quarta-feira, 29 de julho de 2009

30 anos depois

Toda a gente as tomaria por irmãs gémeas – a mesma aparência, a mesma altura, as mesmas cores frescas e sadias.
Reparando com mais cuidado, notei que uma era ligeiramente mais delicada, mais frágil, fosse pela postura do tronco ou talvez pela cor macilenta de algumas folhas.
Então escolhi a outra.
- Levo esta – disse para o empregado.
- Essa não. Está reservada para o Dr. Mário Soares.
Conformado, com a antecipação de tão importante personagem, conformei-me e comprei a “aleijadinha”.

Corria o ano de 1976 e tinha-me deslocado a um viveiro de plantas na Várzea de Sintra, para comprar uma magnólia “grandiflora”. Já tinha plantado uma “japonesa” que, calculei, se iria sentir mais confortável com uma irmã a seu lado, mesmo não pertencendo ao mesmo ramo da família. Foi, portanto, com muito carinho que a coloquei no lugar que ainda hoje ocupa.

Passados mais de 30 anos cresceu tanto que ultrapassou a altura da casa. Dá-me imenso trabalho porque passa os dias a largar as pétalas das suas enormes flores ou das folhas que dão lugar às mais novas.

Quando, como hoje, descanso à sua sombra e olho para cima, sinto uma vontade enorme de ir a meças com o Dr. Mário Soares e confirmar de uma vez por todas qual a magnólia mais bonita e saudável.
A do Algueirão ou a de Nafarros?
A.M.





quarta-feira, 8 de julho de 2009

Corrupção

Pelo menos duas notícias nos jornais da manhã desta quarta-feira de Julho recolocam a corrupção no centro das nossas principais preocupações.
Refiro-me ao milhão de euros de luvas que uma investigação dada como concluída pela PJ se sumiu não sem deixar um largo rastro – 52 arguidos.
O problema parece envolver um partido político, que terá beneficiado com algumas “migalhas”, o que, a confirmar-se, revela o enorme sofisma dos partidos na elaboração do diploma do financiamento partidário.
Também o Tribunal Constitucional condenou Mário de Almeida, presidente da Câmara de Vila do Conde e o ex-vice-presidente a reporem 20 mil euros que teriam sido pagos indevidamente a dois ex-funcionários.
Se menciono este caso em que parece não haver indício de dolo é devido às declarações de Mário de Almeida, em que revelando não ter concordado com o TC acrescenta que são inúmeros os casos semelhantes “em empresas públicas, autarquias e outros órgãos do Estado”.
Claro que este tipo de argumentação não justifica estes actos pelo que se trata de uma acusação que deve ser investigada e punidos os responsáveis.
Uma outra notícia conta-nos que a Infarmed detectou “indícios de burla e falsificação de documentos” de que terá resultado um substancial agravamento dos custos com o SNS.

Entretanto um dos assaltantes do BES de Campolide, em Lisboa, foi já julgado e condenado a 11 anos de prisão. Cerca de dez meses depois ( e já foi muito tempo) este caso foi encerrado.

Mas os crimes de “colarinho branco” ou não são investigados e julgados ou então arrastam-se nos tribunais durante anos até à sua prescrição.
Será preciso dar exemplos?
Uma vez por outra lá vai um parar à choça, para servir de exemplo.
Um deles sei eu que acorda todos os dias a gritar:
- Qu’é dele os outros?
A.M.

domingo, 5 de julho de 2009

Por causa dos alhos

Isto está um bocado morto. Chega-se ao fim de semana e zumba - toda agente sai de casa nem que seja para visitar um primo que mora em cascos de rolha.
Mas o tempo por vezes prega a partida como neste domingo que amanheceu muito enevoado e até já caíram alguns salpicos do céu.
O melhor é ficar em casa e procurar ocupar o tempo mesmo que seja com uma qualquer futilidade. Mas com quê? Enquanto se pensa folheia-se distraidamente um livro que estava ali mesmo à mão de semear. Olha! É do Guimarães Rosa.
E lá dispara a memória, através da via principal, passando em catadupa as impressões, sentimentos e sensações que a sua leitura me provocou. Mas aparecem desvios na linha, os ramais, que nos conduzem para lugares bem diferentes.

Em “A simples e exacta história do burrinho do comandante” Guimarães Rosa escreve:
“o senhor pode às vezes distinguir alhos de bugalhos, e tassalhos de borralhos e vergalhos de chanfalhos, e mangalhos … Mas, e o vice-versa?

Foi nesse momento que saí da via principal e vim parar ao “Blogues do Leitor” onde a confusão entre alhos e bugalhos (já aqui tratada) continua a ser prática corrente.

Mas que seria de nós todos se não existisse confusão?
Não total, não o caos, mas a suficiente para não morrermos de tédio.
Um bom resto de domingo, per tutti,
Con un abbraccio,
A.M.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Piló

Durante dois dias estive mais ou menos ocupado a restaurar um velho boneco com cerca de 65 anos que compunha a decoração do meu quarto de criança.
Trabalho que, sem exigir muita precisão, requer, apesar de tudo, alguma firmeza nas mãos; firmeza que vai sendo substituída por tremeliques involuntários á medida que a idade começa a fazer alguns estragos no físico.
Algumas cores já desbotadas ajudaram-me a encontrar os tons que tinha na memória e que com muita paciência fui ensaiando na mistura de algumas tintas acrílicas que guardo para estas ocasiões.
O que nunca esqueci, talvez por ser de fácil decoração foi o nome do autor que estava colado numa etiqueta na sola das botas do referido boneco – Piló.

Estava a mirá-lo com algum orgulho pelo resultado obtido quando me lembrei de ir à Net investigar o Piló.
Não existe muita coisa mas é o suficiente para ficar a saber que viveu entre 1905 e 1988 e que a própria fábrica de Vista Alegre decorou algumas peças com desenhos seus.
O mais interessante é ter encontrado numa leiloeira portuguesa a mesmíssima figura cotada por 150 euros.
Pelo trabalho de restauração incorporado este "amaricano", que aqui vos apresento, vale certamente muito mais. Escusam de fazer ofertas porque não vendo.
Nós somos a nossa memória e a sua constituição é feita de muitos bocados que lhe dão forma e sentido.
Vou oferecê-la ao meu neto mais novo na vã tentativa de me perpetuar no tempo.
Manias de velho…!


PS – Podeis fazer a comparação aqui:
http://www.leiloeiracortereal.pt/site/index.php?option=com_content&task=view&id=75&Itemid=43

Caracol... caracol ...!?

Perante acontecimento tão inesperado, tão cómico e tão malcriado acontecido num lugar tão respeitável, onde a nata política da nação trabalha afanosamente para desencalhar o "barco", só posso dizer o seguinte:
Todos os malcriadões do "Blogues do JN" estão perdoados.

Uma amnistia para todos... JÁ!

A.M.