segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Atitude mascarada

     Hoje, 24 de Outubro de 2011, tive a grata surpresa de saber que dois ministros do actual governo decidiram prescindir do subsídio de alojamento. Creio que nenhum deles deixará de ter um teto onde se abrigar, principalmente agora que regressou a chuva e o inverno está aí à porta. 
     O que não posso deixar de mencionar, apesar da moderação que imprimo aos meus comentários, é o facto de esta atitude ser consequência de críticas públicas e não de decisões tomadas no momento em que certamente muito penalizados e constrangidos assinavam diplomas que retiravam não só regalias, mas também direitos a quem não tem uma casa para morar, a quem corre o risco de despejo por não pagar a renda ao senhorio, ou por não conseguir pagar ao banco a amortização do empréstimo.
     De qualquer modo, registemos o facto. Pode ser que, perante estes exemplos, a vergonha, planta em perigo de extinção eminente, renasça e se multiplique.
     Seria preferível, como é evidente, que em vez de se brincar à caridadezinha, do género – eu prescindo do meu subsídio e eu do meu abono, ou do meu gabinete som secretária e carro com motorista à porta, ou de uma das três ou quatro mensalidades que recebo dos diversos conselhos de administração onde só vou de quando em quando – se legislasse para terminar com as mordomias da maioria dos políticos e dos seus amigos administradores de fundações e institutos que em vez de contribuírem para salvação da nossa economia ajudam a afundá-la. O que os impede? Têm a caneta e têm o poder!
     Não posso deixar de realçar a tentativa do Ministro da Administração Interna, tentando transformar um facto imoral, numa atitude honesta, humanista e altruista, ao realçar que foi tomada de livre vontade, visto que é um direito há muito tempo previsto na lei.
     Estará? Se está, é um privilégio, e como tal deve acabar. Tendo sido retirados alguns direitos a grupos socioprofissionais com o argumento de que eram privilégios, porque terá que ser a atitude deste sr. Ministro considerada como um caso exemplar de solidariedade.
     O sr. Ministro da defesa seguiu o exemplo.
     Para os militares, se bem me lembro e a lei não foi alterada, só têm direito ao subsídio de alojamento aqueles cuja residência se encontre a mais de 50 Km da unidade onde estão colocados.
     Por acaso estará Algés a mais de 50 quilómetros do Parlamento,
     O privilégio é uma excepção ao direito comum.
     Em que ficamos?
     A excepção não devia ser atribuir subsídio de alojamento a quem não tem casa e não a quem tem duas?!
A.M.

1 comentário:

José Leite disse...

Tiro o meu humilde chapéu a esta judiciosa análise.

A vergonha na cara ainda existe... valha-nos o Senhor dos Malguiados!!!

Rouxinol de Bernardim