sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Relvas, para que te quero?

Estou a rebentar pelas costuras! Embora cosido com linha glacê nº 24, o tempo, os puxões e repuxões que ao longo dos anos fui sofrendo estão a abrir brechas cuja reparação é completamente inviável.
Hoje, por exemplo, que tinha destinado aproveitar esta aberta, anunciada pelos meteorologistas, para cortar a relva do jardim, dou de caras, com a notícia de que o Relvas me quer cortar os subsídios.
Entalado entre a relva e o Relvas decidi escapar-me para este recanto para meditar no assunto. Decidi cortar no Relvas e deixar a relva para outro dia.
Não é por acaso que eu também sou da opinião que esses dois apêndices subsidiários não deviam existir – o que deviam, já que os criaram, era dividir a soma dos dois subsídios por 12 e incorporar 1/12 em cada vencimento mensal. Como é evidente, o patronato, seja ele público ou privado, ao reter uma parte daquilo que faz parte do rendimento anual dos agregados familiares, ainda retira lucro, sobre a forma de juros, pela retenção desse dinheiro.
Miguel Relvas, julgando que o povo deste país é estúpido, acena de lá com o argumento de que há muitos países que só têm doze vencimentos. Pois haverá, e em qual desses países o rendimento das famílias, mesmo sem os subsídios, é inferior ao nosso?!
Relvas, se fosse honesto e estivesse interessado em dizer a verdade aos portugueses devia explicar-nos porque razão o nosso salário médio anual é apenas 35% do da Dinamarca, de 35,5% na Alemanha, de 37% na Bélgica, de 37,6 no Luxemburgo.
E se nos disser que é por causa da produtividade ser muito baixa, então perguntarei: - De quem é a culpa? Dos trabalhadores não deve ser, dado que, tendo emigrado para países com muito mais altas taxas de produtividade, certamente contribuem positivamente para as mesmas, facto que é unanimemente reconhecido, aqui e no estrangeiro.
Porque raio de carga de água os nossos investidores, tendo acesso à tecnologia de ponta, teimam em usar sistemas e equipamentos de 2ª e terceira geração? Deve saber melhor do que eu, dado que é uma pessoa viajada e com grande influência em países de elevado nível de vida.
E se por acaso não sabe é porque não é sócio do Clube Bloomberg, mas não desespere, pois no próximo ano será certamente convidado.
O que eu também gostava de saber é se este nosso ministro, quando parece sugerir que passemos para o sistema dos doze vencimentos, está ou não está a considerar o sector privado dado que há poucos dias o seu líder PM disse ao PR que cortar salários no privado é injusto e imprudente. Como não deve haver dissonância entre um ministro do grupo parlamentar e o seu líder governamental calculo que efectivamente os cortes nos subsídios são apenas para a função pública.
Falemos então do peso da função pública, que nos querem fazer crer ser a hormona das gorduras do estado. Um tipo qualquer (faz de conta que não conheço) sugere a degradação dos vencimentos dos funcionários públicos, de tal modo que ninguém lá queira ficar e ninguém queira entrar. Solução melhor seria matá-los! Com a raiva que anda no ar seria fácil constituir um pelotão de fuzilamento para dar cabo deles todos. Todos não, porque alguns têm de ficar para conduzir os popós dos senhores ministros e mais os dos seus amigos directores e administradores das empresas públicas e semipúblicas e talvez alguns contínuos para carregarem com as pastas dos ditos, para além, como está bem de ver, dos seus conselheiros e assessores, médicos, enfermeiros e segurança privados.
Este diabinho maldito, sabe melhor do que eu, porque já foi ministro das Finanças (vejam só) que se as forças políticas em alternância desde o 1º governo constitucional tivessem elaborado um plano para reduzir drasticamente o número de trabalhadores da função pública, hoje, 36 anos depois, o problema estaria resolvido sem causar sofrimento a ninguém. Basta pensar que 36 anos depois, se não tivesse havido admissões, já não haveria nenhum funcionário público no activo.
Para tanto bastava que calmamente os serviços fossem reorganizados de modo a que a introdução das novas tecnologias e novos métodos de trabalho fossem suplementando as saídas para a reforma.
Ter-se-ia evitado o aparecimento dos “messias de meia tigela” com soluções drásticas que vão colocar milhares de famílias em situação de insolvência.
Relvas, amigo, o povo não está contigo!
A.M.

1 comentário:

Carlos disse...

Há quem fique contente, alegre e satisfeito.
Ele há lá coisa melhor que ver "esses malandros" pagar os desmandos dos outros?