segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Poupemos!

Há dias veio parar à minha caixa de correio um “panfleto” (chamemos-lhe assim) que continha o nome de diversos administradores de empresas públicas e semi-públicas denunciando o que recebem pelas presenças nos respectivos conselhos de administração.
Alguns deles já estiveram presentes em programas televisivos debitando a sua opinião sobre a crise económica e os caminhos para a resolver do qual sobressai em primeiro lugar a poupança. É preciso poupar! – Recomendam. É preciso fazer sacrifícios! – Acrescentam.
De sacrifícios falou também S. Exa. o Presidente da República:
                 “Acabaram as ilusões”.
                 “Os sacrifícios não bastam”.
                 “É necessário pôr a economia portuguesa a crescer”. 
                 “É crucial poupar mais, trabalhar mais e melhor”.
E recomendou:
                 “Os detentores de cargos púbicos devem dar o exemplo.”

Acabaram as Ilusões? Para quem?
Quem é que tem de poupar mais?
Quem é que tem de fazer sacrifícios?

Exemplificando:
Um desses administradores recebeu 193.000 euros num ano, tendo participado em 33 reuniões, o que dá 5.300 euros por reunião. Se as reuniões durassem, que não duram, oito horas teríamos 33x8 = 264 horas de trabalho, que sendo quociente de 193.000 euros representaria cerca de 730 euros por hora.
Este administrador participou em diversos programas de televisão como economista e também, tal como outros recomendou poupança e sacrifícios.

Creio que a ele e os outros como ele (que são muitos) nunca foram confrontados com um pedido de auxílio de outros (que são muito mais) no sentido de lhes ser explicado como e onde devem poupar.
Foi o que aconteceu a um economista depois de numa estação radiofónica afirmar que já há mais de dois anos vinha dizendo que era preciso poupar.
- Desculpe, Dr. acabei de o ouvir e gostava que sugerisse onde e como devo poupar, para não me endividar mais do que já estou.
- Sei lá! Olhe, por exemplo, reduza o consumo do tabaco.
- Calha bem. Eu nem fumo.
- Faça apostas mais moderadas no Euro milhões.
- Nunca joguei.
- Então deixe de ir ao futebol.
- Já me deixei disso, desde que o Matateu saiu do Belenenses.
- Use menos vezes o carro. Vá para o emprego de autocarro ou de comboio.
- Não tenho carro e às vezes até vou a pé
- Mau, experimente ir jantar fora, menos vezes.
- A última vez que fui comer fora de casa foi há 10 anos. Fui com a mulher e os filhos ao Frango na Púcara em Almargem do Bispo.
- E não consegue poupar no consumo da água, do gás, da electricidade?
- Lá em casa está estipulado que ninguém pode estar debaixo do chuveiro mais de minuto e meio. Há dias vendo que se tinha esgotado o tempo a que o meu filho tinha direito – zás, fechei o esquentador. Quando ele saiu a tiritar, avisei-o: – Para a próxima fecho-te a água!
 - Caramba, deve haver qualquer gasto que possa evitar. Em vestuário, calçado, por exemplo?
- Ultimamente a mulher corta a fralda das minhas camisas para fazer os colarinhos que de tão puídos até já se vêem as entretelas. O calçado? Vou comprar aos ciganos ou aos chineses, daqueles “use e deite fora”. Mandar pôr meias solas sai mais caro.
- Realmente não vejo…
- Para lhe poupar mais sugestões digo-lhe que só corto o cabelo 4 vezes por ano, só faço a barba de três em três dias porque as gilettes são caríssimas, lavo a cabeça com sabão azul, só ponho meio centímetro de pasta na escova de dentes e uso papel higiénico de folha simples.
- Sim, realmente… Tenho que ir andando.

E foi. Enfiou-se no volvo S 60 e saiu acelerado. Era hora de almoço e a mulher estava à sua espera no Gambrinos.
A.M.

5 comentários:

José Leite disse...

Poupai, poupai... cassete dos sempre em festa!

durindana disse...

... e como não poupamos, somos assaltados, esbulham-nos de parte de pensões e ordenados e tudo isto para quê?
Ainda se fosse para melhorar a situação das famílias que estão a atravessar graves períodos de sobrevivência, tudo bem, mas já se vai vendo, cada vez mais claramente, que isto não nos vai fazer crescer e sair do atoleiro em estamos.
Um dia destes, não tendo mais nada para nos sacar tiram-nos a pela, curtem-na e mandam-na para a china para fazer sapatos. Ainda haverá alguma mão de obra incorporada.
Paciência que te esgotas!
Abraço A.M.

Carlos disse...

E esta coisa da internet, das redes sociais, dos blogues?...
Já pensaram na electricidade que se gasta?
Fora o tempo, que era tão bem empregue a mondar nabiças ou a tirar galinhaço do capoeiro.
Já tenho a ementa para a semana:
Açorda (pão duro, água,alho e 1 ml. de azeite), com ovo (só às terças e quintas).

José Leite disse...

Amigo Mata.

Obrigado pelo seu generoso comentário. Pode colocar nos «Liricos do Campus»...

Não tenho lá ido por ter perdido os dados e sinceramente nem sei como emntrar outra vez...

durindana disse...

Carlos, eu estou neste momento a reconverter o jardim para quintal.
Estou a arrancar 90 m2 de relva para plantar alguns legumes, como por exemplo feijão verde (mas daquele que fica encarnado depois de seco), couve-repolho, espinafres, pimentos, alfaces e pepinos. Vou também experimentar os tomates.
Vamos lá ver se a produção dá para exportar alguma coisa para o norte do país por troca com batatas, que é um produto que não se dá muito bem em terrenos demasiado calcários.
Entretanto, para seguir o seu conselho quanto à poupança, estou a projectar enviar já por SMS as boas festas a todos os familiares e amigos para poupar 1 cêntimo por cada uma, que dizem já estar na forja de S. Bento. Quanto aos recados pelo éter, sugiro o regresso ao pombo-correio, se entretanto o milho não aumentar. Ah, já me esquecia, regressemos ao vinho porque a água vai aumentar. Segredinho de orelha – preparados para privatizar as águas, aí estão eles a valorizar o produto para lhes render mais uns patacos, possivelmente para cobrir algumas despesas inesperadas com o consumo da “gasolina”.
Essa do ovo às terças e quintas sugeriu-me uma boa ideia: vou montar uma capoeira.
Vá sugerindo mais coisas. Sejamos inovadores! A inovação é a tábua de salvação!