sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Avaliação (4)

Também o meu caro amigo Figas decidiu expressar dez “mandamentos” sobre vários problemas relacionados com a Educação.
Seria interessante, por exemplo, discutir assuntos sobre colocação e deslocação de professores ou se estes deviam ou não deviam ter mais poder disciplinar sobre os alunos, mas aquilo que sugeri foi falar sobre o diferendo entre professores e ministério no que respeita ao modelo de avaliação proposto.
Quando se fala de um assunto e se misturam outros não há ninguém que se entenda.
Por isso seleccionei o 2º referido pelo Figas:
“Falta acrescentar conhecimentos técnicos da disciplinas a leccionar e resultados obtidos”.
Como é evidente quem lecciona uma determinada cadeira deve ter conhecimentos técnicos e essa avaliação está presente numa grande (talvez excessiva) parte dos itens que constam do modelo. Não há ninguém que admita a ideia de um professor não ter conhecimento da matéria que lecciona, o que se questiona é a forma de avaliá-lo.
Mas falemos dos resultados obtidos.
Creio que uma das principais contestações residia precisamente em avaliar o nível de aproveitamento de uma turma como parte da avaliação global do professor.
Claro que isso não fazia o mínimo sentido.
Não seria justo que “calhando” a um professor uma turma difícil, por estar inserida num ambiente social específico ou porque na formação das turmas se separaram os melhores alunos dos piores, lhe fosse exigido o mesmo nível de aproveitamento do que ao colega a quem coubera uma turma de ases.
Cheguei a ouvir dizer (aqui mesmo) que em casos deste tipo os professores seriam levados a diminuir o grau de exigência para evitar muitas reprovações.

Ora os resultados obtidos de que se fala não são obtidos assim de forma tão linear.
O professor avaliado vai trabalhar por objectivos estipulados por si de acordo com o avaliador em que são consideradas a melhoria dos resultados escolares dos alunos e a redução do abandono escolar:
Melhoria escolar do aluno baseada no conhecimento anterior das suas notas (para ser mais específico) e do conhecimento dos níveis de abandono escolar em turmas com características idênticas.
Ou seja não há uma avaliação absoluta dos resultados obtidos mas uma avaliação relativa ao potencial de cada turma.

Qual é a contestação dos professores em relação a este ponto especifico?

P.S. – Agradecido pela oportunidade de voltar ao tema, caro Figas.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Avaliação (3)





















O objectivo não foi alcançado.

Tinha esperança que fosse possível discutir com argumentos válidos as razões que cabem aos professores para contestarem o método de avaliação que está a ser imposto pela ministra da educação e ao mesmo tempo ouvir aqueles que criticam toda a classe docente, afirmando que os professores não querem ser avaliados, argumento tão básico como inconsistente.

Como é evidente se publicamente se perguntar a qualquer trabalhador se concorda em ser avaliado para efeito de progressão na carreira ele dirá que sim, mesmo que tenha a noção que essa avaliação o pode prejudicar, beneficiando colegas seus a quem ele próprio reconhece alguma superioridade.
Mais tarde, na sombra, talvez lute para que a medida não seja aplicada.

Realmente só um tolo não entende que qualquer organização, desde a mais simples à mais complexa, só tem a ganhar se o estabelecimento da hierarquia das competências funcionar.

Tenho uma enorme consideração pelos professores e fico confrangido quando oiço alguns críticos arrasarem de forma generalizada toda a classe docente nacional sem terem a mínima noção do que são as fichas de auto-avaliação, o portefólio do professor avaliado, a avaliação feita pelo director da Comissão Executiva, as cotas, etc., etc.

Por outro lado os professores, ou os media por eles, não informam de maneira simples e sucinta quais as medidas contidas no projecto do governo que são contestadas, nem as alternativas propostas.

A título de exemplo, menciono o facto de as classificações de “excelente” e “muito bom” que podem acelerar o acesso à categoria de titular ou proporcionar um prémio de desempenho correspondem a cotas estabelecidas pelo governo, o que lhe permite restringir o número daquelas duas classificações de forma a diminuir os custos, o que é um autêntico estrangulamento na progressão das carreiras para muitos professores.

Sobre esta medida, que parece ser uma das mais contestadas e que pessoalmente entendo que devia ser revista, pensei ser possível proceder a uma discussão construtiva.

Desanimado com o modo como o problema está a ser tratado, em que sobressai por vezes o dispensável insulto, vou… ali… e já venho.
A.M.

Avaliação (2)

O interesse em compreender o diferendo que existe entre a classe docente e o actual Ministério da Educação é a única razão que me leva a interferir neste assunto e nunca me pronunciarei a favor daqueles ou deste sem estar devidamente habilitado a fazê-lo.

Porque já fui avaliado e avaliador em campos distintos do privado e do público gostaria de poder estabelecer comparações e de alguma forma contribuir para uma fórmula que a todos satisfizesse.

Em 1953 iniciei a minha vida profissional como voluntário na FAP. Durante 17 anos fui avaliado pelos meus chefes directos e tive que me pronunciar sobre a capacidade dos meus subordinados. Se alguns deles preenchiam os impressos de avaliação a tinta outros faziam-no a lápis por sugestão dos seus superiores hierárquicos que desejavam ter a última palavra. É certo que esta avaliação não interferia muito com a progressão na carreira e só em casos extremos se era ultrapassado pelos mais modernos. Pelo meio podia haver um curso técnico classificativo que voltava a ordenar a escala em função do aproveitamento de cada um.

Passado esse tempo, desliguei-me do serviço, e fui trabalhar numa multinacional do ramo electrónico. O meu encarregado (chefe directo) procedia à avaliação dos seus subordinados e com base nessa informação o aumento de vencimentos era escalonado e as promoções estabelecidas.

Quando dois anos mais tarde cheguei a encarregado passei a ter que fazer a avaliação dos meus subordinados e verifiquei pela primeira vez que as fichas de avaliação eram idênticas ás que se usavam nas forças armadas, o que não acontecia por mero acaso dado que tinham sido “bebidas da mesma fonte”.

Cerca de nove anos depois regresso à anterior situação ocupando o mesmo posto que tinha quando me desligara do serviço militar.

Entretanto tinha-se dado o 25 de Abril e as coisas já não funcionavam do mesmo modo, embora as fichas de informação (ou avaliação se se preferir) continuassem a ser idênticas.
Cada desempenho tem função valorativa diferente e para cada um deles são estabelecidos seis níveis. Para o desempenho de funções ou gestão de recursos, por exemplo, um 2 (abaixo da média) é o suficiente para não se ser promovido ao posto imediato ou impedido o ingresso num curso de promoção. Por sua vez aspectos como o relacionamento com subordinados ou superiores e a própria apresentação, embora pudessem originar alguns problemas na carreira não impediam a progressão.

Os últimos oito anos de carreira foram passados numa escola militar dirigindo um laboratório de trabalhos práticos de electrónica e dando aulas de disciplinas correlacionadas com a especialidade.
Era sobre esta experiência, talvez por ser a mais recente e já efectuada num ambiente de liberdade que gostaria de me pronunciar.
Ao fim e ao cabo foi uma situação em que fui avaliado e tive que avaliar duplamente: os meus subordinados e os alunos das minhas turmas.
A.M.

domingo, 25 de janeiro de 2009

Avaliação (1)

A avaliação é um fenómeno natural e, mal nascido, qualquer ser vivo logo inicia a avaliação do meio que o rodeia.

Uma criança, por exemplo, avalia os pais para saber qual deles é mais susceptível para o deixar fazer isto ou aquilo. Num sistema familiar de poderes paralelos ela aprende rapidamente qual é o elo mais fraco para lhe proporcionar a satisfação de um determinado desejo ou um simples capricho.

Pelo seu lado os pais também avaliam os filhos e quando falam deles distinguem-nos pelas características que revelam. Um é mais calmo, outro é "galo doido", este é mais inteligente, aquele tem uma memória prodigiosa, um é mais meigo, o outro é "casca grossa", etc. etc.

Claro que estas avaliações de uma forma geral não produzem classificações que levem um pai a colocar um filho à frente do outro e por sua vez os filhos não "chumbam" os pais.
Quando entramos na escola imediatamente começamos a ser avaliados e classificados.
Não me lembro de alguma vez me ter arreliado com nenhum professor ou criticado qualquer método de avaliação por ter ficado na parte inferior da pauta.
Claro que havia erros nas classificações e quando alguém convictamente entendia que estava a
ser mal avaliado pedia revisão de provas.
Sou do tempo em que o professor era o mestre e o seu poder era tanto e a sua palavra tão considerada, que quando um aluno porfiava nos maus resultados ele chamava o pai e sentenciava:
- Ponha o seu filho a trabalhar que ele não dá para as letras.
Talvez alguém, pelo que tenho ouvido aqui, tenha saudades desse tempo.
Hoje, quando o aluno não aprende, a capacidade do professor é a primeira a ser equacionada como factor da falta de aproveitamento do aluno. A desculpa de que “ensinei todos da mesma maneira” já não pega porque ao professor compete conhecer os seus alunos de forma a encontrar o melhor método ou incentivo para lhes transmitir conhecimento com sucesso.

Quando mais tarde procuramos entrar na vida profissional somos logo avaliados através dos currículos, de testes técnicos ou psicotécnicos e depois nunca mais deixamos de ser avaliados regularmente durante as nossas carreiras.
Ninguém com bom senso pode rejeitar ser avaliado e creio firmemente que os professores também não.
Para falar do diferendo que existe entre a classe de professores e o Ministério da Educação não se deve partir duma posição radicalizada, de que o argumento “os professores negam-se a ser avaliados, ou “a culpa é dos sindicatos” são formas redutoras.

Embora existam outras causas para o desacordo como por exemplo a progressão nas carreiras, o motivo que tem sido mais propalado é precisamente o processo proposto para a avaliação.

De uma forma clara e civilizada gostava de ver este assunto discutido aqui. As opiniões expressas devem ser criticadas com fundamentos e não autênticos “tiros” disparados contra os seus autores.
A.M.


quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Pois é

Toda a gente sabe que o conflito entre judeus e palestinianos é muito antigo, mas uma grande maioria desconhece ou tenta desvalorizar os episódios históricos que lhe deram origem. Este facto não é de estranhar dado que os maiores responsáveis se encontram a ocidente e desenvolvem algum controlo da informação, muito natural mas pouco ético para quem pretende ilibar-se das culpas que lhe cabem.
Israel proclama que tem direito à terras do Rei David embora já tivessem passado mais de 3.000 anos. Com base neste princípio o planeta sofreria enormes convulsões para restabelecer novos limites territoriais. Terão os italianos em função do Império Romano de há 2000 anos direito de exigirem toda ou parte da Península Ibérica?
Em 1945 a Palestina era habitada por milhões de palestinianos e Jerusalém era uma cidade santa para todos os muçulmanos. Nessa altura a Palestina encontrava-se sob o mandato da Grã-Bretanha. Quadro (1)

Com o fim da 2ª Grande Guerra, e tendo os judeus sofrido os efeitos de um Holocausto que assassinou milhões de Judeus, os políticos ocidentais entenderam que era altura de lhes arranjar uma terra. Todavia não lhes foram distribuídas as terras em que viviam antes dessa data. Com o seu poder económico os judeus espalhados pelo mundo principalmente na Grã-Bretanha e nos EUA, exigiram a Palestina.
Assim, em 1948, o Estado Judaico com o nome de Israel declarou a independência com o apoio do Ocidente. Para tal foi necessário desalojar à força, por meios militares, milhões de palestinianos para Israel ocupar um território muito maior do que aquele em que habitavam os judeus em 1945. Quadro (2.
Cerca de 4 milhões de palestinianos continuam a viver em campos de refugiados que a ONU estabeleceu provisoriamente em 1948. Os que habitam em acampamentos na faixa de Gaza, Cisjordânia, Síria, Líbano e Jordânia não abandonam a sua condição de refugiados porque a sua situação é a única prova que possuem de que há sessenta anos tiveram que deixar as suas terras de origem pela força.
Esta será sem dúvida a principal fonte que ao longo de gerações vem alimentando ódios e extremismos.
Como resultado dos conflitos que se seguiram, sempre ganhos por Israel que na realidade funciona como uma base gigante americana no Médio Oriente, fez-se a paz em 1967 de que resultou a divisão que se vê no quadro (3) e que foi aceite por ambas as partes.
Só que Israel não parou e continuou a ocupar mais território Palestiniano e a cercar os seus territórios. Quadro (4).
Não pretendo de forma nenhuma entrar em longas discussões sobre este assunto dado que é impossível discuti-lo com alguma lógica e seriedade num local como este. Local onde até aparece alguém a contrapor a jornalista russa que foi assassinada como se esse facto tivesse algum peso para compreender as razões deste conflito. O meu único objectivo é apresentar alguns dados aos diversos comentadores de forma a poderem discutir o assunto com base nos factos históricos.
Todos nós, que não pertencemos ao lóbi armamentista nem temos características belicistas somos amantes da boa e sã convivência e não apoiamos os actos terroristas tal como não apoiamos as declarações de guerra unilaterais determinadas por esconsos motivos pintados com laivos de democracia.
Vejamos, contudo, a ocupação Francesa da Península. Não foi ela alvo de actos de terrorismo, através de atentados, assaltos e emboscadas aos sitiantes?
Eram terroristas ou patriotas?
Os movimentos de resistência durante a ocupação alemã não desenvolveram actos terroristas contra patrulhas e comboios nazis?
Eram terroristas ou patriotas?
Na Argélia, por exemplo, os resistentes argelinos à ocupação francesa eram terroristas para estes mas foram heróis para o seu povo.
Para compreender o que se passa no mundo aconselho a quem se sente agredido colocar-se no lugar do agressor.
Talvez que dessa maneira os fenómenos geradores dos desentendimentos pudessem ser mais facilmente compreendidos e resolvidos.

A.M.

P.S. Elementos recolhidos (incluindo mapas) num pps "circulante" e confirmados em diversos sítios na net.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Episódios significativos

Uma notícia que atribuía a Ehud Olmert, primeiro-ministro israelita um telefonema para a George W. Bush que forçou a secretária de Estado Norte-americana, Condoleezza Rice a abster-se numa votação na ONU sobre a guerra em Gaza, foi muito rapidamente contestada pelo porta voz da Casa Branca, Gordon Johndroe.
Foi todavia Olmert que disse publicamente ter falado com Bush dez minutos antes da votação no Conselho de Segurança da ONU sobre uma resolução para um cessar-fogo imediato a que Israel se opunha. “Ele (Bush) deu uma ordem à secretária de Estado, e ela não votou a favor -- uma resolução que ela mesma arquitectou, redigiu, organizou e pela qual manobrou. Ela ficou bastante envergonhada e se absteve de votar numa resolução que ela mesma tinha organizado”
Depois da votação de quinta-feira alguns ministros árabes disseram que Rice lhes tinha prometido que os Estados Unidos apoiariam a resolução, mas mudou de posição depois de falar com Bush.

Eu digo, tu dizes, mas eles desdizem.

Consideremos, contudo as palavras que Ariel Sharon, primeiro-ministro israelita no parlamento (Knesset) em 30 de Outubro de 2001, dirigindo-se a Shimon Peres, lider do partido trabalhista:

“De todas as vezes que nós fazemos qualquer coisa, tu dizes-nos que a América vai fazer isto e mais aquilo… Quero-te dizer muito claramente que não te preocupes com a pressão americana sobre Israel. Nós, povo judeu, controlamos a América e os americanos sabem-no muito bem.”

Palavras cujo significado se perde ou minimiza quando deixamos de pensar pela nossa própria cabeça e adoptamos a propaganda vigente como real e incontestável.
A.M.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

A notícia, o comentário e a opinião

Há alguns dias atrás um canal de TV apresentou um programa em que três jornalistas (fora o moderador) se pronunciaram sobre a diferença entre estes tipos de intervenção.
As opiniões não foram muito divergentes embora não tivesse ficado muito claro como pode alguém fazer um comentário à revelia da sua opinião, ou dar uma opinião que não seja considerada um comentário. Claro que não são uma e a mesma coisa e é difícil a qualquer jornalista, colunista ou editorialista não sair da órbita da sua função específica.
Talvez a maior parte do debate tenha sido ocupada com a função “notícia” que ao jornalista apenas exige um relato dos acontecimentos o mais claro e sucinto possível.
Como todos sabemos isso nem sempre acontece e muitas vezes as notícias estão carregadas de subjectividade em que é por demais evidente a intenção do seu autor em cativar o leitor para a sua própria opinião.
Um dos jornalistas presente, há muitos anos radicado na Bélgica, criticou o facto de haver uma grande confusão na imprensa portuguesa tanto no que respeita aos aspectos que acima refiro, como também à linha editorial de cada jornal, que, por ausente, provoca nos seu leitores alguma perplexidade ao deparar com comentários de sentido tão díspar.
Vicente Jorge Silva caiu na esparrela de defender a ausência duma linha editorial bem definida em cada jornal com o argumento de que somos um pequeno país, com tiragens reduzidas que para cativar os leitores tem que atingir todos os gostos e tendências.
Será que o Washington Post se confunde com o New York Time? O Le Monde com o Le Fígaro? O El País com o El Mundo?
Por cá, no que respeita a linhas editoriais funciona a regra: todos ao molho e fé em Deus. Por mor das audiências, da publicidade e do dinheirama.
A.M.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Isto é que está uma moenga?!!

Agora sim, lembro-me de um episódio da minha juventude que me causa muito arrependimento por me ter conluiado com mais uns quantos camaradas para fazer rir a todo o custo um colega nosso, que tendo sofrido um acidente de motorizada tinha um golpe enorme na face que terminava na comissura dos lábios. Toda a distensão que vai de :) a :( provocava-lhe enormes dores dado que os agrafes que suturavam a ferida lhe repuxavam os bordos do corte. Era uma espécie de suplício de que nem os deuses se lembrariam quando sentenciaram Tântalo.

O pobre coitado, a quem a anedota mais sem graça fazia redobrar a gargalhada, bem tentava, com os dedos, segurar os músculos que reflexamente tendem a responder ás variações do nosso humor, estendendo-se, encolhendo-se e retorcendo-se. Mas qual quê? A solução era dar corda aos sapatos e fugir para bem longe, onde não chegasse o ruído das nossas provocações.

Dei agora conta que os músculos mais susceptíveis a contracções são os abdominais, especialmente o recto abdominal. Qualquer ferida naquele sítio impede-nos de rir, de tossir e espirrar rebenta os pontos e faz saltar a tripa.

Com o frio que nos tem flagelado entrei de quarentena para evitar espirros e ataques de tosse e até mesmo calafrios.

Quanto ao riso, o meu recto abdominal absorve-o muito eficientemente desde que ria suavemente assim do tipo cachorro Mutley.

Tenho treinado muito.

Mas hoje ao ler na primeira página do Público que Armando Vara foi promovido na Caixa quando já estava no BCP, fui atacado por uma insustentável vontade de rir. Serrei os dentes e aguentei.

O pior foi quando li a justificação da administração: “É prática comum do grupo, todos os administradores quadros da CGD, quando deixam de o ser atingem o nível 18 em termos de graduação interna”.

Nessa altura não consegui reprimir duas enormes gargalhadas que me fizeram rebentar os pontos da costura.
Levaram-me para o Centro de Saúde Social onde me remendaram a brecha.

Vou passar a ter mais cuidado.
A.M.

PS – Adivinha com barbas: Qual é coisa qual é ela que antes de o ser já o era?



sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Hermanias

Há dias foi aqui plasmada parte de uma intervenção do Sr. Dr. José Hermano Saraiva para dar sequência a uma continuada e repetitiva crítica revivalista que só uma democracia, mesmo com alguns defeitos como a nossa, permite.
Era bom que o seu autor levasse em consideração a dor e revolta daqueles que, vivendo no sistema que agora sofridamente evoca, foram presos ou mortos por falar contra a Ordem estabelecida.

“Se alguém quisesse acusar os portugueses de cobardes, destituídos de dignidade ou de qualquer forma de brio, de inconscientes e de rufias, encontraria um bom argumento nos acontecimentos desenca(n)deados pelo 25 de Abril” - é a frase inicial de Hermano Saraiva que foi transcrita nos Blogues do Leitor.

Não sei a quem foi dada tal entrevista, mas sei que se encontra no Blogue Galo Verde, o que não é de estranhar. O historiador a quem todos reconhecemos uma enormíssima capacidade de comunicação sabe melhor do que ninguém medir as audiências e, quando fala para o país procura ser politicamente correcto.

Poderia evocar aqui o seu passado como serventuário do poder salazarista e da sua passagem pelo governo como ministro da educação e daí procurar avaliar a sua enorme capacidade de adaptação “ambiental”.

Prefiro transcrever o que escrevi em 2002 (creio) sobre uma entrevista que o distinto professor deu ao D.N.

A minha turma tem oito milhões

O historiador Hermano Saraiva deu uma entrevista ao DN, que foi publicada no passado dia 11 de Outubro. “A minha turma tem oito milhões” é uma frase sua, reveladora da consciência que tem do quanto contribui, principalmente na televisão, para a formação cultural dos portugueses. Ele próprio reconhece que já foi criticado por algumas interpretações que fez, de alguns episódios históricos do passado.
“Um dos maiores comunicadores de sempre” sabe bem que, para agarrar a audiência, é necessário temperar muito bem o prato que se lhe serve. Até aqui tudo bem, uma feijoada não deixa de o ser só porque ficou ligeiramente apimentada; todos devemos estar gratos pelo trabalho que tem desenvolvido para que através da revelação do nosso passado, nos conheçamos melhor. Todavia, a teoria de que a história é o reino do Tu, tem limites Sr. Professor!
Quem leu a última parte da entrevista no DN ficou a saber que, para Vexa, antes de 25 de Abril de 1974 não havia uma ditadura porque havia uma Constituição; não havia censura porque logo após aquela data não foram publicados os livros censurados; as eleições foram exemplares como o provam os cinquenta anos de paz política; e ainda, pasme-se, o Aljube e o Tarrafal são uma invenção.
Também para os nazis Aushchwitz foi apenas uma pequena e bucólica localidade polonesa. O arquivo da Pide estará vedado aos historiadores?
Porque me diz directamente respeito, apenas menciono Manuel Vieira Tomé, que foi preso pela Pide em 1934 na sequência de uma greve ferroviária. O seu cadáver foi entregue à família, muitos dias depois, apresentando evidentes sinais de tortura - Moita do Norte, concelho de Vila Nova da Barquinha.
Se, como Vexa afirma, a história recente está a ser deturpada por “pessoas que inventam uma sucessão de factos que só existem na fantasia e no desejo delas”, que dizer daqueles que escamoteiam os próprios factos?
Estou convencido que os vindouros, ao lê-lo, o tomarão por um Fernão Mendes Pinto pós-moderno, quando, pela idade e saber poderia ser um João de Barros. Felizmente.

P.S. - A propósito do título, convém lembrar que o DN teve uma tiragem 71493 exemplares. Da audiência de 8 milhões, 7.928.507 não leram o jornal. Que tal um programa na TV para lhes dar conta desta sua particular opinião?
A.M.