segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

O homem é um animal de hábitos?

Oliver Twist nasceu cerca de cem anos antes de eu próprio ver a luz dia.
Dickens concebeu-o como um órfão que, perdido no mundo, resiste às tentativas de subversão a que é sujeito.
Acontece que a citação do próprio autor de Oliver - o homem é um animal de hábitos - levanta uma série de questões que dariam para uma salutar discussão numa noite de inverno, à lareira, sorvendo cacau bem quentinho. Hei!... Sim, pois, em alternância pode ser ponche ou irish coffee.
Afinal, o que é o hábito?
A própria definição é um tanto ambígua: “disposição natural para a prática de certas coisas ou adquirida pela repetição frequente dos mesmos actos”.
Será que a disposição natural para a prática de certas coisas pode ser alterada pela prática de certas coisas que nos são impostas por outrem ou pelas circunstâncias da vida?

A minha experiência, já com barbas brancas, é a de que sim, não tanto pela imposição de alguém em especial, mas especialmente pelas contingências da vida.

Assim, de um momento para o outro tive que abandonar uma série de hábitos adquiridos por repetição diária, para me dedicar a uma nova actividade: “homem-a-dias”.
Já não vou semanalmente ao clube de que sou o sócio nº 2, nem às assembleias da associação profissional de que sou sócio nº 3, já não compro o jornal todos os dias, perdi o hábito de visitar alfarrabistas, de ir todos os anos à minha terra para contar as pedrinhas da calçada e até passam dias e dias sem visitar a Net e deixar pespegada uma piada ou um lamento nos sítios que visitava.
Agora, começo a habituar-me a ir ao mercado comprar batatas, a inventar o almoço ou o jantar, a lavar a loiça do almoço, a fazer máquinas de roupa e pendurá-la no estendal, a aspirar as passadeiras e até a fazer pão em casa para não ter que ir à rua comprá-lo.

Ora acontece que todos os hábitos por mais rotineiros que sejam acabam por nos cansar a psique, desencadeando estados que amarfanham a alma e bloqueiam os neurónios. Recorrer à imaginação para inventar, alterar ou melhorar as novas práticas é o antídoto aconselhável.

Exemplificando.
Há dias, enquanto o pargo assava no forno e olhava para os marmelos que o meu vizinho me ofereceu, deu-me para fazer doce com eles.
Não vou aqui dar receitas de marmelada que se encontram às centenas na Net, nem tão pouco do aproveitamento que, em sequência, se pode fazer das cascas e cascabulhos.
O segredo está em ir um pouco mais além e recrear o acto final usando a imaginação de que todos temos um pouco.
Enfrascar a geleia, que não por acaso ficou óptima e colocar-lhe um rótulo sugestivo transpõe-nos do plano rotineiro (habitual) para o campo criativo, que nos compensa da sensaboria do acto repetido e automático que nos reduz e apouca.

Ora olhai este belo rótulo.





















E as características do produto?...


















PS – Porque será que quando escrevo no Word “mulher a dias” não fica sublinhado como erro e fica quando escrevo homem a dias?
E depois eu é que sou machista!
Tá bem abelha.
A.M.