domingo, 28 de dezembro de 2008

A moderação como princípio fundamental


Em 1974 as empresas de maior dimensão em Portugal já tinham nos seus quadros uma assistente social. A função que lhe estava adstrita era a de assistir e apoiar os trabalhadores, tentando resolver os seus problemas de forma a permitir-lhes a maior estabilidade possível tanto dentro como fora da fábrica.

A função desta assistente social estava contudo minada à partida dado que o seu ordenado era pago pela própria empresa. Como é evidente, essas empresas (algumas com mais de mil trabalhadores) subvertiam a sua função.

Numa conhecida multinacional de semicondutores, era ela que informava as operárias a despedir quando nos períodos de contracção do mercado havia balões*. Quando o mercado melhorava e era preciso aumentar a produção era ela que, colocando-se á saída da fábrica no término dos turnos repetia como um autómato:- Digam lá na vossa terra às vossas amigas que a fábrica está a aceitar pessoal.

Não foi por acaso que em 25 de Abril as operárias se desforrassem do modo como eram usadas e pedindo o seu saneamento. Processo conduzido pelo ministério do trabalho que concluiu pela sua manutenção nos quadros da empresa, embora com funções diferentes. Para este desfecho contribuiu a própria administração que assumindo um papel na sua defesa, argumentou que embora a tivesse contratado como assistente social nunca lhe tinha atribuído tais funções. A senhora, muito naturalmente não aceitou.

O tempo passou, já lá vão cerca de 34 anos, mais do que aqueles que passaram entre o fim da 2ª guerra mundial e a minha maioridade, e o/a assistente social integra hoje os quadros dos mais variados serviços públicos ou privados. Praticamente todas as autarquias do país têm esse serviço estruturado que emprega milhares de assistentes sociais, tal como acontece em hospitais, escolas, clínicas, centros de dia, creches, etc.

“O assistente social é o profissional qualificado que, privilegiando uma intervenção investigadora, através da pesquisa e análise da realidade social, actua na formulação, execução e avaliação de serviços, programas e políticas sociais que visam a preservação, defesa e ampliação dos direitos humanos e a justiça social.”

No âmbito do Ministério da Justiça o assistente social tem um papel fundamental na orientação de uma decisão judicial ou no mínimo de acompanhar e atenuar a sua aplicação.Por isso, ao notar que continuam a extremar-se as posições em torno do caso Esmeralda, não posso deixar de lembrar as assistentes sociais, que também neste caso não deixaram de intervir, mas cujo papel ou é ignorado ou minimizado.

Será que ninguém acredita na sua capacidade técnica e humana para informar e acompanhar este caso tendo sempre em conta os superiores interesses da criança?
No que me diz respeito, não tomaria nenhuma atitude sem as ouvir.A.M.

* Grande quantidade de operários de uma fábrica despedidos ao mesmo tempo.
* Definição extraída da Wikipedia

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

O ramerrão do Natal

Já é trivial dizer-se que o Natal devia acontecer todos os dias.

Adquiriu o estatuto de "frase feita", perdeu sentido e tornou-se pirosa.

Todavia nada mudou.

Passada a quadra natalícia, toda a gente volta ao mesmo ramerrão quotidiano e não volta a pensar nos fracos, nos oprimidos, nos famintos e nos desalojados senão no próximo ano. Não se compreende que num país católico, onde os seus professantes celebram os dias santos e as festas religiosas, se perca de tal maneira o espírito que emana do Natal.

Até o ambiente mais calmo e pacífico que se vive nos “Blogues do Leitor” são, em grande parte, resultado dessa disposição que transversalmente nos toca a todos.

E se alguém estranha que um materialista participe e cumpra as “formalidades” que caracterizam, ou deviam caracterizar, este período de cunho nitidamente religioso, é porque a língua portuguesa o atraiçoou.

Só em sentido figurado o materialista é pessoa de sentimentos grosseiros, instintos materiais que apenas procura a satisfação dos sentidos. Este é o materialista que só pensa em si próprio, no seu bem-estar, no crescimento da sua riqueza e que para o conseguir tripudia e pisa quem se atravessar no seu caminho.
Este materialista pode ser um católico, um budista, um hinduísta ou mesmo um islamita.

Na verdadeira acepção da palavra materialista é o partidário do materialismo e esta é a “doutrina dos que pretendem que no Universo só há matéria e movimento e que estes dois elementos bastam para explicar todos os fenómenos da física, da vida e da consciência.” (De Morais)

Historicamente, Materialismo é a “concepção de sistema económico segundo a qual o modo de produção de vida material condiciona de um modo geral o processo de vida social, intelectual e política.” (De Morais)

Também esta filosofia condena o outro materialismo que parece arrastar o mundo para o caos, talvez até de uma forma mais incisiva dado que tem carácter terreno.

É a figuração desse materialismo que nesta época se atenua em cada um de nós e parece que nos torna melhores e mais conformes com a nossa própria consciência.

Porque não todos os dias?
A.M.

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Merry Christmas

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Um Bom Natal

Conheço um caso que vou contar com a esperança de que Tadeu não apareça para dizer que é uma "lenda urbana".

Será urbana, mas garanto que é real.

Pelo Natal um amigo meu enviou alguns presentes para um casal amigo com dois filhos. Para a mulher uma panela de pressão, para o marido um frasco de Paco Rabanne e para os miudos dois livros do Tim-Tim.

Ainda hoje não sabe o que motivou a atitude que se seguiu:

O perfume e os livros foram devolvidos, mas a panela ficou.

Ele acha que estavam zangados por qualquer coisa que os terá melindrado, e confessou-me que nunca tentou compreender porque razão a panela não foi também devolvida.

Dá a impressão que isto não vem a propósito de nada mas vem.

Acontece que apetecendo-me enviar Boas Festas a toda a gente tenho receio que algumas me sejam devolvidas o que muito me decepcionaria.

Por isso, subo de balão a 3000 metros de altitude (devidamente agasalhado) e de lá despejo milhares de cartões coloridos de BOM NATAL e BOM ANO NOVO.

Sirvam-se por favor.
A.M.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Rechonchudinhas.

"Uma equipa internacional identificou seis novas mutações genéticas que podem estar relacionadas com a obesidade, ao influenciarem o apetite das pessoas que são delas portadoras." (...) Um dos aspectos mais notáveis da descoberta é que a maioria destes genes regula processos cerebrais. Isto sugere que temos de nos concentrar na regulação do apetite pelo menos tão intensamente como na maneira como o organismo usa e armazena energia - disse Stefanson. (in Publico)


Entretanto a McDonald preocupada com esta descoberta que pode vir a influenciar negativamente o seu negócio de "fast food" lançou uma enorme campanha de promoção dos seus variadís.simos produtos de que faz parte o
Calendário de 2009.












domingo, 14 de dezembro de 2008

Situações que o Império tece


Marc Faber é o 4º a contar da esquerda

Marc Faber é um empresário suíço que vive há 35 anos na Ásia.
É consultor de investimentos, financiador, escritor, especializado em bolsas de valores e membro de diversos conselhos de administração e comités de investidores.
Ficou famoso por ter previsto com semanas de antecedência o “crash” de 1987.

Numa entrevista que deu recentemente à pergunta colocada pelo jornalista:

Os Governos dão garantias e injectam biliões nos mercados. Isso é um erro?

Respondeu:

Sim. Os prejuízos estão aí e alguém terá de arcar com eles. Há duas possibilidades:
Os bancos vão à falência e os accionistas ficam de mãos vazias, como no caso Lehman Brothers ou os governos bombeiam dinheiro no sistema financeiro para que os incompetentes executivos da Bahnhofstrasse (a rua dos bancos em Zurique) e de Wall Street possam continua comendo em restaurantes luxuosos. Eu prefiro claramente a primeira variante. Porque a consequência dessas intervenções estatais serão maciços défices públicos. Para financiá-los, os governos precisam de arranjar dinheiro. Para isso precisam de fazer empréstimos, o que faz aumentar a dívida pública e os pagamentos dos respectivos juros. Economistas americanos extrapolam as tendências e prevêem a falência estatal dos EUA.

Em Junho deste ano, quando o governo de Bush estudava um projecto de ajuda à economia americana, ele, com bastante espírito de humor encerrava o seu relatório mensal com uma crítica à situação daquele império:

O Governo Federal está concedendo a cada um de nós uma bolsa de $600,00.

Se gastarmos esse dinheiro no super-mercado Wall-Mart, esse dinheiro vai para a China.
Se gastarmos com gasolina, vai para os árabes.
Se comprarmos um computador, vai para a Índia.
Se comprarmos frutas e vegetais, irá para o México, Honduras e Guatemala.
Se comprarmos um bom carro, irá para a Alemanha.
Se comprarmos bugigangas, irá para Taiwan e nenhum centavo desse dinheiro ajudará a economia americana.
O único meio de manter esse dinheiro na América é gastá-lo com prostitutas e cerveja, considerando que são os únicos bens ainda produzidos por aqui.
Estou fazendo a minha parte.


Elementos recolhidos em diversos sítios na Net

sábado, 13 de dezembro de 2008

sábado, 29 de novembro de 2008

Correio transatlântico






Por cima de nós existem quatro apartamentos ocupados por outros tantos comentadores residentes. Creio que por morarem num andar superior e terem um estatuto diferente normalmente ninguém os critica. Lá, por cima de nós, não há atropelos. Cada um tem o seu próprio espaço onde uma crónica espera pacientemente que apareça outra do seu dono para lhe dar lugar. Por vezes tem de esperar 15 dias ou mais.

Dizer que ninguém comenta é exagero. Já detectei pelo menos duas observações dirigidas à mesma pessoa. Uma é minha, invadiu espaço alheio e agora depois de a ler não sei porque razão lá foi parar e nem sequer consigo lembrar-me a quem era dirigida.
Deve ter sido um daqueles tremeliques digitais da malta de 70. Setenta anos no pelo quero eu dizer.
O outro comentário, foi feito de fora para dentro, assim do tipo dos canídeos que me ladram às canelas lá de dentro dos quintais quando passo na rua para ir à praça comprar carapau de tamanho médio já que o grande me faz lembrar o JU-52 (gê-u) , terminologia usada na aviação quando nos referíamos ao Junker.
Esse comentário crítico foi feito a um post de Elmano Madaíl enviado especial aos EUA no seu blogue “Transatlântico”.
O comentador, que na altura torcia por MacCaine, entendeu que Madail estava a torcer por Obama, principalmente, creio eu, por causa da fotografia que acompanhava o texto.
Como é seu hábito, quando não concorda com alguma ideia, expressão, fotografia, telegrama ou fax símile atirou-se violentamente à figura.
Desta vez, segundo a teoria expressa, o nosso repórter era um grande nabo porque nem sequer sabia como fazer uma fotografia mais clara. Eu, que até achei a fotografia com uma luminosidade excelente, pensei:
- Queres ver que para se ser um bom repórter só é preciso saber colocar as fotografias mais claras?
Vai daí, agarrei na dita fotografia e clarifiquei-a. Ou será aclarei-a? O melhor é dizer que a tornei mais clara e fica o problema resolvido.
Enfiei-a no photoshop e zás cá está ela toda clarinha.
Espero que me enviem o diploma de jornalista ou de repórter (tanto faz) na volta do correio.
Muito obrigado.

A.M



JU-52 - Digam lá se não parece um chicharro com asas.



Estava a ouvir o telejornal das 13 horas quando ouvi a notícia de uma multidão que arrombou as portas do supermercado Walt-Mart e espezinharam até à morte um empregado do mesmo.
A fúria não era motivada pela procura do peru dado que o Thanksgiving já era passado.
Na loja de brinquedos Toys ’R’ Us duas mulheres envolveram-se em acesa discussão e os respectivos maridos em defesa de suas damas sacaram de suas armas e alvejaram-se mutuamente, iniciando em conjunto a viajem para o outro mundo.

Entretanto os repórteres residentes distraídos a relatar o que se passa do lado de lá do Oceano não relatam e não comentam o que se passa na sua própria rua.

Todavia este assunto é muito importante.
Não pela particularidade do acontecimento mas sim pelas causas que o originaram.
Se não tomarmos atenção, qualquer dia importamos (se alguém não importou já) o sistema “flash mob” e ouviremos vozes do outro lado:
- Duas mulheres munidas de afiados x-atos arrancaram os respectivos escalpes quando disputavam um lugar na bicha para adquirir um “Magalhães”.
Ou:
- Dois adolescentes envolveram-se numa luta de morte na disputa de um lugar que lhes permitisse adquirir o novo modelo de ténis Nike.

Este movimento a que deram o nome de Mob Project foi iniciado vai para cinco anos por um americano chamado Bill que mandou um e-mail a alguns amigos.
Desde então as convocações feitas por telemóvel provocam aglomerações colectivas de gente alucinada pelo conteúdo das mensagens.

Na fotografia, de 2003, uma multidão enlouquecida convocada por e-mail reuniu-se em frente da loja Toys “R” Us de Times Square em Nova York para olhar um dinossauro gigante que ruge ameaçadoramente para os clientes.
Agora deu nisto!
Cuidem-se.
A.M.

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Uma opinião como qualquer outra



Circula na Net o relato de uma professora de matemática que vou transcrever para a partir dela podermos desenvolver algum raciocínio objectivo. O exemplo dado não é mais do que o relato, feito por imagens, da evolução do ensino da matemática em primeiro lugar e das demais disciplinas em particular em Portugal.

Foi um episódio passado num supermercado que deu origem a ao “desabafo” daquela Senhora Professora. Quando entregou à balconista 2 euros e mais 8 cêntimos para pagar uma despesa de 1,58 euros, para facilitar os trocos e esta teve que chamar o gerente que se viu aflito para conseguir explicar-lhe que só tinha que devolver 50 cêntimos.

Escreveu então:

1. Ensino da matemática em 1950:Um cortador de lenha vende um carro de lenha por € 100,00.O custo de produção desse carro de lenha é igual a 4/5 do preço de venda.Qual é o lucro?

2. Ensino de matemática em 1970:Um cortador de lenha vende um carro de lenha por € 100,00.O custo de produção desse carro de lenha é igual a 4/5 do preço de venda, ou seja, € 80,00.Qual é o lucro?

3. Ensino de matemática em 1980:Um cortador de lenha vende um carro de lenha por € 100,00.O custo de produção desse carro de lenha é € 80,00.Qual é o lucro?

4. Ensino de matemática em 1990:Um cortador de lenha vende um carro de lenha por € 100,00.O custo de produção desse carro de lenha é € 80,00.Escolha a resposta certa, que indica o lucro:( )€ 20,00 ( )€ 40,00 ( )€ 60,00 ( )€ 80,00 ( )€ 100,00

5. Ensino de matemática em 2000:Um cortador de lenha vende um carro de lenha por € 100,00.O custo de produção desse carro de lenha é € 80,00.O lucro é de € 20,00.Está certo?( )SIM ( ) NÃO

6. Ensino de matemática em 2008:Um cortador de lenha vende um carro de lenha por € 100,00.O custo de produção é € 80,00.Se você souber ler coloque um X no € 20,00.( )€ 20,00 ( )€ 40,00 ( )€ 60,00 ( )€ 80,00 ( )€ 100,00

Porque entrei para a escola primária em 1943, nos anos 90 dei aulas numa escola militar e até hoje tenho seguido o percurso escolar dos meus netos, encontro nesta elucidativa apresentação o retrato fiel da evolução do ensino no nosso país.

Como não é a primeira vez que referindo-me a este assunto, coloco o treino do raciocínio em primeiro lugar em detrimento do treino da memória (ó cabos, ó rios e seus afluentes, ó linhas férreas e ramais, ó capitais de distrito e cidades, ó serras), não posso deixar de afirmar que ao menor esforço de memória deveria ter correspondido maior adestramento do raciocínio ao invés da sua quase anulação, como demonstrado neste elucidativo relato.

Se a integração europeia nos colocou perante a obrigação de cumprir metas no que respeita ao aproveitamento escolar o caminho a seguir devia passar por revolucionar os métodos de ensino e/ou aprendizagem, adaptar os currículos às necessidades numa perspectiva de futuro, não difícil de prever e reciclar a classe docente com métodos modernos de técnicas de instrução, que sem impedir a liberdade de improvisação dos professores pudesse melhorar a sua transmissão de conhecimentos.

O facilitismo foi a palavra de ordem.
O coeficiente do aproveitamento escolar subiu e aproximou-se dos níveis Europeus.
Melhorou por acaso o ensino?
Ou dizendo de outro modo: Os alunos acabam os seus cursos mais bem preparados?
A.M.
Continua

sábado, 22 de novembro de 2008

A vida está boa para quem?

Aprendi a guiar no Chevrolet de um amigo. Tinha-lhe custado 5 contos de reis e não tinha livrete. Era um carro enorme de um azul desbotadíssimo e tinha apenas uma ligeira amolgadela no pára-choques de trás. Alguns anos antes, quando a gasolina era barata circulavam nas nossas estradas muitos carros de marcas americanas. Ainda me recordo da miudagem se sentar à beira da estrada e tentar adivinhar primeiro do que os outros a marca e o modelo do automóvel que aparecia lá ao longe saindo da curva.
Não é por me gabar mas era muito bom nisso.
Ainda hoje me recordo de marcas como o Buick, Oldsmobile, Cadillac, Packard, Studebaker, Crysler, Pontiac para além, claro está do Ford, para referir uma marca que tinha modelos de mais pequeno porte como aquele que ficou conhecido pelo "calça arregaçada".
Mais tarde o preço do combustível começou a subir e esses carros foram perdendo valor até se poderem comprar por uma ninharia.
Recordo-me agora de uma historiazinha, daquelas que intercalavam os artigos principais das selecções dos anos 50.
Um americano tinha um studebaker e não conseguia vendê-lo por preço algum.
Resolveu então colocar um anúncio no jornal informando que quem quisesse um Studebaker de 1950, podia ir buscá-lo à rua tal, em frente do número X, que as chaves estavam na ignição.
No dia seguinte, logo de manhã foi à janela espreitar para verificar se já tinham levado o carro e viu admirado que tinham estacionado encostados ao passeio mais 15 Studbakers iguais ao seu.

Por essa razão o meu amigo conseguiu comprar um carro que bebia alguns 14 litros aos 100. Saía poucas vezes com ele. Ou ao fim de semana para dar uma passeata até à praia ou então numa emergência como aconteceu no dia em que se deu o "acidente" que originou a pequena amolgadura no pára-choques.
Dirigindo-se à farmácia da zona para comprar um medicamento viu um espaço para arrumar o carro e começou a fazer a manobra para consegui-lo. Quando olhou pelo espelho retrovisor viu que um carrito pequeno se lhe tinha antecipado e zás já lá estava a tapar o buraco. O jovem condutor saiu ligeiro da viatura e com ar de gozo, gritou-lhe:
- A vida está para os espertos!
O meu amigo meteu a marcha atrás, encostou no pequenote e empurrou-o para cima do passeio, ficando a ocupar o lugar anteriormente usurpado. Deitou a cabeça fora da janela e advertiu o jovem especado e atónito no meio da rua:
- A vida está para quem tem dinheiro!

Saiu-lhe cara a brincadeira. Mas que lhe deve ter dado imenso gozo, lá isso, não duvido.
E fica a pergunta:
Afinal para quem está a vida boa?

P.S. – Os meus agradecimentos a Laranjalima pelo mote.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Entre o sebastianismo e o salazarismo

Isto é o cúmulo!
Quando acordei sobressaltado depois dum cochilo a seguir ao almoço, que os carapaus fritos caíram-me na fraqueza, estava em 1942 a colar fitinhas nos vidros das janelas por causa dos bombardeamentos. Vêm aí os alemães, diziam uns! Nada disso, é por causa dos aliados, diziam outros. Nunca veio ninguém e por fim até ficámos fora do plano Marshall. Consta que Salazar disse que não precisava de favores. Pois.

Claro que naquele tempo não fechavam escolas.
Pois se os alunos nem chegavam para encher as que havia, calha bem. Em todo o distrito de Santarém havia apenas um Liceu oficial e aqueles cujos pais pudessem pagar os estudos frequentavam colégios particulares e iam fazer exame ao Liceu de Santarém, como eu fui e até tive deficiência a português o que me obrigou a seguir a carreira de electricista.

É o destino a marcar a hora, como cantava o Tony.
Não sei que idade tem o Sr. que estabeleceu aquele paralelo nem me interessa, porque ou não lhe contaram o filme ou já se esqueceu do enredo.
Comparar a escolaridade de então, determinada pelo poder económico e a escolaridade obrigatória actual é um autêntico e tendencioso absurdo.
Não havia desemprego? Pudera!
Ainda hoje, no noticiário das 13 foram apresentados os números da Emigração e entre 1955 e 1974. À média de 85 mil por ano foram-se embora 1 milhão e 600 mil portugueses.Durante alguns anos os números da emigração foram insignificantes, para voltarem a crescer nos últimos tempos para valores alarmantes.
Mas se o mesmo Sr., numa época em que reinava o orgulhosamente sós, atribui alguma influência às “dificuldades que se viviam no mundo”, porque não atribui hoje nenhuma culpas ao mundo pelos problemas actuais, se agora até estamos globalizados e portanto muito mais dependentes do mundo exterior?

O tempo não volta para trás. Não há coca-cola que chegue para desenferrujar os carretos da marcha à ré!
Se o Marquês de Pombal cá viesse espreitar ia julgar que um gigantesco bicho caruncho lhe tinha minado a cidade por baixo e ficava com um complexo tão grande ao ver rodovias com seis faixas que regressava imediatamente ao lugar onde repousa.
Não se fechavam centros de saúde? Mas onde é que os havia?
Chiça que eu ia morrendo por causa duma apendicite que o ferreiro da minha terra não descortinou.
Só estou a falar assim porque pode estar aqui algum jovem como a Korujita e acreditar que o Sr. está a falar verdade.
Pois então também vou dizer uma:
Quando o D. Afonso Henriques conquistou Santarém depois de amolar as facas em Malhou, o pessoal do norte só soube 15 dias depois, quando o JN publicou a notícia.

Então não estamos a brincar?
A.M.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

O Leopardo

A sala de espera de um hospital é um local óptimo para deixar a imaginação tomar o freio nos dentes. Deixá-la ir, correr descontrolada, ziguezaguear entre obstáculos, saltar valados e riachos até que, exausta, esmoreça e estaque.

O senhor que está ao nosso lado esquerdo segura as análises com tal empenho que deve estar com medo que lhe fujam. A senhora ao lado não tira os olhos do monitor colocado na parede á sua esquerda, receando que passe o número da sua senha sem se dar conta.

Vai certamente sair daqui com um torcicolo.
Quatro cadeiras alinham-se na parede em frente. Numa ponta está sentado um velhote da minha idade lendo o Destak, ao seu lado uma jovem de cabelo azeviche e olhos verdes, folheia uma Nova Gente de 1914; a seguir, de perna traçada uma mãe de família que não cuidou da linha deixa entrever alguns quilos de celulite e ao lado cabeceia com sono uma velha senhora. Por enquanto ainda não se babou, mas de cada vez que, cabeceando, perde o equilíbrio, abre os olhos e mira em redor para ver se alguém está a ver. Nunca encontra ninguém a olhar para ela, pois no preciso momento em que acorda, a assistência está a olhar para o teto ou para as unhas, sustendo o riso.

Agora dou comigo a pensar que antigamente não havia ar condicionado e os doentes que esperavam a sua vez rapavam frio de rachar ou calor de derreter as pedras da calçada. Eu por acaso nunca disse que antigamente é que era bom porque não consigo deixar de estar ligado ao passado de uma maneira muito real e viva.
O espaço central entre o par de cadeiras da esquerda e o da direita é um pouco maior.
Caramba, o que ficava ali bem era um escarrador.

Ainda não tinha sido inventado o plástico e o aço inox, e as panelas e os tachos tal como os escarradores eram de ferro esmaltado. Foi a época do esmalte que conviveu paredes-meias com os fogões Hipólito, a farinha 33, o sabão amarelo e os candeeiros de torcida.
Normalmente em esmalte branco, havia-os de dois tipos – directamente colocados ao nível do chão ou empoleirados a meia altura numa armação de ferro pintado da mesma cor. A vantagem destes sobre aqueles é óbvia e não vale a pena dar mais explicações.

Por momentos regresso ao presente e olho para o papel que vou enrolando nos dedos de forma automática. É a minha senha de chamada. Tem precisamente o número 69.
Ainda não tinha dado muita atenção a esse facto, talvez devido à idade e á distância.

No segundo logo a seguir, estou numa plateia de cinema a ver o “O Leopardo”. Na minha opinião um dos melhores filmes de Visconti ao lado de “Morte em Veneza”.
Tem como fundo a Sicília numa época em que ao contrário das divisões que os nacionalismos hoje estão a produzir, Garibaldi lutava pela unificação da Itália.
Burt Lancaster representa o aristocrata reaccionário que tenta resistir aos ventos de mudança e Angélica (Cláudia Cardinali) é o elo que estabelece a ligação entre o passado e o futuro.

Mas porquê o Leopardo? Saltou inopinadamente do ramo dum cipó para a sala de espera dum hospital? Assim sem mais nem menos?
Foi por causa do número da minha senha, caramba!
O filme é de 1962 ou 1963, creio eu, e por essa altura Cláudia Cardinali foi ao banco levantar dinheiro. Naquele tempo as liras eram às carradas ou às pazadas e também ainda não havia os contadores automáticos de notas, pelo que era o caixa que as contava manualmente.
De cabeça baixa sobre o balcão ia contando 1, 2, 3, 4 , com um olho no dinheiro e o outro no decote de Cláudia (como de costume sempre muito liberais), 30, 31, 32, 33 e foi contando… 66, 67, 68, quem me dera, 70, 71…
- O Sr. Não é o 69? – Alertou-me a senhora do lado – estão a chamá-lo.

sábado, 8 de novembro de 2008

"Ortorrombiquidade"

Preferia que este lugar fosse mais calmo no que se refere a insultos e agressões e mais agitado no que respeita a troca de ideias e opiniões.
Mesmo que decida fazer um interregno e deixar de retribuir os “mimos” que me dirigem, lá sou citado outra e outra vez para receber um Óscar maldito.

Se não lhe ligo o homem parece que fica doido.
Podia ignorar-me, já lho pedi, mas não resiste e lá vem a provocaçãozinha.
Claro que devia sentir-me orgulhoso por não encontrar mais nada para criticar do que eu ser bufo por denunciá-lo ao SIS (quem admitirá) e comunatuga porque critico os amaricanos (não os americanos) e também mentiroso por razões que não consegue explicar direito e mais ainda por uma série de fantasias que só aquela sua rica cabecinha de minhoca* pode congeminar. E nem me daria ao trabalho de me referir a tal personalidade, esperançado que me (nos) deixasse em sossego, se não fosse ter dado agora em professor de português.
Só não é o cúmulo do descaramento porque o cúmulo tem fim e o descaramento é infinito.
Claro que vou novamente ser acusado de sarcasmo “reptício”, provocações e insultos indirectos, sem que tal advogado de defesa leve em conta que respondo a uma provocação maldosa e ordinária.
Não me ofendo com semelhante crítica dado que acreditando na evolução das espécies, tudo indica que em determinada etapa ondulávamos o corpo por esse chão fora para caçar alguma presa ou fugir de algum predador.
Não quero deixar de dizer-lhe, caro advogado, que o termo reptício não aparece nos nossos dicionários, fazendo parte, isso sim da palavra composta sub-reptício, que por sua vez significa fraudulento. Reptílico é o termo usado para indicar condição de réptil. Mas sabe-se lá o que o senhor pretendia dizer para além de tentar ofender-me?

Agora o amigo, o seu dilecto amigo e companheiro da cruzada que constantemente me chama mentiroso, desta vez, porque em qualquer altura que já nem me lembro, afirmei que o termo “porra” tinha, para além de outros significados em outros tantos contextos, também o de “pénis”, voltou a encontrar mais uma razão para realçar a minha tendência para a impostura.
E onde se baseia o douto conselheiro? No seu estupendo arquivo de duas prateleiras de livros que nunca abriu e de outros conjuntos imitações que servem para compor prateleiras vazias, assim a modos como o peru de plástico que o Bush andou a passear numa travessa pelo Natal no meio dos marines.

Num texto de três linhas são três bujardas: “palmatora, quizer e perciso.
À média de um por linha se não contar com a acentuação, coisa que não costumo contabilizar porque os teclados amaricanos não a usam, embora este pareça ter uma semeadora que no final do trabalho atira aleatoriamente sobre o mesmo um punhado de graves agudos e circunflexos. Alguns ficam no sítio certo.

Quanto à “porra”.
É uma palavra de baixo calão, um palavrão.
Usa-se para tudo e para nada:
- Isto é uma porra!
- Não percebo nada desta porra!
- Agora a porra do motor não trabalha!
- A porra da torneira não deita água!
Funciona como exclamação ou interjeição.
Porra, de origem obscura, era o nome de uma clava, espécie de pau curto, com cabeça, ou peça semelhante de ferro; cacete; barra.
Cantanheda relata em História da Índia, VI, cap. 46, pg.101, ” e um mouro lhe deu com uma porra de ferro na cabeça com que o deitou, muito ferido, do cavalo abaixo”.
Modernamente porra é um plebeísmo obsceno; o mesmo que pénis.
Estes elementos foram retirados do dicionário De Morais, pag.530 do vol. 8.

Porra ainda tem outros significados no Brasil, mas não me vou alongar porque só pretendia informar que normalmente não afirmo coisas à toa e tenho por hábito, quando erro, retratar-me e pedir desculpa.

Resta-me ainda acrescentar, depois de ter visto a última produção da mesma personalidade, bufando por tudo quanto é poro, contra aqueles que escrevem nos blogues uns dos outros para o criticar, que fui atacado por um impulso de retenção: eh pá, perdes o teu rico tempo!
Um fiveniks a criticar quem só usa um nick por causa da falta de espaço para propagandear o seu ódio a Portugal e aos portugueses? Não tem os cinco alqueires bem medidos. Só pode ser!

Isto digo eu, que só ocupo o espaço do meu nik e aproveito muito raramente a boleia do espaço de quem mo permite para debitar uma opinião que tanto pode ser uma crítica como um louvor.

Se Deus existe só pode proporcionar o paraíso a quem tem que aturar semelhante isso!!!
A.M.

* A minhoca não tem cabeça. É rabo nas extremidades.

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Aprender sem complexos

Repito o que sempre disse: estamos sempre a aprender, em qualquer lado e em qualquer momento; em Ranholas ou em Paris, com o analfabeto ou com o letrado.

O que hoje me dificulta a aprendizagem não é a vontade, mas o índice de mortalidade de umas pequenas células que teimam em não se renovar. Enquanto me sobrarem algumas, não deixarei de tomar posições consentâneas com este modo de estar na vida, evitando apelidar maldosamente de intelectual qualquer pessoa que para se expressar use palavras que não conheço, disserte sobre temas qestudando para cavaloue não domino e até mesmo compreendendo aqueles que usam moderadamente citações célebres para engalanar a prosa.

Foi por pensar assim, que reagindo automaticamente à indicação de um sítio onde havia um armazém de citações em latim logo me pus a caminho. Verificando que ali havia muito material, que para além de me poder ser útil para realçar uma ideia, me ajudaria a compreender as ideias dos outros, fiquei naturalmente reconhecido pela sugestão.

Logo à partida, numa visita muito breve, encontrei explicação para o termo fulambó usado no filme Pátio das Cantigas (creio eu) quando de arco e balão os marchantes cantam:

Toca o fungágá
Toca o solidó
Nesta marcha p’ra dançar o Fulambó.

Marche aux flambeaux – marcha das tochas, parece explicar o galicismo.
Como não fiquei por aqui, numa outra página do mesmo sítio encontrei “vozes de animais e barulhos ou ruídos de coisas”. Claro que o sítio é brasileiro, e no que respeita à fauna os ruídos são extensíssimos, podendo desprezar as vozes do caburé, da capivara ou do guará, ficamos a saber, contudo, que a mosca para além de zoar ou zumbir, também zonzoneia, sussura e azoina.

Maravilha!

Que o burro zurra ou relincha? Toda a gente sabe. Mas que também orneia, zorna e rebusna é que poucos saberão!

Outra coisa que aprendi hoje, num outro local, foi a importância do multiculturismo no etnocentrismo Europeu, ou seja, o extraordinário impulso que pode ser dado ao entendimento entre as diversas etnias através do desenvolvimento não só dos bíceps, mas também dos gémeos, dos peitorais, do externocleidomastóideo e mesmo do grande glúteo.

Obrigado por informação tão preciosa, para quem gosta de aprender e usar o que aprende sem receio que lhe chamem nomes.

A.M.

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Fuga para trás

Viagem em Fevereiro de 2006, programada e realizada apesar de raios e coriscos

Quando se programa alguma coisa que inclua mais de 2 pessoas só resta uma hipótese ao organizador: marcar o dia e a hora; quem quer vai, quem não quer fica em casa.
Se o desgraçado do organizador começa a querer conciliar os interesses e disponibilidades de cada um, o evento realiza-se é nunca!

Por essa razão, marcada que foi, não se volta atrás, quer faça sol, quer faça chuva.
Desta feita fez alguma, mas houve boas abertas.

O acontecimento poderia intitular-se “Viagem às origens” e denominar-se como nas coisas feitas em série de I, II e III, dado que se vem repetindo periodicamente sem data marcada mas correspondendo sempre a um impulso, tal e qual como o apito do telemóvel quando a bateria está fraca: carreguem-me, suplica ela!

E, lá vamos… não cantando e rindo mas rindo e cantando do tempo em que cantávamos e ríamos por obrigação devidamente oficializada nos matinais sábados de todas as semanas excepto nas férias. Muito perfilados, muito alinhadinhos!

Por dois dias a gente conta as pedras da calçada para ver se não falta nenhuma, procura os sítios onde se deram os grandes acontecimentos: olha, aqui foi a primeira vez que fui preso por andar a jogar à bola; ali naquela esquina foi onde malhei com os ossos no chão; a cheia de 1945 chegou àquele degrau – lembras-te? Eh, pá e que é feito daquele tipo que casou com a trapezista quando o circo Mariano esteve montado ali no largo?
Já morreu? E ela também? Porra que estamos velhos! E daquela zaragata no baile da M. quando tu comentaste em volta alta: “o baile não está mau, mas a tourada em Vila Franca estava melhor? Que grande arraial!

Dois dias depois a gente chega com os acumuladores na sua capacidade máxima e procura fazer um balanço.
Para além da sentimental recauchutagem, motivo primeiro da viagem às origens e de inegável êxito, quero deixar duas notas:
A primeira é negativa. Visitando a casa onde viveu Camões, em Constância, deparei com uma escultura colocada no Jardim-horto. Ao vê-la não consegui deixar de pensar no meu tempo de estudante, e nas diligências feitas pa
ra encontrar o canto nono em qualquer lado, já que o mesmo tinha sido amputado de “Os Lusíadas” escolares.
Poder-se-ia pensar, ao ver aquela peça de estatuária representando um casal na missionante posição da respectiva arte hindu, de que aliás Camões devia conhecer profundamente todos os segredos, que a velha, bolorenta e hipócrita moral dos costumes, tinha sido enterrada para todo o sempre.
Assim seria se…
Se a aquela bela peça não estivesse tapada com uma serapilheira, procurando esconder o mais usual acto de amor do mundo, como se um diácono censório alarmado com semelhante e impúdica posição providenciasse à sua ocultação.

O mais ridículo, é que uma coisa que poderia ser olhada apenas como uma obra de arte, erótica sem dúvida, passou a ser espreitada como peça pornográfica, dado que, mal escondida, deixa ainda perceber as torneadas pernocas da ninfa agitando-se no ar.

A parte positiva desta curta viagem encontra-se na ausência.
Não tendo a “obrigação” de ver televisão não tive que aturar o autêntico massacre da reportagem de um acto tão simples como o da trasladação de umas ossadas.
Contam-me que foi uma coisa demolidora.


sexta-feira, 24 de outubro de 2008

A cultura da radicalização é um fenómeno intrínseco das sociedades do século XXI de que os americanos são um exemplo.
A teoria do "quem não é por mim é contra mim" é advogada e expandida pelos responsáveis políticos provocando aquilo a que temos assistido durante a campanha para as presidenciais nos EUA. Os republicanos classificam os democratas de teroristas e comunistas e os democratas apelidam os republicanos de Nazis e fascistas.
Poder-se-ia averiguar quem inicia este tipo de hostilidades.
Creio contudo que não vale a pena.
Não testemunhamos diariamente o que se passa aqui, neste restrito espaço?
Seria preciso uma amostra mais significativa?

domingo, 19 de outubro de 2008


O octogenário já devia ter aprendido que este septuagenário não está tão gagá como ele e tem a grande vantagem de ter uma vida calma sossegada, sem ódios e perseguições, que vive o dia a dia sem dores embora já não arrisque comprar bananas verdes. (Acho esta metáfora super engraçada).

Até o chimbalau que levei no meu PPR por causa do incentivo ao consumo do Bush, que pôs o mundo de pantanas, já pendurei no armário das coisas para esquecer.
Agora, até gostava de ver a descida aos infernos, de tal modo que o ordenado de um dia só desse para comprar uma caixa de fósforos.
Por mim tudo bem. Arranco a relva do jardim e volto como em 1973 a plantar umas couves e a semear umas batatas.

Então não é que o pintor das pintas dos is, produziu uma sentença?

“Post "Título"foi excluido dos Blogues pelo administrador ou moderador do JN, o JMS concorda plenamente porque cheguei a ver o vídio. JMS USA God Bless”

Olha, olha! Ele concorda plenamente.
Com quê?
Viu o quê?
Vou ser aborrecido dado que tenho que fazer um esquema.
Em primeiro lugar nunca tive nada censurado pelo JN. Se alguns textos não foram publicados à primeira ou segunda vez acabaram sempre por sê-lo. Como nunca tive a mania da perseguição, característica de algumas pessoas que conheço e que passam os dias a vitimizar-se, atribuí esses lapsos a erros meus ou do próprio sistema.

Quem publicou o vídeo fui eu o Zé Mata, mais conhecido por comunatuga, membro da turma do funil, mentiroso e suponho que ex-stooger se entretanto não resolverem reanimá-lo – o pateta.
Pela primeira vez, porque para tudo há uma primeira vez, estava a tentar introduzir um vídeo do You Tube no meu blogue JN. Depois de algumas tentativas, porque o Leão não me quer dar umas aulas de informática, alguns sopapos na tola e algumas pragas irreproduzíveis, Eureka, vitória.
O vídeo do You Tube foi apanhado à ganância, foi o que veio à rede, mas sei onde ele está e posso voltar a colocá-lo.
Como era apenas uma experiência e não vinha a propósito de nada, imediatamente o apaguei. Fui eu que eliminei o poste “Título”, porque tal como o apago a ele do meu espaço por causa dos insultos, também posso emendar ou eliminar os meus próprios textos.
Mas ele gosta de mim! Não passa sem mim! Cita-me a todo o instante, por tudo e por nada! Creio mesmo que se me finasse neste momento ele ia morrer de desgosto:
Assim, tendo visto que o post era do PereiradaMata e reparando que desapareceu de seguida logo imaginou que o JN me estava a censurar uma ordinarice como aquelas que vem aqui produzindo.
Pois agora, que já foi promovido a sixniks, diga à gente do que tratava o vídeo já que afirma que o viu e… pasme-se… até concorda com a sua eliminação.
Vou esperar 24 horas (isto agora é só 24 horas para tudo) para nos informar do que viu.
Depois, como já aprendi a meter o videozinho lá no sítio, vou buscá-lo e coloco-o lá de novo. È uma coisa sem pés nem cabeça. Vamos ver o que acontece.

Aposto que ninguém se vai rir perante comportamento tão trágico.
A.M.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

O Empastelador

Até parece que este vocábulo não existe dado que já ficou ali atrás sublinhado a vermelho, forma metafórica de informar que estou escrevendo no “Word”.
A maioria dos dicionários acoplados a sistemas de escrita como o “Word”, são muito básicos e fazem uma cobertura muito reduzida de todo o vocabulário contido num bom dicionário.
Se o termo empastelar existe, principalmente desde que se inventou o prelo e os tipos produziram uma palavra ou linhas ininteligíveis, por excesso de tinta, arrastamento ou outra qualquer razão, é muito natural que ao operador e causador do empastelamento se chame empastelador.
Se me lembrei de falar nisto nem foi por causa da escrita impressa, dado que a maquinaria moderna que agora existe talvez já nem empastele coisa nenhuma.

Os Radares principais são constituídos por um emissor, um receptor, e uma antena se for radar de busca, e uma outra para aproximação, como nos casos de GCA (Ground Controlled Approach). A característica básica dos emissores e receptores usados em radar comparativamente aos usados em comunicações têm potências de emissão muito elevadas e receptores muito sensíveis (com enorme poder de captação de sinais rádio.
Porquê?
Pela razão, facilmente entendível, que o sinal emitido pelo radar tem a função de ser reflectido por obstáculos estranhos (aviões, por exemplo) que se encontrem na faixa de cobertura de um determinado radar. Isto é, o receptor tem que captar uma parte ínfima do sinal emitido quando encontra o obstáculo. Toda a gente se recorda de um avião que devido à forma como foi construído apresentava uma reduzida área de reflexão, tornando-o quase “invisível” para os radares. O sinal captado é então enviado para o PPI (plan position indicator) a que chamamos visor, onde o varrimento provocado pela rotação da antena provoca um ponto luminoso correspondente à reflexão do sinal emitido.
Como sempre acontece, para um sistema logo se arranja um contra sistema.
O período da guerra electrónica encontrou um meio simples e eficaz de impedir a detecção. Para o efeito equipou aviões com sistemas que permitiam descobrir a frequência de trabalho dos radares e em seguida emitia um sinal naquela frequência que nem precisava de ser muito forte dado que era dirigido directamente para a antena que captava os sinais reflectidos.
Isto provocava no PPI um cone luminoso que impedia a detecção de aviões que entrassem nesse sector.
Dizia-se, e consta das técnicas aprendidas, que o radar estava empastelado.

Não encontrei uma forma mais simples de caracterizar aquilo que se está a passar nos Blogues do Leitor com o envio maciço ou massivo (escolham) de fotografias da bela América, desdobradas em five ou six niks do mesmo autor.
Empastelar existe.
Empastelamento também!
Porque raio de carga de água Empastelador é um erro?
Como dizia um amigo meu, quando inventava um neologismo:
- Não existe mas passa a existir!
A.M.

terça-feira, 14 de outubro de 2008

A América é linda









USA 2008: The Great Depression

Food stamps are the symbol of poverty in the US. In the era of the credit crunch, a record 28 million Americans are now relying on them to survive – a sure sign the world's richest country faces economic crisis

Nota: São quase 3 "Portugais"










sábado, 11 de outubro de 2008

Não pode ser terreno

O argumento mais cretino que ouvi até hoje para criticar qualquer comentário é acusar o seu autor de ter procurado informar-se numa enciclopédia, numa biblioteca ou, o que cada vez vem sendo mais comum, na Internet.
Repetidamente, este argumento vem sendo usado como se fosse uma arma letal contra os inimigos de opinião, e talvez não só, ao mesmo tempo que não ousam levantar a voz para aqueles que repetidamente copiam e colam aqui artigos alheios sem mencionarem a origem.
Uma autêntica vergonha.

Cada um de nós, para além de um determinado mas reduzido conhecimento pré natal, é aquilo que vai assimilando ao longo da sua existência, vendo, ouvindo, lendo… sentindo.
A aprendizagem só termina por incapacidades extremas do foro neurológico e com a morte.
Parece haver agora uma excepção.
Um ser que nasceu possuidor de todo o conhecimento.
Não usa dicionários, não vai a bibliotecas, não compra livros, não vai ao cinema nem ao teatro, nem a uma exposição de pintura, não ouve música, não consulta a net.
Todas as suas opiniões todos os seus ditos são originais. Excepto quando conta anedotas mais velhas que Judas a aliviar-se no deserto.
Já trazia todo o conhecimento à nascença.
Ainda a cabeça assomava para a vida já vinha completo.
Completo, todo pronto… concluído.
Sim, este ser maquinal, tem o direito de criticar todos os consultores.
Ele não consulta.
É um ás.
Matinha

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Corrupção ou imoralidade?

No extinto "Desabafe Connosco" discutimos diversas vezes o grave problema da corrupção e o quanto ela contribui para arruinar a economia de um país, provocar instabilidade social e desmoralizar o seu povo. Se a corrupção não for combatida com violência, mais tarde ou mais cedo tomará conta de todas as áreas da economia, públicas e privadas numa tal escala que tornará difícil qualquer reversão.

A corrupção foi criticada por "Desabafantes" das mais diversas áreas políticas, desviando-se por vezes, é certo, para discutir onde havia mais corruptos, se na esquerda se na direita. Como é evidente a corrupção não tem cores partidárias. Tentar medir onde o grau de corrupção é maior é um "olha o passarinho" para nos distrair do essencial que é denunciá-la e combatê-la.

A imagem que os diversos governos nos têm transmitido no que respeita a medidas concretas para eliminar ou reduzir esta autêntica sanguessuga de mil cabeças, não tem sido nada animadora.
Os poucos casos que são investigados e vão a julgamento levam anos para chegar ao fim ou acabam por prescrever. As leis permitem, a quem tem dinheiro, adiar sucessivamente as audiências e meter recursos pelas mais absurdas razões até que… se chegue à conclusão que afinal o crime compensa.
Há todavia uma corrupção que não é crime. Ou seja era crime se pessoas sem qualquer escrúpulo e com o beneplácito de governos negligentes ou cúmplices não tivessem manipulado as regras a seu favor de modo a usufruírem de regalias como acontece neste caso aqui.
A imoralidade que existe no contínuo aumento do leque salarial no nosso país, não tem paralelo com qualquer outro país da União Europeia. Sendo, como somos, o que tem o salário médio mais baixo, este facto atinge a classificação de autêntico escândalo ou, como diria a minha avó, uma grande sem vergonhice.
A revolta de que somos possuídos nem sequer é atenuada pelo conhecimento de factos com alguma semelhança que acontecem um pouco por todo o mundo.
Se uma empresa seguradora, a AIG, é dirigida por administradores e directores que a conduzem a uma situação de falência, como classificar a atitude desses responsáveis que foram gastar 440 mil euros num hotel de luxo depois do executivo americano ter injectado 85 mil milhões de dólares para salvá-la?
A desculpa: Era uma viagem que já tinha sido planeada um ano antes, como recompensa pelos resultados alcançados.
Se aqueles resultados deram prémio, será que estes vão dar cadeia?
Duvido muito.
A.M.

Carta aberta ao Sr. Luís Delgado

Nem ligaria ao texto se não fosse o título.
O título e a assinatura.
“Quem tem medo desses fanáticos?”, até acorda um morto!

Fui ver.
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Depois de ter deixado de comprar o DN por mor dos seus comentários, precisamente no dia em que resolveu criticar o Governo por ter recebido um dos palestinianos refugiados na Igreja da Natividade, sou agora, confrontado de novo com os seus extraordinários e muito significativos pontos de vista.
Nem sequer vou lamentar o facto de, julgando-me a salvo neste espaço de amadores, vir encontrar aqui transcrições das colunas que mantém noutros jornais.
Claro que o Senhor Luís tem todo o direito de afixar onde muito bem lhe aprouver as suas opiniões, as suas teorias e o seu credo. O espaço é seu.
A sua interpretação/conclusão do fenómeno gerado pelas caricaturas do Maomé está conforme o seu pensamento expresso em outras ocasiões. Tendo escutado no dia anterior Vasco Rato no programa Prós e Contras até fiquei convencido que vocês tinham estabelecido uma estratégia c
onjunta.

O Vasco até não suporta que as mulheres Islâmicas usem burkas. Irrita-se com isso. Tem alergias. Ele acha que elas estão a levar muito tempo a despir-se, mas ouvi dizer que elas acham que as ocidentais estão a despir-se muito depressa.
Eu penso que devia haver um meio-termo entre a burka e o fio dental, embora o fio não me escandalize nada.

Toda a gente tem o direito de se indignar com os costumes das outras civilizações, tal como a minha prima Maria que se assanha toda porque os Zulus têm o estranho costume de fazer o teste da virgindade às mulheres, ou o meu vizinho que implica com as mursis por usarem aquela rodela no lábio inferir. Outro dia contou-me que tinha despedido a empregada quando descobriu que ela era umbanda e tinha o seu próprio Orixá.
Será que os outros não têm o direito de se indignar com os costumes da civilização que o Sr. chama judaico-cristã?

Afirma que nós estamos aterrorizados com o fanatismo Islâmico.
Não se preocupa em saber se os islamitas estão aterrorizados com a ocupação e as guerras impostas pela civilização ocidental.
Israel tem medo que o Irão desenvolva armas nucleares, mas o Irão não pode ter medo que Israel já as tenha?
Perante a sua recomendação “seria bom que a Europa e os EUA se preparassem para um novo conflito”, elevo as mãos a Deus numa prece pedindo-lhe que não permita nunca que venha a ser ministro da defesa de qualquer país. Bolas!
Concordo que se expulse o corpo diplomático do país que transige com os desacatos e ataques a cidadãos ocidentais, mas talvez seja melhor retirar primeiro os nossos? Digo eu que não percebo nada disto.
Mas então, se o Sr. Delgado é analista político não vê que o problema das car
icaturas é apenas a espoleta de um barril de pólvora de que se pretende ignorar existência?
Esta sua intervenção só me espantou por este pormenor: ultrapassou pela direita o próprio Presidente Bush, que pela sua teoria, ao recomendar calma e moderação, se estará a borrar de medo. Acha que sim?
Sabemos ambos que não. Ele apenas pretende que a situação não se agrave no vespeiro onde se meteu, causando mais dificuldades às forças de ocupação.
Creio que desta vez o Sr. Luís Delgado está a criar problemas à política externa dos EUA. Bush não vai gostar.
O meu medo é que as pessoas moderadas, humanistas e pacificadoras não consigam travar os fundamentalistas que de um lado e do outro acirram velhos ódios, incendeiam as relações entre os povos, provocando o caos e a desordem.


A.M. (8/FEV/2006)

A gordura da informação

Quando se descrevem determinadas situações e se omite o nome das pessoas os atingidos amofinam e os desconfiados sentem-se provocados.
De qualquer modo, se a intenção é criticar uma situação, emitir uma opinião, defender um ponto de vista, não é necessário revelar identidades. Neste caso, a crítica é dirigida a um determinado tipo de jornalismo e os personagens são meros acessórios.
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Quando hoje de manhã cheguei ao café da esquina, no respeitoso cumprimento do ritual de reformado, ainda não tinha chegado o jornal com que casei há dois anos em segundas núpcias.
- Empresta-me aí uma coisa qualquer, para ir lendo – falei para o Jorge.
Trouxe-me a bica e um jornal, que por acaso (será por acaso?) é o de maior tiragem neste nosso País, tão menosprezado, tão amesquinhado, mas também, tão amado. Sustida, mesmo a tempo, na pontinha da língua, estacou:
- Tira-me daqui esta merda, que já estou a ficar com comichões.
Deixa-me cá ver se isto por dentro é igual à casca – pensei, entretanto. As cascas que a gente vê nos tablóides costumam reflectir melhor a qualidade do miolo do que, por exemplo, os melões.
Alguns minutos de leitura diagonal foram suficientes. O estilo mantém-se: Títulos garrafais, melodramáticos, catastróficos e definitivos. O corpo da notícia é o alfinete que esvazia o balão!
Exemplo:
Lê-se “Raptada e violada por criminoso”. Imaginamos o quê?
Eu pensei que tinha sido raptada num sinal vermelho, durante o sono, pela calada da noite, à boca do metropolitano, à saída do elevador; sob ameaça de pistola, spray adormecente, navalha de ponta e mola; amordaçada, encapuçada, carregada dentro dum saco e enfiada na mala de um Mercedes. O problema se calhar é meu que vejo muitos filmes “amaricanos”.
Afinal a história era bastante diferente.
Lida toda a notícia encontrada no miolo, ficamos a saber que o criminoso era amigo da família da vítima. Pese embora o seu notável cadastro, era também íntimo de algumas personalidades da nossa “hight society”. Foi em liberdade condicional que ele se tornou amigo do marido da “raptada”, e quando esta se divorciou, ele ficou lá em casa a fazer segurança, acabando ambos por se envolverem intimamente.
O sequestro e o rapto mais não são do que episódios do quotidiano em que estala o desentendimento e alguma violência entre casais desavindos.
Parece que neste caso, como a vítima é personalidade conhecida, a história vale bom dinheiro. Condimentada e guarnecida a preceito é um pitéu para qualquer jornal do crime, seja qual for o título ou a tiragem.
- Oh, Jorge, traz-me mais uma bica que já estou a ficar nervoso!
A.M. 11/FEV/2006

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Editorial (Dez.1997)

Dezembro de 1997 - Editorial da revista o "O Voador"

Quando medeiam alguns anos entre duas afirmações contraditórias produzidas pela mesma pessoa, ela pode sempre argumentar que entretanto a situação se alterou e que foi obrigada a fazer uma adaptação à nova realidade. Pode, também fazer um desmentido.

Para atenuar a má impressão que isso possa causar tem ainda a possibilidade de acusar os adversários de pouco imaginativos, monocórdicos ou mesmo de terem engolido uma cassete.

Mas quando o intervalo entre essas duas informações incoerentes e contraditórias é apenas o tempo que dura um almoço, a justificação torna-se mais difícil. A não ser que ele tenha sido bem regado, facto que nunca poderá servir de argumento por razões óbvias.

Conheci um criador de gado para abate que lamuriava pelo baixo preço das reses no mercado, mas barafustava com violência pelo preço que lhe pediam pelos bifes no talho.

Toda a gente se lembra com certeza do sketch da saudosa Ivone Silva sobre o enorme conflito que existia entre a Olívia patroa e a Olívia costureira.

Calígula, por exemplo, era um verdadeiro sofista na sua crueldade: declarava que puniria os cônsules se eles celebrassem o dia de festa instituído em memória da vitória de Accio e que os puniria se não o celebrassem.

Vem tudo isto a propósito da campanha para as autárquicas que alguns candidatos já estão fazendo. Não serão tão cruéis como Calígula, mas são certamente tão sofistas como Protágoras. Sem terem o cuidado de ler os seus discursos anteriores, defendem agora o que criticaram e criticam o que defenderam. Conforme a hora e o local são pró ou anti regionalistas; condenam as promessas dos opositores que eles próprios mantém nos seus programas eleitorais.

Estão convencidos que os eleitores não se apercebem das contradições e falsas promessas.

Até quando?
A.M.

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

A profiláctica menina-de-cinco-olhos

Ainda não me esqueci que na escola primária dava erros que me fartava. Ás vezes era mais de uma dúzia! Como é que me havia de esquecer se por cada erro levava um bolo com a menina-de-cinco-olhos.A gente ficava a olhar para a palma da mão enquanto ela se avermelhava deixando cinco pontinhos brancos na sua superfície. Era lindo!
Depois criei o vício da leitura. Ele era o Diabrete, o Mosquito e o Mundo de Aventuras. Depois chegou o Emílio Salgari e Sandokan, O Tigre da Malásia, a que se seguiu o Júlio Verne e o Miguel Strogoff e o Mathias Sandorff e mais aquelas léguas todas pelo ar, no subsolo e debaixo d'água.
Quando tinha catorze anos já devorara de uma penada quase toda a colecção do Camilo que por acaso havia lá em casa e me tinha exaurido em lágrimas com o peso de tanta tragédia. Às tantas não havia controlo, tudo o que viesse à mão era para ser lido. Bom e mau!Mary Love, por exemplo, mais o seu Chauffeur Russo, tinha muita saída naquela época em que o romantismo ainda não tinha morrido totalmente. E então o Rabelais? Nessa altura li as "Lúbricas" e creio que até hoje nunca mais li nada do Rabelais. Mas aquele era "muita" bom! Contribuiu muito para a minha formação nessa específica vertente.
Claro que devo isto tudo à televisão, ou seja, à falta dela. A minha mãe chamava-me para almoçar duas ou três vezes e eu respondia que já ia, que estava mesmo a terminar aquela folha.
Hoje, chamo os meus netos para virem para a mesa e eles:
- Já vamos! O filme está mesmo a terminar.
Acabei por me apaixonar pela minha língua. Tanto, que tenho remorsos por não ter reservado mais tempo para o seu estudo. Sinto mesmo que lhe poderia ter dedicado toda a minha vida.Por essa razão, embora aceite que a juventude esteja a inventar uma nova escrita baseada em iniciais, abreviaturas e símbolos, eu, apesar dessa compreensão, já não tenho estaleca para iniciar outro aprendizado, mesmo agora que nem nos antiquários se encontra uma menina-de- cinco-olhos.
Há lá alguma coisa mais cativante do que construir uma frase?! Se um erro me dá um calafrio, dois erros provocam-me uma constipação. Os meus erros, como é evidente.
Não é por isso de admirar que esteja sempre com o pingo no nariz.
Mas que luto? Lá isso luto!
Nestes espaços em que trocamos e discutimos ideias não é bonito andar a comentar os erros gramaticais que cada um de nós possa cometer por isso existe uma espécie de acordo tácito para o evitar. Mas como não há regra sem excepções isso já tem acontecido algumas vezes. Pessoalmente não me importo que me corrijam, seja no aspecto gramatical ou sintáctico, até agradeço.
Nesta época de extraordinário desenvolvimento tecnológico temos á nossa disposição equipamento adequado para nos alertar dos erros cometidos. Embora a maior parte das vezes escrevamos directamente no "sítio", aconselho vivamente o uso do Word, que não sendo perfeito é, contudo, um óptimo instrumento para aprendermos a escrever o mais correctamente possível. Depois é só copiar e colar. Mesmo com muitas falhas alguns aspectos como os erros de concordância são também detectados. Uma limitação que o sistema apresenta é o da observância dos contextos. Se eu escrever, por exemplo:"Quando entrei no cons0lado de Portugal em Marrocos, fiquei consulado com a recepção, o Word, impávido e sereno, fica mudo. Contudo, noutros tempos, dava direito a dois bolos com a menina-de-cinco-olhos.
Desculpem o devaneio.
A.M.

A Relatividade

Fico muito deprimido por só agora aos 71 anos de idade ter entendido como afinal era tão fácil deixar de ser mal alimentado, mal educado, alcoolizado, sebento, desastrado, presunçoso, arrogante, ignorante, orgulhoso, vaidoso, imodesto, emproado, pedante, convencido, afectado, empertigado, enfatuado, soberbo, presumido, snob, altaneiro, altivo, desdenhoso, sobranceiro, fanfarrão, bazofiador, emproado, pimpão, impostor, chamborgas, farronqueiro, bugalhão, gabarolas, jactancioso, ufano, chançudo, insolente, petulante, magestoso, intolerante, inflexível, rígido e fanático.
Bastava-me ter embarcado num “super constelation” para as Américas e logo ao poisar o pé em solo ameríndio passaria a ficar bem alimentado segundo a escola Macdonaldoidana, bem-educado, abstémio, asseado, hábil, modesto, moderado e… por aí fora.
O erro foi-me induzido, embora involuntariamente, pelo Pranto. O Pranto era um vizinho que trabalhou nos EUA no tempo em que os índios ainda criavam alguns problemas aos colonizadores. Já velho, regressou a Portugal e vivia modestamente dos rendimentos. Contava inverosímeis estórias de Cowboys que deliciavam a criançada. Falava das dólares com muita frequência como se fosse o elo de ligação com o seu passado de aventura, e não largava por nada o típico chapéu à Gary Cooper. A gente pagava-lhe em géneros. Lia-lhe as notícias do jornal diário pois era analfabeto. Com ele aprendemos a dizer camone, charape, teicarisi e gudenaite, absolutamente suficientes para representar os diálogos nas nossas brincadeiras do farueste, à tardinha, depois das aulas.
Não fosse ter tirado as medidas ao Novo Mundo pela bitola do Pranto e talvez eu não fosse a besta que sou hoje.
O Destino marca a hora!
Onde é que eu já ouvi isto?
Ah, pois, canta Tony de Matos!
A.M.

DESALMADAMENTE

Quando um dia destes liguei a televisão estava a dar o programa "Fátima" onde duas cartomantes com os respectivos partenaires e uma ex-miss tratavam de desenferrujar a língua comentando a vida das famosas personalidades do nosso jet-set.
Enquanto punha os pratos na mesa para o almocinho, ouvi:- Amavam-se desalmadamente! Lancei o rabo do olho para o ecrã. Era a ex-miss que dissertava sobre a desavença conjugal de um casal de que nunca ouvi falar, mas que parece ser muito importante, pois eles estão sempre a dizer em relação aos comentados - "que todo o Portugal conhece".
Parece que tinha sido um mal entendido e tudo havia de se recompor perante tal paixão. A primeira coisa que qualquer ser pensante faz quando o seu ouvido se sente "ferido" é procurar a causa. Neste caso não era preciso perder muito tempo dado que sendo o "des" prefixo de negação facilmente se concluía que o casal visado não tinha alma. Nem um, nem outro. Será possível que dois humanos desprovidos de alma sintam e usufruam de tão nobre sentimento como é o amor? - interroguei-me. Mais tarde, enquanto tomava a minha bica, ainda matutava naquela intrigante expressão, pelo que me fui ao dicionário que por acaso até estava ali mesmo à mão.
Desalmadamente: brutalmente/ ferozmente/ perversamente, reza o De Moraes. Cá estava a explicação. Inclusivamente a explicação para a zanga do casal.
A.M.

sábado, 4 de outubro de 2008

Enviando um foguetão para o espaço

Condicionado pelas alarmantes notícias sobre segurança com que somos bombardeados todos os dias, já não tenho vida própria.
Não abro a porta da rua sem me certificar através do sistema vídeo, entretanto montado à pressa, quem é o mânfio que toca à campainha; à noite, não me deito sem vasculhar todos os quartos e armários para confirmar que não há invasores; a minha mulher de pistola aperrada, com ordem para atirar a matar segue-me na vistoria; durante a noite, ao mais pequeno ruído, acordo em sobressalto e vou ajustar trancas e fechaduras; pela manhã, saio para a bica da praxe, mas vou munido do meu velho apito e agora também de um spray paralisante; tomo muita atenção a possíveis sinais que os gatunos têm a mania de pintar nos umbrais das portas para assinalar que o momento é favorável e espeto-lhe logo uma pintura em cima, que se lixam; ainda bem que as portas do carro se trancam automaticamente logo que começamos a andar pois podia-me esquecer de o fazer e nos primeiros sinais, tumba, era assaltado. Eh pá, eu sei lá!
Normalmente não ando com mais de dois euros no porta-moedas e para alguma compra que os exceda meto uma nota de cinco dentro do sapato. Suspeitando que a tipa que me telefona para oferecer um serviço de banda larga mais em conta é agente de qualquer bando criminoso, dou um nome falso. Mas como não tomo atenção ao número de vezes que isso acontece, outro dia uma funcionária disse-me:
- Oh Sr. Mata deixe-se de brincadeiras. Desse número já me respondeu o Epifânio da Silva, o Jeremias Falcato e o Miguel Cervantes. Eu sei que é o senhor. Vá lá, temos aqui um belo pacote de canais de TV a preços reduzidos.
Outro dia fui assaltado mesmo à porta de casa por duas mulheres. Quando uma delas se inclinou para abrir a pastinha que trazia consigo, assustei-me, julguei que ia sair revólver. Afinal apontou-me uma colorida brochura das Testemunhas de não sei quê, que pensando bem, não é arma que se aponte a ninguém dada a sua
perigosidade.
Agora avisam-me que o perigo vem pela Net.Até apelidam de louco quem não usa meia dúzia de pseudónimos. Que até o pentágono é assaltado, acrescentam. Dão cabo das redes de comunicações, invadem os ficheiros secretos, bloqueiam os serviços de segurança, é o demónio à solta!Eu sei que não tenho a importância do pentágono, mas sei lá, podem tomar-me por um quadrado ou mesmo um triângulo e violarem a minha lista de endereços ou o meu livrinho de notas pessoais. Sabe-se lá!
Bem, pelo menos, rectifiquei uma ideia que tinha. Julgava que estava a ficar maluco e afinal maluco é quem não se cuida. Por isso vou já a correr arranjar meia dúzia de pseudónimos.
Porreiro, pá!

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

O Negócio da Morte


Tenho andado a fugir de falar em mortos desde que apareceram por aqui uns caixões.Bem bonitos por sinal. Creio, porque os americanos não brincam em serviço, que sejam feitos de material biodegradável, excepto, claro está, que se destinem a ficar no mausoléu da família.
Vem agora Laranjalima "desenterrar" outra vez os caixões para especular sobre o peso da alma e vai daí, aguilhoado pela insistência, dou continuidade ao tema deixando ao vosso critério avaliar da seriedade com que o faço.
Naquela época a miudagem da escola arrepiava-se toda quando ouvia contar que fulano ou sicrano já tinha mandado fazer um caixão à sua medida e que colocado em pé ao lado do guarda-vestidos aguardava o momento de ser usado.A gente não conseguia compreender como é que podia haver alguém que conseguia dormir com um objecto daqueles no quarto e levámos muito tempo para perceber que, afinal, essas pessoas só conseguiam dormir descansadas depois de deixarem tudo arrumado, principalmente a sua entrada no outro mundo. Era por isso natural ouvir a nossa avó dizer que já tinha a roupinha que devia levar vestida na ocasião,arrumadinha na última gaveta da cómoda do seu quarto. E o lençol e os sapatinhos também.
Só muito mais tarde, já com penugem nos queixos, consegui avaliar que apesar de tudo havia uma evolução positiva.
Tempos houveram, afinal, em que os caixões tinham dois buracos no sítio dos olhos do morto para ele poder ver a luz do dia, ou que alguns até tinham uma saída falsa para poderem ir dar uma volta.
Ao perceber-me que isto era uma evolução e não uma involução desatei a acelerar. Foi nessa altura que li um livro de ficção que tinha alguma coisa a ver com este assunto.Tratava-se de uma sociedade racional, isto é, vivia á base da razão. Entre muitos "disparates", havia um procedimento, que há luz do conhecimento actual era tão premonitório como foram "As 20.000 léguas submarinas" do querido e inesquecível Júlio. Em todos os bairros de todas as cidades havia instalações próprias para onde as pessoas se dirigiam muito natural e calmamente, quando entendiam que já não tinham mais utilidade para a sociedade. Faziam uma festa de despedida com a família e lá iam com um sorriso nos lábios entregar-se nas mãos dos técnicos devidamente qualificados que os ajudavam a ir desta para melhor.
Dou-me agora conta de ter usado "ir desta para melhor", dito popular revelador de que as coisas por cá já andavam tão mal que mesmo desconhecendo o que se passava do outro lado, entendiam que não podia ser pior. Também me estou a dar conta que se é verdade que os índios já encaravam a morte com a naturalidade que é mostrada no anúncio e algumas sociedades africanas fazem há séculos três dias de festa com o morto sentado num tronco assistindo ao farrobodó, o que deve haver é uma involução, já que os americanos, com a mania de servirem copos e salgadinhos nos velórios, não fazem mais do que contribuir para a racionalização da coisa mais natural do mundo – a morte! Tão natural que faz parte da própria vida – sem uma não haveria a outra.Tal e qual como comer.
Assim, é tão espontâneo o florescimento do comércio de “comes e bebes” como o de caixões.Bem, acontece, que as funerárias apercebendo-se que cada vez há mais pessoas a pedirem para ser assadas, ou cremadas, ou lá o que é, já introduziram as urnas de todos os géneros, tanto para se biodegradarem dentro de água como no chão do quintal debaixo da nespereira. Afinal não fazem mais do que estar atentas ao evoluir das tendências do mercado.
Em Itália, por exemplo, as mesmas gajas boas que promovem os Ferraris, estirando-se languidamente sobre o capot daquelas super máquinas, acumulam outra actividade projectando as suas belas e contornadas formas no comércio dos caixões.
Tudo muito natural, tudo prá frentex!
Por mim tudo bem. A minha mulher já me disse:
- Afinal ainda não disseste se querias ser cremado ou enterrado.
- Caramba – digo eu – quero lá saber o que vocês fazem com a matéria que de qualquer modo vai ser apenas pó. Pisem-me todo e cortem-me às postas para dar mais arrumação.
Afinal se alguma coisa sobrasse só podiam ser aqueles 21 gramas de espírito, que em Marte pesariam muito menos e no espaço etéreo não teriam peso nenhum.
A.M.