que não é deste mundo e ainda tem a mania que é símbolo de tudo: da nobreza, da magia, da transformação, da imaginação, da perseverança, da lealdade, do poder e da lealdade. Chiça, é um usurpador! Os chineses idolatram-no.
Creio que o símbolo da Inteligência é a coruja. Pelo menos, era como apelidavam dois ou três colegas meus do liceu que se distinguiam dos demais. Se calhar é por isso que quando vejo um tipo com apenas meio centímetro de distância entre os olhos, digo com os meus botões: este gajo deve ser uma autêntica máquina pensante.

Quanto à Beleza podemos ir de Vénus a Marilyn Monroe. Da fealdade, recordo Sócrates, “visita de casa de minha avó”.

Pobreza? Job. Coitadito.

Riqueza? Montes, toneladas de ouro. Para a Maya é o Ás de Ouros. Para mim é o Cristiano Ronaldo.

Da Gula tenho o Pantagruel da Berta Rosa Limpo e ainda o Gargantua e Pantagruel que o Rabelais transformou, se calhar sem querer, nos verdadeiros símbolos das grandes comezainas. Depois disso, e talvez inspirados nesta obra Franco Ferrari realizou o celebérrimo filme “A grande farra” de que me recordo sempre quando estou empanturrado com um jantar “à seria”, termo moderno usado até nos anúncios publicitários o que é, sem dúvida, muito “inducativo”.

Não falem da Fome que me recordo logo das crianças etíopes ou nigerianas que mais do que o símbolo da fome, são o seu retrato real. Claro, pois claro, também simbolizam a cegueira deste mundo ingrato, cínico e egoísta, mas isso é outra conversa.

Gosto tanto de falar de Amizade. Mas haverá algum símbolo próprio para este sentimento? Creio que não. A simbologia é tão vasta que pode ir de uma flor a um anel, de um simples gesto a uma grande emoção. Não existe outra sensibilidade que tenha produzido tantos pensamentos e citações. Gosto especialmente desta:

“Amigos são aquelas raras pessoas que nos perguntam como estamos e depois ficam à espera de ouvir a resposta.” .

Arranjei a bonita ao inserir a Traição nestas ligeiras e insípidas considerações?!
Traição, traição… bem… traidores foram Judas e Dalila. O primeiro até contribuiu para que o beijo seja, ainda hoje, considerado símbolo da traição. Mas que raio não podia ele ter dado apenas um “passou-bem” ao Senhor? E a Dalila? Se em vez de andar a matar filisteus, Sansão lhe tivesse pregado com a queixada de burro no toutiço, ainda hoje teria as suas belas tranças intactas. Até dizem, e eu acredito, que as únicas coisas que crescem depois da gente morrer são as unhas e o cabelame.

A Coragem ou Cobardia? Muito difíceis de medir. Ainda hoje andam a discutir se o suicídio é um acto de cobardia ou de coragem.
Nos momentos de perigo qualquer pessoa pode desatar a fugir ou passar ao ataque – é o instinto de sobrevivência que determina a acção. Esta é a distância entre as duas atitudes. Tão curta e tão longe. Também há quem fique petrificado – não mexe mesmo que lhe dêem corda.
Os actos de cobardia podem ser maiores e menores. Há graduações. Esconder-se um tipo atrás do anonimato para insultar o seu semelhante é desprezável embora o autor seja desprezível. Usar o poder bélico para assaltar pobres países que “saem fora dos eixos” é uma inaudita cobardia.

Prudência era a minha bisavó. Não se fala mais nisso embora seja sinal de prudência não sair à rua a desoras em determinados locais, usar o cinto de segurança e fazer análises médicas regularmente, mesmo que só consigamos marcá-las para o ano que vem. Há quem diga que a prudência era sósia da cobardia pelo que era normal tomar-se uma pela outra.

Quanto ao símbolo da Guerra temos Marte, para os antigos romanos. Alexandre também tinha a mania de andar à espadeirada, Napoleão aos tiros, Hitler à bomba e não falo de mais nenhum para não ofender ninguém. Prefiro recordar que ao temperar um coelho para o almoço de amanhã o condimentei com alecrim e manjerona – Ó Zé da Silva, que guerra foi essa?

E da PAZ?
A.M.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Viagem a um passado recente

Que bons tempos foram aqueles do "Desabafe connosco" e de seu filho legítimo "Blogues do Leitor"! 
Lá estão ainda os seus restos mortais, qual cemitério que ninguém visita, quieto, imóvel, parado, estagnado, estático, firme, quedo, aguardando o cumprimento da promessa do JN (ou alguém por ele) de regressar em novos moldes.
Prometer não custa. O mais difícil é cumprir.

Recordo um usuário (não vou dizer nomes) que escrevia referindo-se aos “moinhos de vento” que lhe infernizavam a carola:
(…) já tinha dado mais espaço aos reles e baratos protagonistas e exibicionistas que por aqui vagueiam e deambulam (…).

Se eu fosse ele, teria matraqueado, repisado, recalcado, martelado, malhado, repetido, sublinhado ainda com maior ênfase as características complementares e verbais atribuídas aos ditos “moinhos” e teria escrito:

Já tinha dado mais espaço aos reles, baratos, pífios, safados, apagados, gastos, ordinários, inferiores, rascas e medíocres, protagonistas, exibicionistas, fanfarronas, gabarolas, vaidosos, convencidos, emproados, presunçosos, enfatuados que por aqui vagueiam, deambulam, devaneiam, erram, passeiam, flainam e vagabundeiam…

Ainda há quem esqueça a riqueza da nossa língua pátria e receie, doentiamente, que ela se deixe conspurcar por influência exteriores vindas de outras latitudes.
Mesmo que vinda do espaço, uma nave tripulada por extraterrestres coberta de poeiras cósmicas, não conseguirá abalar a estrutura da língua portuguesa.
Mimem! Se quiserem!


A.M.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

O que mudou, afinal?

Em 14/12/2009, Mário Crespo esceveu um artigo de opinião intitulado "O Palhaço.

Está porreiro, pá! Está um mimo, até o Eça ficaria cheio de ciumes por não ter atingido tão sábia e inteligente ironia nas suas crónicas.
Fico agora à espera do 2º episódio de "O Palhaço".
Ou será que o circo fechou para férias e não vai haver mais palhaçadas?
Que pena...!?
A.M.

Ler em: http://www.jn.pt/paginainicial/interior.aspx?content_id=1446678





quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Cantas bem, mas ninguém ouve!

Quando um gajo chega aos oitenta anos e desata a desfazer-se dos seus bens, há diversos aspectos a considerar.

1 - Lembrou-se que era católico e quer um lugarzinho no paraíso.
2 - Professa uma religião oriental que recomenda esse procedimento.
3 - Não é atreito a religiosidades, mas quer deixar uma boa imagem da sua pessoa. Talvez, até, uma comenda a título póstumo.
4 - Ficou gagá.
As três primeiras situações são atitudes do foro íntimo não passíveis de avaliar quanto à sinceridade das atitudes assumidas.
O quarto caso é uma subdivisão onde é inserido qualquer um dos três primeiros, quando os herdeiros que já tinham feito planos a contar com a “maçaroca” do velho, tentam gastar os últimos tostões para considerá-lo insano e interditá-lo. Há médicos e advogados para o efeito se a herança é choruda.
Isto parece que não vem a propósito de nada, mas efectivamente vem.
Vem a propósito de Warren Buffett, um velhote de 80 anos, em 3º lugar na lista dos mais ricos do mundo, que confessa publicamente que paga poucos impostos e logo tem sido injustamente “mimado”. Exorta o governo a agravar os impostos dos mais ricos. “Infelizmente”, Obama já se tinha comprometido a não agravar as taxas das grandes fortunas.
Vai ficar tudo em águas de bacalhau!
Entretanto, família e amigos já se movimentam para lhe passarem um atestado de loucura, não vá ele insistir e a moda pegar!
A.M.
Nota: Hoje fiquei muito feliz por saber que a taxa de desmprego baixou 3 décimas no 2º trimestre.
Que bom, não é?

domingo, 14 de agosto de 2011

Pharoes

Vasco foi sempre avesso a acordos ortográficos em que a matriz fosse posta em causa. Sempre defendeu a teoria de que todos os países lusófonos se deviam sujeitar às nossas regras, pois nós é que demos mundos ao mundo e ao longo de mais de 850 anos de história, semeámos a língua portuguesa por tudo o que era império português.
Pelo menos, entendi que das diversas campanhas desenvolvidas tanto para bloquear o acordo como mais tarde para o anular, Vasco considerava que não devíamos ter cedido em muitos aspectos do acordo.
O Poeta, cuja obra admiro, pese o desacordo quanto ao acordo, escreve um poema que se intitula “Lamento para a língua portuguesa” em que, de forma mais que perfeita, nos transmite o seu pensamento quanto às alterações que a nossa querida língua sofreu. Como leigo não ouso discutir os pormenores técnicos que Vasco Graça Moura possa advogar para discordar desta ou daquela modificação.
Cem anos atrás escrevia-se “Deos”, “cercára”, “ceo”, “phantasia”, “patria”, “proprio”; “suicidio”; “pharoes”, etc.
Calculo que tenham existido personalidades importantes e conhecedoras da matéria que também terão protestado por muitas das alterações que ao longo do tempo estes e outros vocábulos sofreram.
Das discussões havidas sobre conservar os cês ou eliminar os cês, colocar ou retirar acentos ficou em muita gente a ideia de que os brasileiros não tinham feito cedências. É natural que tenham feito menos do que nós, dado o peso que tem uma população vinte vezes superior à nossa num acordo ortográfico.
Há dias pendurei um e-mail no sítio da Academia Brasileira de Letras em que interrogava:
- No Brasil acentuam voo e enjoo? Agradecido, A.M.
A resposta:
- Perderam a acentuação com as novas regras ortográficas, Antônio
Isto é, tiveram que retirar os acentos destas palavras enquanto nós já não as acentuávamos.
Claro que não deixo de ser o António por me chamarem Antônio.
A.M.

sábado, 13 de agosto de 2011

Rebentou a Mitra no Reino Unido?

David Cameron resolveu pedir ajuda a Bill Bratton, ex-chefe da polícia nova-iorquina, para colaborar na resolução da insurreição que vem ocorrendo em diversas cidades do Reino Unido.
Este super polícia reformado, tem participado activamente na ajuda a diversos países da América Latina para atenuarem o índice de criminalidade que existe nas suas cidades.
É uma máquina a caçar amotinadores, ladrões e assassinos!
Não interessa que o mundo saiba que existem contestatários à política do governo; então, David, tira a carola do buraco, onde a tem enfiada tal e qual como a avestruz, para apregoar que é tudo uma malandragem, uma corja de gatunos, que só agora atacaram em força porque acordaram do período de hibernação, que é uma característica fora do comum a larápios de outras latitudes.
Com o Bill vai tudo parar à choça, incluindo os contestatários, que, coitados, só pretendiam chamar a atenção para as suas miseráveis vidas.
Se me é permitido opinar eu preferia que o super-polícia não saísse dos States.
Creio que o município de Filadélfia consegue superar a oferta inglesa pela sua contratação porque está muito necessitado de alguém que acabe com os violentes ataques de grupos de jovens “amaricanos” aos residentes daquele estado.
Teria o trabalho facilitado atendendo que já foi decretado o recolher obrigatório para menores de 18 anos.
Mas porque não ocorre a Cameron fazer o mesmo na doce e calma Albion?
Se é tudo miudagem!?

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Particularidades

Certo dia, já lá vão muitos anos, um oficial à paisana entra no quartel e o plantão à porta de armas não o cumprimenta.
Volta atrás e dirige-se-lhe:
- Ouve cá, não me conheces!
- Não senhor.
- Sou o tenente Pavão Machado.
- Oh, desculpe. Sabia que era Machado. Não sabia é que também era Pavão.
Esta história que tem cerca de 50 anos circulou algum tempo no quartel, mas não afianço que o caso se tenha passado desta maneira. Talvez lhe tenham “acrescentado alguns pontos”. Mas garanto que o personagem é real, não sabendo, contudo, se ainda é vivo. Se for, aqui vão os respeitos de um camarada d”armas; se já não estiver entre nós, os meus pêsames aos familiares.
Este caso, a ser autêntico, não teve um desfecho grave dado que o oficial, era ou será ainda pessoa calma, educada e despretensiosa. Todavia existem VIP’s que por falta do tratamento diferenciado que pela sua posição social julgam merecer “puxam dos galões” para castigar o inferior.
Foi a leitura do reencontro de Cameron (não confundir com Decameron) com a dona do café que não o tinha reconhecido quando da primeira visita, que me levou a falar deste assunto e a recordar aquela história.
Segundo consta quem ficou muito alarmado foi o Prefeito do Município que tentou emendar a grande inconveniência convidando formalmente o PM para uma bica no mesmo estabelecimento.
Francesca Ariani reconheceu que tinha cometido um erro, pediu-lhe desculpa por não o ter reconhecido e obrigar a ir ao balcão buscar os cafés que tinha pedido. Ele é mesmo adorável – reconheceu deliciada.
Até tiraram uma fotografia juntos
E por cá? Cá os seguranças encarregar-se-iam de servir Sua Excelência.


A.M

domingo, 7 de agosto de 2011

Mundo Cão

Toda a gente fica muito pesarosa quando se noticia que um velhote foi encontrado morto em casa ao fim de uma semana, um mês, um ano, ou mais.
Por saberem da poda, a classe jornalística explora estas notícias até ao tutano, meticulosamente e pior ainda: usa decoração florida para realçar cada episódio.
Mas eles também sabem que a especulação de qualquer assunto tem um tempo próprio, para além do qual, o interesse das pessoas começa a ficar saturado.
Por isso, parece que já não é notícia encontrar um velho morto em casa ao fim de algum tempo, como num passado recente em que todos os dias havia um ou dois. Como é evidente continuam e continuarão a morrer pessoas por esse mundo fora cujos corpos só são encontrados muito mais tarde.
Em primeiro lugar quero aqui afirmar peremptoriamente que me importo muito mais com o isolamento em vida, seja de quem for. Estou convencido que mesmo com a casa cheia de gente e beatas carpideiras à volta da cama, o candidato a defunto já não vê nem ouve nada – está sozinho.
Vem isto a propósito de uma notícia que li hoje num jornal diário a propósito daquele celebérrimo caso da Idosa que esteve morta nove anos em sua casa em Rio deMouro.
Pasme-se: Os sete herdeiros estão a tentar anular o processo fiscal que resultou da venda da casa em hasta pública por motivo de não se conseguir apurar onde está o recheio da dita.
Ou seja, durante nove anos não lhes interessou saber se a velhota era viva ou morta, mas agora estão muito interessados nos seus haveres.
Ai, se isto fosse na Babilónia e eu Salomão…!?

sábado, 6 de agosto de 2011

O Saudoso JohnS é vivo!

Ai que saudades eu tinha deste JohnS.

Quando hoje, por mero acaso, li o seu comentário no JN sobre a reacção dos credores dos EUA à diminuição da classificação da sua dívida, o meu humor, que estava a valores negativos, subiu em flecha e rebentou numa gargalhada que acordou o meu vizinho do lado.

Mas que saudades eu tinha!

Fica aqui, para a posteridade, com muito suor, a sua opinião sobre tão momentoso tema:

“O OURO ESTA TODO NOS AMERICANOS, NAS RESERVAS SÃO 8 MIL TONELADAS, NO FMI SÃO MAIS 2 MIL TONELADAS QUE PERTENSEM AOS AMERICANOS, NUM TOTAL DE 10 MIL TONELADAS, JÁ NAO CONTANDO COM AS MILHARES DE OURO NAS MÃOS DOS 300 MILHÕES DE AMERICANOS. RSRSRSRSRSRSRSRSRS.”

Chamo a atenção para as maiúsculas. Elas, as letras todas muito grandes, significam que o tom de voz subiu uma data de decibéis para que esta opinião chegasse aos antípodas, mesmo sem ondas curtas.

Aliás a coisa, porque efectivamente se trata de uma coisa, nem precisava de ser assinada. Quem não se recorda do “pertensem”?

Ena tanto dinheirama!

Porque não pagam o que devem à China?

Será que isto é mentira?

“O departamento do Tesouro tem sido pouco transparente com os resultados das suas auditorias acerca das nossas reservas de ouro. Ele pede ao povo americano para confiar que todo o ouro está lá, enquanto não permite visitas aonde ele está guardado nem publica todos os dados contidos nas suas auditorias”, disse Ron Paul num comunicado de imprensa. “Uma vez que a maior parte deste ouro foi originalmente tirado do povo americano na década de 1930, o mesmo povo merece mais transparência do que um punhado de demonstrações financeiras”.

Se calhar têm os cofres cheio de pechisbeque!

Tem calma John, não te enerves…

A.M.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Dar de beber a quem tem sede

Depois que a recomendação “dar de comer a quem tem fome” foi para o brejo devido à preocupação dos bem alimentados em defender a sua farta mesa das benesses que o poder automaticamente lhes confere, entrou-se numa espiral, que com a força dum tornado empurra uns para cima e outros para baixo.

Conheci uma mulher que esperou que a filha chegasse do emprego para ir ao mentiroso empenhar os sapatos que trazia calçados para a família comer. Um velho colega da escola, possivelmente já falecido, chorou copiosamente, não por ter chumbado na 3ª classe, mas porque perdeu o direito a um ovo estrelado que a mãe lhe prometera se ficasse bem no exame. Sei de muitas famílias que viviam a crédito na esperança de saldarem as suas dívidas no fim do mês e acabavam por vender ao desbarato os parcos bens que possuíam.


- Três corpetes, um avental
Sete fronhas e um lençol
Três camisas do enxoval
Que a freguesa deu ao rol


Havia outros róis, meus caros jovens!
Também havia o rol onde nas mercearias se registava o fiado.
- Ponha na conta – diziam.
No fim do mês, se as coisas corriam mal, tinham que enfrentar o ar carrancudo do merceeiro para se desculpar:
- O meu homem está desempregado… Se pudesse pagar para o mês que vem…?


Hoje é tudo muito mais fino e sofisticado.
Existem umas entidades sem rosto que nos telefonam a desoras para nos oferecer crédito.
- Já tenho um de 500 euros, não preciso de mais.
- Mas as condições… o tempo…
- Porra, já disse que não quero mais crédito nenhum! Chiça!


Depois, mês a mês, a conta crescia, e o candidato a cacique, lá ficava com mais alguns acres na sacola.
Agora, que os anéis, os colares e porque não os próprios sapatos são vendidos ao desbarato na vã tentativa de prolongar a vida de um estado agonizante, que, como já li algures, procura “suster a insustentabilidade”, transfigura-se-me o semblante, fico com medo de sair à rua e assustar os passantes.
As águas?
Também vão vender as águas?
Mas eu sempre a paguei, com mil diabos! Pago à câmara não sei quanto por metro quadrado; quando olho para a factura fico petrificado. No mês passado acrescentaram à conta mais vinte e tal euros de saneamento.
Não estão a falar da água do Luso, pois não? Porque essa já eu pago no super e creio que já está privatizada. Será alguma empresa com capitais alemães?
Afinal que águas é que vão privatizar?
Será a da chuva?
Será a do mar salgado?
Já não tenho muitos anos de vida, mas começo a pensar que se calhar ainda vou assistir à privatização do ar a preços variáveis em função da sua pureza. Ou seja, o ar da Serra de Sintra custará o dobro do ar de Lisboa, por causa dos gases. Uns e outros.
Ser-nos-á montado um chip individual que contabilizará o consumo da energia que usamos para purificar o nosso rico sangue. Respirar devagarinho, não fazer inalações muito profundas, como por exemplo soltar suspiros muito prolongados que conduzem à subsequente inspiração de oxigénio para ocupar o espaço pulmonar entretanto vago, é aconselhável.
O que certamente já não vou ter oportunidade de assistir é ao dia em que a 10 de Julho será prestada homenagem póstuma a todos aqueles que morreram com falta de ar.


A Pátria reconhece, agradecida!


Água fria da ribeira
Água fria que o sol aqueceu…


A.M.




PS - Imagem recolhida em:
http://biosabermais.files.wordpress.com/2008/03/agua.jpg

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Induções automáticas

Não consigo reagir a esta mania de estabelecer ligações com tudo o que diariamente oiço ou leio, aqui, ali, em qualquer lado, nas situações mais diversas e por vezes despropositadas.


Hoje, ao ler um jornal “online”, saltou-me a carola para o José Mário Branco.
Fui-me à prateleira dos CD’s e rapei do disco.



Esta é a letra:


Chamava-se ela Marta
Ele Doutor Dom Gaspar
Ela pobre e gaiata
Ele rico e tutelar
Gaspar tinha por Marta uma paixão sem par
Mas Marta estava farta mais que farta de o aturar
- Casa comigo Marta
Que estou morto por casar
- Casar contigo, não maganão
Não te metas comigo, deixa-me da mão
Casa comigo Marta
Tenho roupa a passajar
Tenho talheres de prata
Que estão todos por lavar
Tenho um faisão no forno e não sei cozinhar
Camisas, camisolas, lenços, fatos por passar
- Casa comigo Marta
Tenho roupa a passajar
- Casar contigo, não maganão
Não te metas comigo deixa-me da mão
Casa comigo Marta
Tenho acções e rendimentos
Tenho uma cama larga
Num dos meus apartamentos
Tenho ouro na Suíça e padrinhos aos centos
Empresto e hipoteco e transacciono investimentos
- Casa comigo Marta
Tenho acções e rendimentos
- Casar contigo, não maganão
Não te metas comigo deixa-me da mão
Casa comigo Marta
Tenho rédeas p´ra mandar
Tenho gente que trata
De me fazer respeitar
Tenho meios de sobra p´ra te nomear
Rainha dos pacóvios de aquém e além mar
- Casas comigo Marta
Que eu obrigo-te a casar
- Casar contigo, não maganão
Só me levas contigo dentro de um caixão


Mas que coisa esta!
A.M.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Esquerdo, direito... um, dois...

Quando se discutem problemas de carácter político e se declara que determinada medida é de direita ou de esquerda há sempre alguém que em tom jocoso pergunta:- Eh pá, o que é isso de direita e esquerda?
Podia ser um tarata confundindo a mão direita com a mão esquerda, mas normalmente não é. São pessoas que conhecem muito bem onde nasceu a ideia de designar as forças políticas de esquerda ou de direita em função das ideias e propostas que fazem para solucionar os problemas da sociedade em geral.

Podemos especular um pouco sobre este assunto.
Se duas das forças (o clero e a nobreza) que compunham os Estados Gerais, em finais do século XVIII em França, se sentavam do lado direito do rei e a terceira (a população que restava) do lado esquerdo, a verdade é que para quem assiste de frente para tal representação vê o clero e a nobreza do lado esquerdo do rei e os restantes do lado direito. Se a perspectiva escolhida tivesse sido a da assistência é evidente que quem hoje se diz de esquerda seria de direita ou vice-versa.

O que ninguém certamente contestará é a existência de interesses antagónicos entre os diversos extractos da população de qualquer país. Propositadamente não apelido esses grupos de classes já que há quem não goste e dizem que isso já não existe. O que mudou foi a sua composição, principalmente aquela que se sentava à esquerda do rei e era composta por banqueiros, médicos, comerciantes, sapateiros, militares, artesãos, etc., etc. Destes, muitos passaram para o lado direito do rei. Porquê? Porque passaram a ter interesses idênticos aos que tinham o clero e a nobreza, os quais por sua vez perderam alguns dos privilégios de que disfrutavam.

Lembrei-me de falar deste assunto a propósito duma notícia lida hoje num matutino:
“O presidente Obama não deve precisar de mais autorizações neste mandato. Impostos dos mais ricos devem ficar fora do esforço.”

Sobre quem vai recair o encargo de equilibrar as contas públicas?

Se ao menos os banqueiros ainda hoje se sentassem do lado esquerdo do rei…!?
A.M.