quinta-feira, 25 de novembro de 2010

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Meu diário, meu amor!

25 Agosto de 2005

Há muita gente que logo de manhã compra ou manda comprar todos os jornais do dia apenas para consultar assuntos específicos relacionados com a sua actividade. Pouco tempo depois já estão no caixote do lixo.
Mas a grande maioria de leitores são aqueles que, contaminados por um estranho vírus afectivo, compram todos os dias apenas um determinado jornal, que devoram página a página, letra a letra, como se, dado o seu preço, até o tutano lhe devessem chupar. Às vezes deixam uma coluna para saborearem mais tarde, talvez ao serão. Entram em vertiginosa órbita giratória quando dão conta que o jornal entretanto desapareceu porque serviu para forrar o caixote do lixo.
- Quem foi a besta que já me fez as palavras cruzadas? – Dizem quando se preparavam para aquele ritual diário e dão conta que alguém, lá em casa, se lhe adiantou.
Tomados por avassaladora paixão vão ter mais dificuldade em divorciar-se dele do que da própria mulher.

Eu pertenço a esta classe. Estou enforcado há pouco tempo com um, e ainda sinto saudades do meu primeiro, o qual tive que mandar para o brejo por causa de uns colunistas que me começaram a chamar nomes. A mim e a mais uns quantos como eu.
Já cheguei à conclusão que o desejo de ter um jornal só com colunistas que rimem com as nossas ideias para além de ser uma utopia era um grande aborrecimento. É bom lermos quem gostamos, mas também faz um bem danado a gente sentir-se espicaçado pelos comentários adversos de outros que julgamos odiar. Afinal são os nossos inimigos de estimação.

Por exemplo:
No dia em que tiver programado cuidar da minha colecção de selos não devo ler Helena de Matos. Devo, contudo, lê-la no dia reservado para cavar o quintal, ou ainda melhor se tiver um muro para deitar abaixo com uma marreta. E a coisa deve ficar por aqui.
Não convém comentá-la, como fez a “pobre” Maria João Seixas, pois logo pincham em cima os verdadeiros “amantes” de Helena, que, anónimos como eu, aproveitam para, esquecendo o objectivo, desancarem tudo o que tenha o mais leve tom róseo.

Foi o que fez um leitor no dia 25, em que para além colocar em dúvida a carteira profissional de Maria João Seixas como jornalista, tece as seguintes considerações a respeito da “adolescência tardia”:
“O chamado espírito jovem é geralmente lamentável, e tanto mais lamentável quanto mais velho for o corpo em que se manifesta. Um velho com o tal espírito jovem é uma coisa triste porque significa (contrariamente ao que é habitual dizer-se) que não atingiu a sabedoria, a abertura, a tolerância, o apaziguamento, a consciência crítica, o sentido do ridículo, a noção do essencial, a relativização dos acontecimentos, enfim, a visão larga da vida que a idade vai trazendo.”

E assim, inesperadamente, por acaso num dia 25, embora de Agosto, sou informado que ter um espírito jovem é uma desvantagem para compreender o mundo em constante mutação, os novos desafios, as recentes descobertas. Aterrado com esta acusação dá-me vontade de afivelar a máscara da sisudez, do sorumbatismo e da misantropia. António Macambúzio Mata, devo passar a assinar. Nessa altura passarei a ter uma figura distinta, e a ser complacente, tranquilo, inteligente, magnânimo, enfim um sábio que até um colaço não desdenhará convidar para a sua mesa

E os anos perdidos na luta para manter uma mente jovem? Tanto tempo perdido, meu Deus! Quando tinha sido tão fácil deixar a mente envelhecer ao ritmo celular, que desacerto fui eu procurar para, afinal, ser agora desclassificado?

Afinal sempre estive enganado. Eu pensava que velho ridículo era aquele que queria aparentar um ar jovem, pintava o cabelo e o bigode quando embranqueciam, e na falta dele puxavam a melena para o cocuruto ou usavam peruca. Faziam plástica para atenuar as gelhas e eliminar as plicas e mentiam quanto á sua idade.
Porquê? Porque possuíam a vã ilusão que podiam enganar o Tempo e ganhar vantagem em algumas aventuras terráqueas.

Ficamos então a saber que tudo se centra na cachimónia. Aquela parte dos neurónios que nunca é solicitada durante a nossa vida, deve ficar assim em descanso até que uma pasada de terra, ou a chama do crematório lhe tracem o destino final. Devemos usar os velhos neurónios, sensibilizados com as antigas imagens, onde estão fixadas as velhas regras do comportamento, sendo completamente proibido fazer “downloads” de actualização. Os nossos ancestrais ascendentes vão gostar!

Por isso eu não vou divorciar-me do meu querido jornal diário.

A propósito onde é que o arrumei? Tenho que ler melhor aquela história do Pat Roberson, líder religioso cristão, que recomenda que os EUA procedam ao assassinato de Hugo Chávez. Quero ver se Bush diz alguma coisa sobre o assunto.
A.M

domingo, 21 de novembro de 2010

Com três letrinhas apenas...

Cia, que na técnica comercial significa companhia, e que os amantes das palavras cruzadas sabem que significa "rema para trás", ou ainda pode ser uma espécie de cotovia (anthus fratensis) surge, também como Central Intelligence Agency de que toda a gente já ouviu falar mas não sabe muito bem para que serve.

Uma vez por outra, relacionado com este último significado, aparecem notícias que na maioria das vezes são logo desmentidas por pessoas tão amantes da verdade que perdem o seu precioso tempo a explicar-nos tudo, tintim por tintim. Para que não fiquemos com dúvidas, esgrimem argumentos analógicos em que o KGB serve de contrapeso para se definir o padrão oficial.
Resumindo. Eu já interiorizei que a CIA é o braço armado de Deus e o KGB o braço armado do mafarrico. Fica tudo explicado de forma muito sintética.

Numa referência recente, um falso agente daquela organização vem dizer que recebeu ordens do chefe:
- Vá e traga-me a cabeça do Bin Laden numa caixa. Ponha-lhe gelo para não se estragar.
O pobre homem que já tinha conhecimento de que havia uns cartazes à moda do farwest em que por baixo da fotografia estava escrito: VIVO ou MORTO – 500 milhões de dólares, não se conteve e perguntou a medo:
- O que faço ao corpo? Vale alguma coisa?

Pergunta estúpida, está bem de ver, visto que o corpo só serve para identificação quando a cabeça levou sumiço.

O grande problema, no meu fraco entendimento, é que o Bin Laden é uma autêntica Hidra de Lerna, quantas mais cabeças lhe cortarem mais cabeças vão crescer. Não vai chegar o orçamento para tanta caixa e tanto gelo.
Quem te avisa teu amigo é!
A.M. 6/Maio/2005

Apelo à tua religiosidade, Maria!

No reinado de Herodes, na terra da Judeia, aguardava-se a chegada do Messias que os libertaria da terrível opressão do império romano.
Diz-se que havia vinte e seis seitas religiosas, o que, a ser verdade, demonstrava total ausência de unidade da comunidade religiosa.
Deixo aqui um parêntesis para te pedir que não comeces a fazer comparações com o que se passa no mundo actual em que ambos vivemos.
Fixemo-nos no Herodes!
Dizia eu, que a falta de unidade provocava tantas interpretações da Sagrada Escritura quanto o número de seitas existente. Cada um ao seu e todos ao mesmo, como a mais básica regra das tácticas futebolísticas.
Claro que isto provocava grandes confrontos. Os fariseus eram acusados pelos Nazarenos de cumplicidades com o sistema, e estes por sua vez, eram apontados pelos saduceus como os inimigos a abater. Os nazarenos e os essénios procuravam passar pelos intervalos da chuva, para se chegarem à frente.

Certo dia levantou-se grande alvoroço contra a Igreja em Jerusalém.
Saulo foi um dos principais instigadores, e entrando pelas casas levava homens e mulheres para a prisão.
Era Saulo de Tarso, mais tarde conhecido como apóstolo Paulo, que um dia, seguindo por um caminho, já perto de Damasco, se viu envolvido por súbito esplendor vindo do céu ao mesmo tempo que uma voz lhe soava aos ouvidos:
- “Saulo, Saulo, porque me persegues?”
- Quem és, Senhor?
- Eu sou Jesus, a quem tu persegues.
Estou convencido, que Deus, sendo Deus, sabia de antemão o que dava corda às sandálias de Saulo naquela paranóica perseguição, e, malandreco, apenas alimentou a pretensão de pespegar um susto ao pobre homem.
------------------------------------------------------------------------------------
Ora eu, não sendo Deus, nem sequer Zandinga, não acreditando no professor Karamba e muito menos na Maya, a cartomante, interrogo:
- Maria, Maria, porque me persegues?

A.M. 5/Maio/2005

Nota: O espaço do JN, "Desabafe connosco", deu lugar ao "Blogues do leitor". Este por sua vez foi encerrado, tendo ficado no seu lugar para além dos colaboradores residentes (oficiais) uma nota que reza assim:
"O Jornal de Notícias decidiu melhorar os "blogues do leitor". Assim, e até ao novo espaço aberto à participação de todos, encerramos os blogues existentes. Esteja atento. Voltamos em breve com novidades."

Já lá vão alguns meses o que dá ao "voltamos em breve" um falso carácter.
Acontece que se forjaram ali algumas amizades e também inimizades, que tendem a cair no esquecimento dado o encerramento daquele ponto de encontro.
Para que não se percam no tempo algumas passagens desse período transcrevo aqui, agora, alguns desabafos, entretanto apagados pelo JN daqueles espaços.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

A greve do lixo

No dia 24 de Novembro vai dar-se uma greve geral.
Uns consideram-na justa e suportam as contrariedades que vai provocar no seu quotidiano.

Outros, sentem-se muito incomodados e entendem que as greves não deviam prejudicar ninguém.

Como se uma greve que não prejudica ninguém pudesse surtir algum efeito!...

Em Dezembro de 2005 disse a propósito da "greve do lixo":


A propósito da greve dos homens que têm a função de limpar o lixo que os outros fazem.
Só às horas extraordinárias, por acaso! Acaso tão evidente como esta greve dar-se pelo Natal.

Das duas, uma!
Ou as coisas estão a melhorar ou então existe manipulação nos inquéritos de rua.
Acredito na primeira hipótese.

À pergunta feita às transeuntes sobre o que pensavam da greve:

1ª Resposta: Acho bem! Coitados! Não há o direito de lhes retirarem regalias.
2ª Resposta: É o que resta aos pobres para defenderem os seus direitos. Os ricos não precisam porque têm dinheiro.

De um modo geral é costume ouvir as pessoas lamentarem-se do transtorno causado por uma greve. Como se alguma greve que não causasse qualquer tipo de transtorno tivesse razão de ser!...
Como por exemplo uma greve dos limpa-chaminés… no verão!
Ou uma greve dos guardas-nocturnos … de dia.
Uma greve de nadadores salvadores no Inverno.
Ou da banda de música da minha terra no dia 1º de Dezembro.
Ou mesmo dos deputados da Assembleia durante o ano inteiro.

Agora o lixo incomoda.
Pelo cheiro nauseabundo.
Pelo aspecto de sordidez que provoca na zona.
Pelo assustador perigo dos pestilentos miasmas.

Pensamos que o miserável lixo que fazemos e colocamos à nossa porta é levado por metamorfósicos duendes que se dissolvem no ar perante o nosso olhar.
Assim, de repente, humanóides iguais a nós, com pernas, cabeça, braços, olhos e até estômago absolutamente idênticos aos meus e aos teus, fazem uma prova de vida.
Ai Jesus! Isto é um crime! Que pivete! Nem consigo dormir!

Talvez a coisa esteja a mudar para melhor. Talvez!

A.M.

A arraia-miúda

Não comento o artigo de VPV no "Público" de hoje, dia 15 de Novembro de 2010, com o título "Casa de Loucos".
Aquilo que escrevi em 5 de Dezembro de 2005 continua actual.
-----------------------------------
Quando chegamos à última página do jornal lá está o Vasco Pulido Valente no seu papel de comentador político para nos amarfanhar a alma.
Se acordamos já acabrunhados, de mal dormidos por pesadelos indefinidos, o melhor é não o ler nesse dia, pois pode muito bem acontecer que a depressão atinja valores tão profundos que sejamos levados para uma solução camiliana.
Confesso que nunca li nada do Vasco que me anime, me revigore, me titile o brio, me faça dar um salto na cadeira. Já nem sequer me consegue surpreender. Diz, metodicamente, mal de tudo e de todos.
Desengane-se quem andar à procura de uma luz orientadora, um sinal no caminho que o demova de alinhar no clube dos abstencionistas quando chegar a hora. Quem, num exercício de inteligência, procurar entre linhas e parágrafos o que resta do que foi desbaratado, não encontra nada senão escuridão e silêncio.
Afinal porque continuo a lê-lo?
Porque gostando do seu estilo, dos seus raciocínios, da sua ironia roçando o sarcástico, consigo abstrair-me da força depressora que emana da sua crónica, para ficar apenas o “sumo” da crítica.
Na “Liberdade vigiada” de hoje censura Cavaco por ter sugerido a criação de uma Secretaria de Estado para acompanhar as empresas estrangeiras em Portugal.
Mas satiriza igualmente Soares, o Governo e toda a esquerda em geral pelo argumento usado para combater aquela sugestão do Professor, ou seja, considerando-a uma tentativa de ingerência nos assuntos da área governativa.
As razões que considera válidas para combater a ideia são:
1- A mania da imitação do que se faz lá fora.
2- Implicação de mais burocracia (e logo mais despesa, digo eu).
3- O privilégio (mesmo que só aparente) concedido a estrangeiros geraria contestação do capital nacional.
Critica-o ainda por se apresentar como salvador e fazer acreditar à “populaça pouco versada em direito constitucional” que irá “mandar – com a lei, sem a lei ou contra a lei”.

Estou de acordo no essencial, dado que já tinha emitido uma opinião idêntica, desvalorizando o argumento eleito pela oposição a Cavaco, quando havia outros bem mais importantes e mais sérios.
O que não posso deixar passar em claro é o insidioso termo “populaça”.
Então oh Vasco, “população” não servia? Não ficava melhor? Eu sei que a técnica de enfatizar as coisas, resulta, realça, dá brilho, mas gaita à custa de nos achincalhar?
Olha a gente gritar numa manifestação:
- A populaça é quem mais ordena!
- A plebe é quem mais ordena!
- A ralé é quem mais ordena!
Ou mesmo,
- A rabacuada é quem mais ordena!

Não era preciso.
A.M.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Rocambole

Quando o tempo muda de cara só nos resta trocar-lhe as voltas elaborando um novo plano de actividades. Ir para a rua está fora de questão e no aconchego da casa a pinha solta-se, vai à deriva e se não a castigarmos imediatamente com uma qualquer ocupação desata a remexer no baú das velharias. Uma delas, cuja importância na escala de afazeres varia em função do boletim meteorológico, é, efectivamente, o meu rico PC.
Os mais velhos associam a sua existência e principalmente o seu uso à degradação dos princípios e costumes do nosso tempo e chegam a ter-lhe um ódio de morte, mas eu acho que o problema é outro.

Foi o que resolvi fazer, quando espreitando pela janela o céu revolto, uma página sem data se soltou da barafunda da arca e ficou ali a pairar à minha frente.
Falava de Rocambole. Só podia ser coisa muito antiga dado que a última vez que estive com Ponson du Terrail foi mais ou menos na mesma altura em que visitava regularmente o Júlio, sim, esse mesmo, o Verne e creio que o Salgari também estava muitas vezes presente.
A certa altura cheguei a comparar Ponson com Camilo, por associá-lo ao lote de escritores prolíferos. Diz-se que Camilo escreveu o Amor de Perdição em apenas quinze dias quando estava com um febrão dos diabos. Ou seria o Amor de Salvação?
Não era com certeza “Memórias de um suicida”.
O autor de Rocambole escrevia com uma velocidade impressionante e não fazia revisões.
“O comandante passeava com as mãos nos ombros lendo o jornal” parece que foi uma frase que todos os seus leitores mais atentos, nunca entenderam. Exprimia-se com enorme profusão de palavras para explicar coisas supérfluas, mas eu, naquela idade li-o com muito agrado. Os leitores gostavam tanto dele, que quando resolveu matar “Rocambole” protestaram tanto e tão alto, que o escritor teve que ressuscitá-lo. Então, o livro seguinte começava assim:
“Como a perspicácia dos nossos leitores adivinhou, Rocambole segue vivo”.
Era porreiro! Que tempos bons!
Aliás como estes, em que ainda cá estamos para recordá-los.

De qualquer modo, se não fosse ele, no dicionário rocambole seria apenas uma dança ou um bolo, como por curiosidade fui ver ao De Morais.
Se a gente for perguntar a um infante qualquer, por exemplo ao meu neto, o significado de rocambolesco ele não vai saber, mas a palavrinha lá está nos dicionários em memória do tipo que apesar de prolixo enriqueceu o léxico de muitos países.
Tivesse a nossa juventude lido Rocambole!

Morto e enterrado definitivamente com o seu progenitor, Rocambole revive permanentemente no espírito de muita gente que teima em complicar o que é simples, tecendo teias mirabolantes para tentar concluir o inexplicável.
O infinito, por exemplo.

Vamos mas é almoçar que se faz tarde!

A.M.